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Wirecard: dos relatórios inflados à dissolução absoluta e outros detalhes que a Netflix te conta

Wirecard: dos relatórios inflados à dissolução absoluta e outros detalhes que a Netflix te conta

A Wirecard foi uma processadora de pagamentos alemã que por algum tempo chegou a ser considerada como a companhia mais disruptiva do país.

A empresa tinha negócios nos Estados Unidos, Europa e Ásia, mas seus empreendimentos foram classificados como fraudulentos.

Por algum período conseguiu cativar seus investidores utilizando relatórios financeiros inflados, cuja auditoria externa jamais conseguiu confirmar.

Enquanto esteve no topo, alcançou a primeira posição no DAX, um índice de ações que representa as 30 maiores empresas negociadas na bolsa de Frankfurt.

Para chegar lá, desbancou instituições financeiras como o Commerzbank, atualmente na terceira posição entre os principais bancos do país.

A Wirecard se posicionava, à época, como uma empresa de software que acabou gerando uma espécie de banco por meio de suas operações.

A companhia começou a ver seus negócios serem questionados quando o Financial Times publicou evidências de que seus números estavam maquiados.

Para se defender, recorreu a autoridades do sistema financeiro alemão, bem como a recursos somente vistos no submundo: espionagem.

Tudo isso, e mais um pouco, consta de um documentário que está disponível na Netflix. A empresa de streaming traz para seu público uma investigação cheia de detalhes. Trata-se, na verdade, da reprodução da apuração jornalística do FT.

As reportagens de Paul Murphy (editor) e Dan McCrum (repórter) acabaram sendo premiadas anos depois, inclusive dentro da própria Alemanha, onde a imprensa local e autoridades políticas tentaram desacreditar o periódico, se posicionando em favor da processadora de pagamentos.

Mas, como nem só de louros vive o jornalismo, os dois experientes repórteres chegaram a ser colocados na “geladeira”, visto que no decorrer da apuração, utilizaram como fonte um agente do mercado financeiro: um investidor a descoberto. Isso gerou algum mal-estar.

Acontece que um investidor a descoberto é alguém que aposta na queda das ações de uma empresa. Ou seja, ele estuda e se prepara para o recuo daquela organização e, assim, ganha seu dinheiro de um suposto revés corporativo.

A Wirecard se defendeu, à época, dizendo que tanto investidores quanto jornalistas estavam mancomunados contra a companhia para, assim, auferir lucro. O FT começou a ser achincalhado nas redes sociais, com supostos traders pedindo a “degola” dos repórteres.

Mas isso somente acontecia por parte daqueles que estavam fora do mercado de capitais oficial, ou seja, investidores autônomos. Do lado de “dentro”, gestoras, fundos e analistas sempre tiveram um “pé atrás” com a referida empresa.

Isso porque nos primórdios de suas operações, ela estava inserida em um segmento não muito respeitado: jogos de azar e prostituição.

Além disso, alguns braços da organização foram relacionados a movimentos políticos e até de terrorismo. O resultado final da apuração do FT acaba com o CEO da companhia preso e o diretor financeiro foragido. Inclusive, ele está desaparecido até hoje.

Imagem mostra Markus Braun, CEO da Wirecard
Imagem mostra Markus Braun, CEO da Wirecard; fonte: internet

Wirecard queria ser uma espécie de Apple

Uma empresa é formada – e tem a forma – das pessoas que a constituem, principalmente daquelas que estão na linha de frente do negócio. A Wirecard, porém, tinha uma cara própria, mas tentava se parecer com outro rosto conhecido.

Isso porque seu CEO, à época, Markus Braun, se vestia como o imortalizado fundador da Apple, Steve Jobs. Acontece que era bastante comum vê-lo nas apresentações da empresa sempre com uma camisa escura e, alternadamente, uma camisa escura de gola alta.

No ambiente da tecnologia isso é até muito comum. Quem se interessa por empresas disruptivas chinesas verá muito esse “teatro”. Basta observar as apresentações iniciais dos executivos da Xiaomi, uma companhia de aparelhos de telefonia celular. Inclusive, a empresa por vezes foi acusada de copiar a tecnologia da companhia da maçã. A Oppo também.

Acontece que existe uma linha tênue entre admiração e espionagem industrial, mas isso é assunto para os órgãos reguladores. Onde a disputa é altamente acirrada, sempre haverá excessos por parte de quem quer que seja. Que o diga as próprias companhias norte-americanas e seus visionários-fundadores. O cinema também os retrata.

E por falar em Markus Braun, ele foi acusado formalmente de manipulação de mercado e de falsa demonstração das contas financeiras da empresa. O executivo tenta se defender alegando que também foi vítima, e joga a culpa em cima do ex-diretor financeiro Jam Marsalek.

Inclusive, se a arte imita a vida, Marsalek é o personagem ideal, pois surgiu do nada e foi em direção ao obscuro. O documentário informa que ele possivelmente era um espião a serviço da Rússia, mas também atendia partidos políticos com interesse em conter a onda de imigrantes.

Muitas evidências apontam para isso, inclusive o fato de escritórios de inteligência e agências de espionagem terem interesse constante em executivos financeiros do alto escalão. Por meio destes profissionais, se consegue monitorar oligarcas, empresários e autoridades políticas, ao menos da perspectiva financeira.

Isso porque tudo o que se faz com a utilização de um cartão e uma processadora de pagamentos acaba deixando rastros. Essa é, inclusive, a tese que embasa uma possível fuga de Marsalek para Cingapura e depois China, ou seja, passagens compradas.

Acontece que não há registro da entrada dele em nenhum desses países, o que causa certa estranheza, visto que tudo aconteceu durante o auge da pandemia de coronavírus e as restrições de entrada e saída estavam reforçadas.

Uma outra teoria diz que ele pagou alguns mil euros em dinheiro e partiu da Suíça em um jatinho particular em direção a uma cidade próxima a Moscou, na Rússia. Desde então, está desconectado da internet e supostamente nunca mais foi visto.

Caso ele volte a aparecer, há um pedido de entrevista por parte do FT, de maneira que ele possa se defender e dar a sua versão da história, mas isso é pouco provável.

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