Quais os melhores investimentos com a mudança de governo? O que esperar do retorno do PT ao poder?
O que deve acontecer com a economia nos próximos meses e anos, para onde vai a inflação e a taxa de juros. A bolsa vai subir ou cair?
Para responder a todas essas questões Denys Wiese, head de renda fixa e Valter Manfro, head de operações estruturadas da EQI Investimentos, comandaram o “EQI Talks”.
A live teve o objetivo de descomplicar a análise dos possíveis cenários e a interpretação de como os investimentos devem se comportar em cada um deles.
Durante o encontro, a dupla abordou o que deve impactar o macroeconômico brasileiro e também as opções de investimentos para os próximos meses.
“Os mercados nas últimas semanas estão turbulentos, com bolsa caindo e dólar subindo. Vamos analisar o que está servindo como estopim para essa situação”, destaca Manfro.
Acompanhe agora os insights valiosos para os investidores que querem posicionar melhor sua carteira.
Governo Lula: como investir daqui para frente?
Para Denys Wiese, head de renda fixa da EQI Investimentos, a instabilidade do mercado nas semanas pós-eleições presidenciais vem refletindo a desconfiança sobre como o novo governo deve tratar as questões fiscais daqui para frente.
“O mercado apostava as fichas em um governo de centro, mais moderado com as contas públicas. No entanto, as primeiras semanas de transição mostraram que as coisas podem sair do controle”, pondera.
Ele explica que o mercado está temeroso diante do risco fiscal – que envolve a possibilidade do governo não conseguir honrar com seu planejamento financeiro.
“Vimos o mercado reagindo, com queda na bolsa e dólar em alta. Esse é o típico cenário de estresse, que afeta não apenas os investidores, mas sim, a economia como um todo, com impactos na renda, salário”, aponta o head.
O que o histórico PIB revela sobre o novo governo
Para dar início à análise do cenário macroeconômico, Wiese propõe estudo do retrospecto do comportamento do PIB (Produto Interno Bruto) nas últimas décadas.
Para isso, o especialista separou o dado em duas categorias: “PIB Potencial”, em azul no gráfico abaixo, e “PIB Efetivo”, selecionado na cor vermelha.
“PIB Potencial é o quanto nossa economia pode produzir. O olhar é de longo prazo, com foco na capacidade dos fatores de produção. Ele se baseia, entre outros fatores, na melhora no ambiente de negócios, na segurança jurídica e na desburocratização”, esclarece.
Na análise do gráfico, segundo o head, é possível ver que desde 2003, início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o PIB potencial estava em escala ascendente, com estagnação no início do governo Dilma Rousseff.
“Nesse período de elevação tivemos o superciclo de commodities, com entrada de dólares no Brasil. Além disso, a moeda americana estava desvalorizada, devido à guerra dos EUA contra o Afeganistão”, comenta.
Já o resultado do PIB Efetivo, que aponta a relação entre o consumo, investimentos, gastos do governo, importações e exportações, mostra no período analisado um resultado óbvio com pressões inflacionárias.
Isso porque, basicamente, esse indicador pode ser estimulado pelo incentivo ao consumo das famílias e pelos gastos do governo, o que confirma um olhar de curto prazo, conforme o explica o especialista.
“O governo que tem foco na geração do PIB Potencial, gera riqueza sustentável. Ao contrário, no PIB Efetivo, são geradas somente riquezas de curto prazo e inflação, o que ‘rouba’ toda a riqueza do que foi conquistado no período e cria o efeito de ‘voo de galinha’”, analisa.
Para entender a lógica do comportamento da economia nas últimas décadas, Wiese mostra um levantamento da variação do PIB Efetivo desde 1995, primeiro ano de governo de Fernando Henrique Cardoso, até o atual governo de Jair Bolsonaro.
“É possível ver que durante o governo Lula o Brasil cresceu mais que a média dos outros governos. Porém, hoje o mundo é outro. Não temos um superciclo de commodities e nem o dólar está desvalorizado. Dificilmente, tal feito será repetido”, observa.
Mudança de governo: quais as propostas do governo Lula?
Para basear o estudo sobre o impacto nos investimentos, os especialistas da EQI estudaram o plano de governo de Lula antes mesmo do resultado das eleições.
“Analisamos todas as diretrizes minuciosamente com o objetivo de identificar os setores da economia e os investimentos que se beneficiam em cada caso. A partir disso, já é possível identificar os pontos que devem gerar desequilíbrios”, comenta Denys Wiese.
Resumo do plano de governo de Lula
- O Estado como indutor do desenvolvimento;
- Maiores gastos públicos, direcionados para áreas prioritárias;
- Investimentos públicos em infraestrutura;
- Fomento ao mercado interno, com crédito barato;
- Fomento à indústria nacional, com crédito barato e política de proteção e de compras (pelo Estado) de produtos nacionais;
- Agenda ESG forte;
- Contrário às privatizações;
- Revogação de reforma trabalhista: volta da gratuidade da justiça trabalhista para o empregado;
- Outra reforma previdenciária, mais inclusiva;
- Melhoria da imagem e estabilidade institucional, evitar e acabar com a crise entre poderes através da conversa;
- Revogação do teto de gastos;
- Provável volta do imposto sindical;
- Fomento à construção civil e à habitação;
- Fomento ao Turismo;
- Fomento à Educação;
- Setores beneficiados com compras governamentais: saúde, energia, alimentos e defesa;
- Intervenção no mercado cambial (intenção de diminuir a volatilidade);
- Política de preços controlada de energia e fomento de produção de “bens de consumo críticos”: armas para o controle da inflação;
- Aumento da concorrência do setor bancário e desburocratização.
“Questões como o estado indutor do crescimento deixa o país mais pobre no longo prazo. Além disso, o crédito barato é um fator que gera inflação e o protecionismo à indústria causa uma industrialização fraca, sem competitividade”, analisa Wiese.
A revogação do teto de gastos também é outro fator preocupante. “Como não há muito espaço no orçamento, o caminho deve ser ‘parafiscal’, com o uso da Caixa Econômica Federal, BNDEs, Banco do Brasil e outros”, adverte.
Resultado primário: ponto-chave da análise econômica
Para o head da EQI, além do PIB, outro indicador relevante para a análise da política econômica é observar o resultado primário dos governos – que aponta a diferença entre arrecadação e gastos.
“Quando se gasta a mais, é gerada uma série de problemas para o País, levando ao empobrecimento. No que tange os investimentos, a grande maioria se valoriza quando os juros caem. E para termos juros baixos, o governo precisa gastar menos. Ou, pelo menos, deve haver um equilíbrio nas políticas públicas”, pondera Wiese.
Para ajudar na compreensão do cenário que o novo governo irá trabalhar, os especialistas da EQI fizeram um levantamento do resultado primário nas últimas duas décadas:
Para Wiese, Lula receberá um país mais organizado em termos macroeconômicos. “Estamos gastando menos que a arrecadação, a inflação está controlada e os juros ainda estão altos, com expectativa de queda em 2023, se tudo continuar caminhando nesse mesmo ritmo”, comenta.
Mudança de governo: o impacto do uso dos bancos públicos
Wiese lembra que entre 2016 e 2017 o uso dos bancos públicos estava em um pico, sendo responsável por 56% do crédito da economia.
Para ele, esse cenário deverá estar de volta no governo petista para fomentar as políticas de crédito, conforme as diretrizes apontadas no plano de Lula.
“Essa é uma medida ruim, pois o banco público empresta a juros subsidiados para alguns setores. Em contrapartida, o impacto é que o restante da população pagará juros mais altos. Além disso, esse cenário causa distorções, levando o empresário a investir errado, pois não há demanda genuína para sua produção”, pondera.
Mudança de governo e investimentos: o que esperar?
“Esperamos no longo prazo maiores gastos, mais inflação, juros estruturais mais elevados”, ressalta Denys Wiese.
Contudo, ele aponta alguns aspectos que podem funcionar como um “freio” às medidas consideradas como “mais radicais” como “a composição de um Congresso Centro-Direita, a autonomia do Banco Central, a nomeação de um Ministro da Fazenda bem aceito pelo mercado e a imagem externa mais favorável”.
Mas, para o especialista da EQI, os eventos que se seguiram pós-eleições demonstram uma provável dificuldade na governabilidade do novo presidente.
“A expectativa de formação de um governo mais ao centro foi frustrada na primeira quinzena de novembro. Os nomes do grupo de transição de governo sugerem maior influência da extrema esquerda”, analisa.
Wiese também aponta que o mercado precificava uma “furada” do Teto de gastos na ordem de até R$ 100 bilhões. “Porém, já se fala abertamente em R$ 175 bi. Isso resgatou o temor fiscal e a disparada dos juros longos” comenta.
Ainda de acordo com ele, a economia nos próximos dois anos deve se confirmar como “mais favorável” em razão do que ele considera uma “inércia de boas medidas econômicas criadas pelo governo Bolsonaro”, o que poderá refletir em crescimento de curto prazo.
No entanto, para ele, ainda é cedo para afirmar o que virá depois. “Vamos nos manter cautelosos com a inflação e devemos aguardar juros estruturais mais elevados do que o suposto anteriormente”.
- Leia também: como ficam seus investimentos com a esquerda no poder? Especialistas da EQI respondem.
Economia e os investimentos: como foram nos governos petistas?
De acordo com o especialista da EQI, a média da Selic – a taxa básica de juros da economia – nos quatro governos petistas foi de 12.71%, considerada elevada.
Já a média do IPCA – indicador que mede a inflação – foi de 6.28%, bem acima da meta de inflação que é de 3.5%
Quanto aos investimentos, na comparação do CDI, Ibov, IPCA e dólar, é possível perceber que a bolsa de valores brasileira alcançou picos elevados durante o primeiro governo Lula. No entanto, para ele, o cenário visto hoje é bastante diferente e não deve ser repetido.
Sustentabilidade econômica no novo governo: como fica?
Para Denys Wiese, para um governo ser sustentável é preciso realizar reformas administrativas, tributárias, pactos federativos, privatizações, desburocratização, redução do estado, o que, em sua visão, não deve acontecer.
“Hoje estamos com a perspectiva de uma agenda econômica ruim, mas com dados estatísticos bons. O que pode confirmar que o chamado ‘vôo de galinha’ aconteça nos próximos dois anos”.
Sobre o CDI e Selic para os próximos anos, Wiese ainda espera queda, conforme o gráfico abaixo.
Melhores investimentos com a mudança de governo: onde estão?
De acordo com Valter Manfro, head de operações estruturadas da EQI Investimentos, a cada início de governo, os investidores querem um caminho único que indique o melhor investimento.
“De antemão, afirmo que ninguém possui essa resposta antes do ano passar. Há várias provas que mostram isso, como o que pode ser observado nas manchetes das revistas especializadas”, aponta.
A ilustração abaixo mostra a relação entre o que é noticiado e o desempenho dos investimentos:
Para o head da EQI, as publicações tendem a replicar uma movimentação defasada dos investimentos. “Quando a bolsa já subiu bastante, as revistas afirmam ‘vai subir mais’. Quando já caiu bastante, elas afirmam ‘tá feio, vem crise aí’”, analisa.
Qual o melhor investimento dos próximos 12 meses?
Para responder sobre a expectativa de desempenho dos ativos no próximo ano, Manfro sugere a análise da evolução dos investimentos nos últimos 11 anos, conforme levantamento abaixo.
De acordo com ele, é possível verificar que o melhor investimento de um ano, acaba sendo o pior em outro.
“Os ativos mais voláteis figuram mais nas extremidades, com rendimentos muito bons ou muito ruins. Já os investimentos mais ‘tranquilos’ ficam mais pelo meio, não vão nem tão bem, nem tão mal”, explica.
Para Manfro, o quadro comprova que não é possível eleger o melhor investimento. “Todos vão bem em um determinado ano e mal em outro. Não existe investimento que vá bem todo o ano”, observa.
Desempenho dos principais ativos em 2022
Na comparação da performance dos investimentos em 2022, no período entre janeiro e outubro, é possível ver que o ativo com pior desempenho vendo sendo o Bitcoin, seguido do S&P, Ouro, dólar e small caps.
Qual o melhor investimento para o último trimestre de 2022?
Para identificar o melhor investimento para o último trimestre de 2022, Manfro aponta para a necessidade de adequar a carteira ao perfil investidor. Conforme a divisão recomendada:
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“A alocação deve ser, acima de tudo, consistente no longo prazo, com necessidade de apenas pequenos ajustes”, indica.
Janela de juros altos deve ser aproveitada
De acordo com Manfro, os investidores devem ficar atentos à atual janela de oportunidade dos juros altos. Nesse sentido, as opções estão na renda fixa.
Renda fixa: principais investimentos por classe
E o mercado de ações?
“O mercado de ações deve começar a andar quando os juros longos começarem a cair”, finaliza Denys Wiese.
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