Na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que decide juros nesta quarta-feira (19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a fazer duras críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Em entrevista à rádio CBN na manhã desta terça-feira (18), Lula afirmou que a atuação da autoridade monetária está “desajustada” e que seu presidente não demonstra “nenhuma capacidade de autonomia”, mas sim um “lado político” e um esforço em “prejudicar o país”.
Para justificar a “preferência política” Lula citou um jantar promovido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para Campos Neto. Nos bastidores, especula-se sobre um possível convite para que o atual presidente do BC ocupe o Ministério da Fazenda caso Tarcísio dispute a presidência da República em 2026 e vença.
“Nós só temos uma coisa no Brasil desajustada nesse instante: o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou Lula.
Lula critica Campos Neto: Para onde vai a Selic
A Selic está atualmente em 10,50% ao ano. Mas o mercado se divide entre os que esperam mais uma redução de 25 pontos-base e os que projetam manutenção dos juros.
“Nosso cenário base é de corte, mas as incertezas aumentaram muito no cenário doméstico e não seria surpresa uma estabilidade na taxa”, diz Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.
Questionado sobre a possibilidade de manutenção da Selic em 10,5%, Lula disse achar “muito triste”.
“O Brasil não precisa disso. Temos uma situação que não necessita essa taxa de juros. O Brasil não pode continuar com uma taxa de juros proibitiva de investimento no setor produtivo. Como você vai convencer um empresário a fazer investimento se ele tem que pagar uma taxa de juros absurda? Então, é preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação”, continuou Lula.
“A inflação está totalmente controlada. Agora ficam inventando discursos de inflação do futuro, que vai acontecer. Vamos trabalhar em cima do real. Realmente, o Brasil está vivendo um bom momento. A economia está andando, os empregos estão crescendo, o salário está crescendo, a inflação está caindo. O que mais nós queremos? O que mais queremos é atrair mais investimentos para o Brasil e que o Banco Central se comporte na perspectiva de ajudar esse país e não de atrapalhar o crescimento do país”, disse.
Presidente do BC foi indicado por Bolsonaro
Com a autonomia legal do Banco Central, Lula é o primeiro presidente a ter um governo em que o comandante da autoridade monetária foi indicado pelo antecessor. O petista só poderá escolher um novo presidente para a instituição no fim do ano, quando termina o mandato de Campos Neto. Nos bastidores, o nome de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC, é visto como favorito.
“Eu vou escolher um presidente do Banco Central que tenha compromisso com o desenvolvimento deste país, com o controle da inflação, mas que também tenha em mente que não devemos focar apenas no controle da inflação. Precisamos também de uma meta de crescimento. É o crescimento econômico e o crescimento da massa salarial que permitirão controlar a inflação com certa tranquilidade”, destacou.
“Quando eu tiver que escolher o presidente do Banco Central, será uma pessoa madura, calejada, responsável. Alguém que respeite o cargo que exerce e que não se submeta a pressões de mercado. Alguém que faça o que for de interesse dos 203 milhões de brasileiros”, complementou.
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