Rússia e Ucrânia retomaram nesta sexta-feira (16), em Istambul, na Turquia, as negociações por um acordo de paz — a primeira tentativa oficial de diálogo desde o início da guerra, em 2022. O clima, porém, é de ceticismo, e o encontro acontece sem a presença dos presidentes Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, o que reduz o peso político das conversas.
O que poderia ser um marco diplomático virou símbolo da desconfiança entre os países. Zelensky desistiu da viagem após saber que Putin não compareceria. O presidente russo, por sua vez, recuou depois de ser desafiado publicamente por seu rival ucraniano.
As delegações refletem o tom morno da reunião. A equipe russa é liderada por Vladimir Medinski, ex-ministro da Cultura e conselheiro próximo de Putin, mas sem peso político no atual governo. Moscou enviou apenas vice-ministros, assessores e porta-vozes, sem nomes do alto escalão.
Já a comitiva ucraniana conta com figuras mais relevantes, como o chefe de gabinete de Zelensky, Andriy Yermak, além dos ministros da Defesa e das Relações Exteriores. Kiev levou à mesa a exigência de um “cessar-fogo incondicional”, proposta que Moscou continua rejeitando.
Negociação Rússia e Ucrânia: mediação turca e pressão dos EUA
A mediação é conduzida pelo ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, com presença de diplomatas americanos, incluindo o secretário de Estado, Marco Rubio.
Cético, Rubio afirmou que não tem “grandes expectativas” e criticou a ausência de autoridades russas com poder de decisão.
O presidente dos EUA, Donald Trump, que tem pressionado pessoalmente por um cessar-fogo, declarou que pode viajar a Istambul se houver progresso. “Nada vai acontecer até que eu e Putin nos encontremos”, disse.
Troca de ofensas evidencia impasse
O ambiente em Istambul é tenso. Zelensky chamou a delegação russa de “fachada”, acusando Moscou de encenar negociações. Em resposta, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, atacou o presidente ucraniano com xingamentos, chamando-o de “palhaço” e “fracassado”.
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Posições continuam distantes
Mesmo após mais de três anos de guerra, as exigências de ambos os lados seguem incompatíveis. A Rússia quer que a Ucrânia abandone o plano de entrar na OTAN e reconheça a anexação de regiões ocupadas. Já Kiev exige garantias de segurança ocidentais e a retirada total das tropas russas, que controlam cerca de 20% do território ucraniano.
O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, se disse “cautelosamente otimista”, mas ressaltou que o avanço depende da disposição do Kremlin. “A bola está claramente com a Rússia”, afirmou.