O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, declarou nesta sexta-feira (9) que uma tarifa de 80% sobre produtos da China “parece certa”, em uma postagem nas redes sociais que reacendeu a tensão em torno da política comercial entre Washington e Pequim.
A fala ocorre às vésperas de uma nova rodada de negociações entre representantes dos dois países, marcada para este fim de semana na Suíça.
“A tarifa de 80% sobre a China parece certa! A decisão é do Scott B”, escreveu Trump, fazendo referência ao secretário do Tesouro, Scott Bessent, que participará das conversas com autoridades chinesas.
Tarifa EUA x China: rumores indicavam corte de 50% nas tarifas
A sinalização de uma tarifa tão elevada surpreende o mercado e contradiz os rumores que circulavam nas últimas horas. Até o início desta sexta-feira, a imprensa americana especulava que o governo Trump estaria se preparando para cortar pela metade as tarifas de importação de 145% atualmente aplicadas a diversos produtos chineses. Reportagem do New York Post chegou a afirmar que o corte poderia ser anunciado na próxima semana, reduzindo as tarifas para uma faixa entre 50% e 54%.
Além da China, países do sul da Ásia também estariam na fila para possíveis reduções tarifárias, podendo alcançar níveis de até 25%.
“Vão cortar para 50% durante as negociações”, disse uma fonte próxima ao governo ao New York Post. A mesma fonte mencionou que Trump havia dado sinais nesse sentido durante o recente anúncio de um acordo comercial com o Reino Unido, afirmando que as tarifas “só podem cair”.
As expectativas vinham sendo construídas com base em reuniões anteriores do presidente com CEOs de grandes varejistas como Walmart, Target e Home Depot, realizadas no mês passado na Casa Branca. Jay Foreman, CEO da fabricante de brinquedos Basic Fun, afirmou que o número de 54% surgiu como ponto-chave para liberar embarques chineses. “Muitos varejistas já trabalham com diferentes faixas tarifárias em seus orçamentos, se preparando para qualquer cenário”, disse.
A atual tarifa de 145% é vista como um entrave significativo para o setor varejista e para a indústria americana, especialmente em períodos de alto consumo, como as festas de fim de ano. Um brinquedo como o tradicional caminhão Tonka, por exemplo, que custaria US$ 29,99 sem tarifa, chega a US$ 79,99 com a taxa atual. Com uma tarifa de 54%, o preço seria de US$ 49,99.
Taxa atual é insustentável, diz Scott B.
O próprio secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou recentemente que a taxa atual “não é sustentável”. O Tesouro, segundo fontes, tem recebido contatos frequentes de países do Sudeste Asiático interessados em aproveitar o possível realinhamento comercial dos EUA com a China.
Apesar da declaração de Trump, ainda não há confirmação oficial de mudanças na política tarifária. O porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, afirmou que qualquer decisão sobre tarifas depende exclusivamente do presidente. Analistas do setor, porém, dizem que a fala pública de Trump pode ter mais peso político do que efeito prático imediato.
No setor portuário, há expectativa de desdobramentos positivos após as conversas na Suíça. “As esperanças são grandes, mas será necessário um sinal claro para que exportadores possam ajustar seus planos”, disse Noel Hacegaba, diretor executivo do Porto de Long Beach.
Com cerca de 80% dos brinquedos vendidos nos Estados Unidos sendo fabricados na China, o setor permanece vulnerável e atento a cada sinal vindo da Casa Branca. “O comportamento dos varejistas mudou desde a última reunião em Washington. Eles estão mais confiantes, mas ainda cautelosos”, concluiu Gerald Storch, ex-CEO da Toys R Us.