O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,8% no terceiro trimestre de 2025, acima da projeção de 1,7% do mercado, apoiado principalmente pelo avanço da Agropecuária. Mas, apesar da surpresa positiva na comparação anual, os dados apontam para uma desaceleração clara da economia ao longo do segundo semestre.
Na passagem do segundo para o terceiro trimestre, o PIB registrou alta de apenas 0,1%, abaixo das expectativas e sinalizando perda de dinamismo. O consumo das famílias também avançou somente 0,1%, enquanto os investimentos só cresceram por causa de um efeito pontual de contabilização de plataformas, segundo o IBGE — sem esse fator, a Formação Bruta de Capital Fixo teria mostrado desempenho ainda mais fraco.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, a economia brasileira “desacelerou no segundo semestre”, e o terceiro trimestre reforça essa tendência. Ele destaca que tanto o consumo quanto o investimento “vêm patinando” em um ambiente de juros elevados, com a Selic em 15%, o que restringe a atividade.
“O resultado de 0,1% veio exatamente em linha com nossas projeções — é um trimestre de crescimento fraco”, afirma.
Agro impulsiona crescimento anual; Indústria e Serviços avançam
O crescimento anual de 1,8% foi sustentado principalmente pelo desempenho da Agropecuária, favorecida por aumentos relevantes nas safras de milho (+23,5%), laranja (+13,5%), algodão (+10,6%) e trigo (+4,5%). Já a cana-de-açúcar recuou 1%.
A Indústria avançou 1,7% na comparação anual, puxada pelas indústrias extrativas, que cresceram 11,9% com o aumento da extração de petróleo e gás. A Construção também teve alta (2%), apoiada pela maior ocupação e massa salarial.
Nos Serviços, houve expansão de 1,3%, com altas em Informação e comunicação (+5,3%), Transporte (+4,2%) e Atividades imobiliárias (+2%).
Trimestre mostra tração moderada, com estabilidade nos Serviços
Na variação frente ao trimestre anterior, o PIB ficou praticamente estável (+0,1%). Pela ótica da produção, a Agropecuária (+0,4%) e a Indústria (+0,8%) mostraram avanço, enquanto os Serviços (+0,1%) não registraram variação significativa.
Dentro da Indústria, cresceram:
- Indústrias extrativas: +1,7%
- Construção: +1,3%
- Indústrias de transformação: +0,3%
O único recuo veio de Eletricidade e gás, água, esgoto e gestão de resíduos (-1%).
Nos Serviços, os principais crescimentos foram em Transporte (+2,7%) e Informação e comunicação (+1,5%). Atividades financeiras caíram 1%.
Demanda interna cresce com consumo das famílias e investimento
Pela ótica da despesa, destacam-se:
- Consumo das Famílias: +0,1%
- Consumo do Governo: +1,3%
- Formação Bruta de Capital Fixo: +0,9%
A alta do investimento trimestral reflete aumento na Construção, importação de bens de capital e desenvolvimento de software.
No setor externo, as Exportações subiram 3,3% no trimestre, enquanto as Importações avançaram 0,3%.
PIB soma R$ 3,2 trilhões no trimestre; taxa de investimento vai a 17,3%
O PIB atingiu R$ 3,2 trilhões entre julho e setembro, com R$ 2,8 trilhões em Valor Adicionado e R$ 449,3 bilhões em Impostos.
A taxa de investimento ficou em 17,3% do PIB, ligeiramente abaixo do mesmo período de 2024 (17,4%). A taxa de poupança, de 14,5%, repetiu o patamar de um ano antes.
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Atividade acumula alta de 2,7% em quatro trimestres
Nos quatro trimestres encerrados em setembro, o PIB cresceu 2,7%, impulsionado por:
- Agropecuária: +9,6%
- Indústria: +1,8%
- Serviços: +2,2%
Pelo lado da demanda, houve expansão no consumo das famílias (+2,1%), consumo do governo (+1,2%) e investimentos (+6%).
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, o resultado do PIB do terceiro trimestre reforça o cenário de desaceleração da atividade já esperado pela casa. Segundo ele, a alta de 0,1% veio “exatamente em linha” com as projeções da EQI Asset — e indica um quadro de crescimento fraco tanto no trimestre quanto para o restante do ano.
Kautz afirma que o quarto trimestre também deve repetir um avanço modesto, próximo de 0,1%, consolidando uma trajetória de perda de tração da economia no segundo semestre. Na comparação anual, o economista destaca que a expansão próxima de 1,7% confirma a tendência de um crescimento abaixo de 2% para 2025, movimento que deve se prolongar para o ano que vem.
O economista chama atenção para a composição do PIB:
- Consumo das famílias avançou apenas 0,1%, refletindo a mesma fraqueza do dado agregado;
- Investimentos vieram aquém do esperado e só não foram ainda mais fracos devido ao impacto pontual da contabilização de plataformas — sem esse efeito, o recuo seria mais evidente.
Para ele, a leitura do trimestre “corrobora a visão de que consumo e investimento vêm patinando”, pressionados pelo ambiente de juros elevados, com a Selic a 15%.
“Juros altos obviamente acabam influenciando e afetando a atividade econômica — que foi justamente o objetivo do Banco Central ao conduzir o aperto monetário”, conclui Kautz.
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