O mercado de Treasuries dos Estados Unidos, tradicionalmente visto como um porto seguro em tempos de incerteza, surpreendeu os investidores ao registrar uma forte onda de vendas nos últimos dias.
O movimento elevou os rendimentos dos títulos do tesouro americano de 10 anos para 4,59% na última sexta-feira (11), o maior patamar desde fevereiro, e levou os papéis de 30 anos ao maior nível desde novembro de 2023.
O curioso é que esse comportamento contraria a lógica de mercado: em momentos de turbulência, como o que foi provocado pelas novas tarifas anunciadas (e depois suspensas) pelo presidente dos EUA Donald Trump, o esperado seria uma corrida em direção aos ativos mais seguros — e não o oposto.
A questão que fica é: quem está vendendo títulos do Tesouro americano?
China estaria “armando” sua carteira?
A China, segunda maior credora dos EUA, com cerca de US$ 760 bilhões em Treasurys, é uma das principais suspeitas.
Em entrevista ao portal americano CNBC, o estrategista Chen Zhao, da Alpine Macro, aponta que o país asiático estaria deliberadamente vendendo seus títulos e convertendo os recursos em euros ou títulos alemães, uma forma sutil de retaliação frente à tensão comercial entre as duas principais economias do mundo.
A estratégia faz sentido em meio às tensões comerciais, mas vem com riscos. Como destacou Michael Pettis, do Carnegie Endowment, também para o CNBC, uma venda acelerada poderia depreciar os títulos ainda mantidos pela China, gerando prejuízos ao próprio país.
Além disso, esse movimento poderia fortalecer o yuan, dificultando os esforços do governo chinês para estimular as exportações e a atividade econômica interna.
Japão: o outro gigante em silêncio
Com mais de US$ 1,1 trilhão em títulos do Tesouro americano, o Japão é o maior credor externo dos EUA. Apesar de o governo japonês negar qualquer intenção de venda, analistas apontam que o verdadeiro poder está nas mãos de seguradoras privadas, como a Nippon Life.
Essas instituições, preocupadas com possíveis mudanças na política econômica dos EUA, poderiam estar reduzindo exposição aos Treasurys de forma independente.
Além da Ásia, investidores europeus — especialmente fundos de pensão — teriam aproveitado os rendimentos elevados dos papéis americanos para realizar lucros e migrar para ativos com menor volatilidade, como títulos europeus.
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Hedge funds e os “vigilantes dos títulos”
Outro grupo apontado como vendedor relevante são os hedge funds. Estratégias conhecidas como basis trades — que envolvem arbitragem entre títulos e futuros — podem ter sido desfeitas após chamadas de margem, forçando liquidação de posições.
Também há os chamados bond vigilantes, investidores atentos ao descontrole fiscal. Eles tendem a abandonar ou vender papéis do governo quando percebem riscos inflacionários ou políticas econômicas inconsistentes — o que teria sido o caso com as recentes medidas propostas por Trump.
Para entender a dimensão desse movimento, vale observar a lista dos principais detentores estrangeiros de títulos do Tesouro americano (valores aproximados):
- Japão: US$ 1,1 trilhão
- China: US$ 850 bilhões
- Reino Unido: US$ 750 bilhões
- Luxemburgo: US$ 400 bilhões
- Ilhas Cayman: US$ 350 bilhões
- Bélgica: US$ 330 bilhões
- Canadá: US$ 300 bilhões
- França: US$ 280 bilhões
- Irlanda: US$ 270 bilhões
- Suíça: US$ 260 bilhões
- Taiwan: US$ 250 bilhões
- Hong Kong: US$ 240 bilhões
- Singapura: US$ 220 bilhões
- Índia: US$ 210 bilhões
- Brasil: US$ 200 bilhões
- Noruega: US$ 130 bilhões
- Arábia Saudita: US$ 120 bilhões
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