O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho registrou alta de 0,26%, segundo dados divulgados pelo IBGE. O resultado, embora ligeiramente acima de junho (0,24%), ficou abaixo das expectativas do mercado, que projetava 0,37%. No acumulado de 12 meses, a inflação medida pelo IPCA recuou de 5,35% para 5,23%, reforçando sinais de desaceleração.

Alimentação recua e ajuda a conter a inflação
O grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, registrou queda de 0,27% em julho, aprofundando a deflação observada em junho (-0,18%). O movimento foi puxado pela alimentação no domicílio, com destaque para as quedas expressivas da batata-inglesa (-20,27%), cebola (-13,26%) e arroz (-2,89%).
Por outro lado, a alimentação fora de casa acelerou para 0,87%, impulsionada principalmente pelos lanches, que subiram 1,90%. Mesmo assim, o recuo dos preços no consumo doméstico ajudou a suavizar o avanço do IPCA de julho, compensando altas em outros grupos.
Energia elétrica puxa alta no grupo Habitação
O grupo Habitação subiu 0,91% no mês, sendo fortemente influenciado pela alta de 3,04% na energia elétrica residencial. O aumento reflete reajustes tarifários em diferentes capitais, como São Paulo (10,56%) e Porto Alegre (1,48%), além da manutenção da bandeira tarifária vermelha patamar 1, que acrescenta R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos.
No acumulado do ano, a energia elétrica já subiu 10,18%, maior avanço para o período desde 2018, tornando-se o principal fator de pressão sobre a inflação.
Transportes e despesas pessoais também registram alta
O grupo Transportes teve alta de 0,35% em julho, influenciado pelo aumento nas passagens aéreas (19,92%). Já os combustíveis apresentaram queda de 0,64%, ajudando a evitar um avanço maior no índice.
Despesas pessoais subiram 0,76%, puxadas pelos jogos de azar, que tiveram reajuste de 11,17%. O grupo Saúde e cuidados pessoais também avançou (0,45%), com destaque para higiene pessoal (0,98%) e planos de saúde, que incorporaram reajustes autorizados pela ANS.
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Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, o resultado do IPCA divulgado hoje foi melhor do que o esperado, ficando abaixo do consenso de mercado.
Segundo ele, a principal surpresa veio da alimentação, que apresentou queda acima do previsto, seguida por recuo na gasolina. “Quando olhamos outros componentes, vemos bens industriais rodando muito próximos de zero, já refletindo a redução do IPI promovida pelo governo, com destaque para a queda nos preços de automóveis”, explicou.
O economista destacou que o segmento de serviços segue em patamar elevado, entre 0,45% e 0,50% ao mês, mas sem sinais de aceleração. “Com alimentação em queda e bens industriais também recuando, os núcleos de inflação mostram desaceleração. É uma composição boa, que ajuda o Banco Central a ficar mais convicto de uma melhora no cenário”, avaliou.
No entanto, Kautz pondera que o setor de serviços ainda é o “último obstáculo” para um alívio mais consistente da inflação, e sua desaceleração dependerá do ritmo da economia nos próximos meses. “Ajuda, mas ainda não é suficiente para o Banco Central iniciar um ciclo de corte de juros no curto prazo”, concluiu.
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