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Trump vai mudar a receita da Coca-Cola? Entenda

Trump vai mudar a receita da Coca-Cola? Entenda

A declaração de Donald Trump sobre a mudança na fórmula da Coca-Cola nos Estados Unidos reacendeu debates sobre saúde pública, indústria alimentícia e política comercial. Em uma publicação na Truth Social, o presidente afirmou que a Coca-Cola “concordou em usar açúcar de cana” em vez de xarope de milho, hoje o adoçante padrão nos refrigerantes vendidos no país. Trump agradeceu aos executivos da empresa e garantiu: “É simplesmente melhor!”.

Apesar de a Coca-Cola não confirmar oficialmente a mudança, a empresa reconheceu o “entusiasmo do presidente Trump” e prometeu divulgar mais detalhes em breve. A fala de Trump vem alinhada com a agenda de Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde dos EUA, que tem pressionado empresas a abandonar ingredientes como o xarope de milho, associado a diversos problemas de saúde.

De saúde pública à geopolítica do açúcar

A ideia de substituir o xarope de milho por açúcar de cana está longe de ser uma simples questão de sabor. O impacto potencial é amplo. Para a indústria agrícola americana, o movimento seria uma bomba. “Substituir o xarope de milho com alto teor de frutose por açúcar de cana custaria milhares de empregos americanos na fabricação de alimentos, reduziria a renda agrícola e aumentaria as importações de açúcar estrangeiro, tudo isso sem nenhum benefício nutricional”, alertou John Bode, presidente da Associação de Refinadores de Milho. Além disso, haveria aumento de importações e queda de renda agrícola.

E os EUA não são autossuficientes em cana-de-açúcar. Apesar de serem o quinto maior produtor mundial, país consome muito mais do que produz. Hoje, entre 20% e 30% da cana consumida é importada. Só em 2023, as importações somaram US$ 2,2 bilhões, sendo o Brasil o segundo maior fornecedor, com pouco mais de 20% desse total.

Brasil na linha de frente

A mudança pode parecer positiva para exportadores brasileiros, mas há um risco real de contradição. Ao mesmo tempo em que precisaria aumentar suas importações, os EUA têm aplicado tarifas sobre o açúcar estrangeiro, inclusive do México — seu principal fornecedor — e do Brasil. Essa política protecionista contradiz a possível nova demanda gerada pela decisão da Coca-Cola.

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Ou seja, os EUA podem acabar se prejudicando com a própria mudança que Trump propõe. Se realmente quiserem adoçar sua Coca com cana, terão que importar mais — e, para isso, rever tarifas ou pagar caro. Caso contrário, a promessa pode virar apenas mais um gesto simbólico em meio à corrida eleitoral, sem efeito prático.

Diet Coke e o paradoxo do botão

Curiosamente, o próprio Trump é fã declarado da Diet Coke, que usa aspartame, um adoçante artificial também sob escrutínio de autoridades de saúde. Durante sua presidência, chegou a instalar um botão no Salão Oval só para pedir o refrigerante.

A mudança na fórmula da Coca tradicional pode ser um aceno populista em uma agenda de saúde nacional, como o movimento “Make America Healthy Again” defendido por Kennedy Jr., mas ainda precisa enfrentar a dura realidade dos interesses econômicos.

Se a Coca-Cola vai mesmo mudar a receita nos EUA, resta ver se será por convicção, pressão política ou apenas marketing. Uma coisa é certa: o sabor da discussão é forte e está longe de ser doce.