O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto caiu 0,11%, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira (10). O consenso era por recuo maior, de 0,16%. Esse resultado representa a primeira deflação desde agosto de 2024 e a mais intensa desde setembro de 2022, quando o indicador havia recuado 0,29%.

Na comparação anual, o IPCA acumulado em 12 meses passou de 5,23% para 5,13%, ficando ligeiramente acima da expectativa do mercado, que projetava 5,09%. No acumulado do ano, o índice soma alta de 3,15%. A deflação registrada em agosto contrasta com a inflação de 0,26% observada em julho, reforçando o impacto dos principais grupos de consumo.

Habitação e energia elétrica lideram a queda
O grupo Habitação foi o principal responsável pela queda do índice, com retração de 0,90%. O destaque ficou para a energia elétrica residencial, que apresentou redução de 4,21%, o maior impacto individual no mês (-0,17 ponto percentual). A queda está relacionada à incorporação do chamado “Bônus de Itaipu”, que compensou os custos adicionais da bandeira tarifária vermelha patamar 2.
Esse movimento trouxe o menor resultado para o grupo habitação em um mês de agosto desde o início do Plano Real, em 1994. As variações regionais também refletiram reajustes distintos nas tarifas de energia em capitais como São Luís, Vitória, Belém e São Paulo.
Alimentação e transportes também recuam
Outro fator de peso foi o grupo Alimentação e bebidas, que caiu 0,46% em agosto, acumulando o terceiro mês seguido de deflação. A alimentação no domicílio foi a principal responsável, com redução de 0,83%, puxada pela maior oferta de produtos como tomate (-13,39%), batata (-8,59%), cebola (-8,69%), arroz (-2,61%) e café moído (-2,17%). Já a alimentação fora de casa desacelerou, mas manteve alta de 0,50%.
O grupo Transportes também contribuiu para o resultado negativo, recuando 0,27%. Nesse caso, as passagens aéreas caíram 2,44%, reflexo do fim das férias escolares, enquanto os combustíveis tiveram retração média de 0,89%. A gasolina, item de maior peso, recuou 0,94%, garantindo o segundo impacto mais relevante no índice do mês.
Outros grupos apresentam altas moderadas
Apesar da deflação geral, alguns setores registraram aumento de preços. Educação avançou 0,75%, influenciada pelos reajustes em cursos regulares e cursos de idiomas. Saúde e cuidados pessoais subiu 0,54%, com destaque para planos de saúde e produtos de higiene. Vestuário apresentou alta de 0,72%, impulsionado por roupas masculinas e calçados.
Essas altas, no entanto, não foram suficientes para reverter o impacto negativo vindo dos grupos de maior peso. O índice de difusão — que mede a proporção de itens com aumento — subiu de 50% em julho para 57% em agosto, mostrando que, apesar da deflação, uma parcela relevante de produtos e serviços ainda registrou alta de preços.
IPCA e perspectivas
O resultado de agosto, em que o IPCA de agosto cai 0,11%, reforça o papel dos preços administrados, como energia e combustíveis, no comportamento do índice. Analistas apontam que, sem a influência de habitação, alimentação e transportes, o IPCA teria ficado em 0,43% no mês.
Além do IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), voltado para famílias de menor renda, também apresentou queda em agosto, de 0,21%. Esse comportamento sinaliza um alívio temporário para o orçamento das famílias, embora a inflação de serviços siga pressionada. O próximo resultado do IPCA será divulgado em 9 de outubro e trará novos indicativos sobre a trajetória da inflação no país.
Segundo o economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, a deflação registrada veio menor do que a esperada, principalmente devido ao comportamento dos produtos industriais.
“Nossa projeção apontava para uma deflação ainda mais intensa. A surpresa ficou concentrada em bens industriais, indicando que a deflação global desses produtos foi menos acentuada do que se previa. Já os segmentos de serviços e núcleos de inflação vieram dentro do esperado”, afirmou.
Kautz destacou que, embora o resultado geral tenha sido um pouco pior do que o projetado, a pressão ficou restrita aos bens industriais. “Não foi um dado tão ruim assim, considerando o desempenho estável de serviços e núcleos”, completou.
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