As decisões do governo federal sobre retomar a cobrança de impostos sobre combustíveis em fevereiro e outras medidas de compensação para repor o caixa estão no foco do mercado.
Quanto aos investidores, é preciso compreender como as intervenções do Estado na economia impactam sobre ativos.
Para explicar esse panorama, Denys Wiese, estrategista da EQI Investimentos, e Ricardo Cará, gestor do EQI Macro, conversaram sobre o tema durante a live “Investidor Inteligente“, de quinta-feira (9).
Eles abordaram as principais questões que têm preocupado os investidores:
- Aumento de impostos e equilíbrio fiscal;
- Política de preços da Petrobrás, como afeta o investidor;
- Reforma tributária;
- Nova Âncora Fiscal;
- Decisões de curto, médio e de longo prazo.
Siga na leitura se você quer saber como tirar o melhor da atual situação do Brasil.
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Intervenção do estado na economia: quais são os extremos?
Na opinião de Denys Wiese, estrategista da EQI Investimentos, é importante que o investidor saiba quais são os extremos da atuação do Estado em relação aos modelos econômicos.
Conforme vemos em mais detalhes a seguir:
Estado grande e interventor
- Baixa produtividade;
- Alta influência política;
- Direcionamento dos investimentos e gastos;
- Desenvolvimento de setores escolhidos e escassez para os demais;
- Altos impostos;
- Alocação de recursos determinada pelo Estado;
- Crescimento de curto prazo / não sustentável no longo prazo;
- Inflação e juros estruturalmente mais altos.
Estado mínimo e não-interventor
- Livre mercado;
- Maior confiança dos mercados;
- Investimentos em mercados com demanda genuína;
- Baixa influência política;
- Desenvolvimento dos setores escolhidos pelos consumidores;
- Baixos impostos;
- Alocação de recursos determinada pelo sistema de preços;
- Baixo crescimento de curto prazo;
- Sustentável e crescimento de longo prazo;
- Inflação e juros estruturalmente mais baixos.
Entre os extremos, para Wiese, o Brasil está no meio do caminho, oscilando de um lado para o outro. “Ora vai para um Estado com menos intervenção, como teoricamente foi o governo anterior, ora vai para um estado mais interventor, como é o caso de agora”, analisa.
O estrategista reforça que, seja qual for o grau de intervenção, o Estado precisa negociar sua atuação com o Congresso e com os demais atores da sociedade.
Medidas adotadas no novo governo e os impactos
Para avaliar, na prática, qual é o peso da intervenção do Estado na economia, Wiese e Ricardo Cará, gestor do EQI Macro, comentam algumas medidas nos primeiros dois meses de governo.
Discussões sobre mudanças na meta de inflação e Lei das Estatais
Na avaliação de Ricardo Cará, a discussão é correta, mas a forma é errada, quando se entra no âmbito das críticas diretas à atuação do presidente do Banco Central.
De acordo com ele, o mercado quer enxergar a nova regra fiscal. Dessa forma, é preciso entender o que será colocado no lugar do teto de gastos, o que criaria um ambiente mais propício para o Banco Central avaliar o corte de juros.
“Até o momento, vemos o mercado embarcando no risco de uma queda de juros forçada vislumbrando juros mais baixos no horizonte de um a dois anos, mas na curva longa de 10 anos, apostando em um patamar que já chegou a operar acima da Selic de hoje. Esse é um sinal de extrema desconfiança de que algo pode dar errado”, pondera.
Decisão de retomar os impostos federais sobre os combustíveis
Para Cará, essa medida é confusa e cheia de ruído. Do lado econômico, ela a considera como importante, pois consegue recompor R$ 30 bilhões no orçamento deste ano, o que é muito relevante.
Porém, nesse primeiro momento a cobrança não retornará às alíquotas anteriores à desoneração. E como medida de compensação, foi anunciada uma taxação de exportações de petróleo cru, na alíquota de 9,2%.
“Há um cabo de guerra dentro do próprio partido governista, considerando as falas dissonantes do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Toda essa questão de tributação passa uma insegurança para as empresas que querem investir no país e, também, junto aos demais setores da economia”, reforça o gestor.
Prates descarta manter atual política de preços da Petrobras
Essa é uma outra caixa preta na agenda do governo, conforme avalia Ricardo Cará. Hoje, a política segue a paridade de preços internacionais, mas existem outras ideias que estão sendo cogitadas.
“Uma delas é a criação de um fundo de compensação, que poderia vir com a redução da distribuição de dividendos da Petro, o que suavizaria a oscilação de preços lá de fora. Mas, quando há menos distribuição de dividendos também significa menos arrecadação para o Tesouro, uma vez que a participação do governo, somada a do BNDES é de aproximadamente ⅓ da Petrobras. Isso também impacta a pessoa física que investe no papel”, ele observa.
- Leia também: Política de preços da Petrobras (PETR4) é incerta.
- Saiba mais: Petrobras (PETR4) volta a ser criticada por Lula.
Expansão do BNDES pode levar juro neutro a cerca de 6% ao ano
Segundo Ricardo Cara, esse é um estudo, que foi conduzido por Fabio Kanczuk, um economista renomado que esteve no Banco Central até 2022, que diz que, dependendo da forma como o BNDES volte a dar créditos, pode gerar grandes impactos na economia.
“Por ainda ser um estudo, não vale a pena dar muito peso agora, mas é preciso acompanhar de perto”, reforça o gestor.
Salário mínimo vai a R$ 1.320,00 e correção da tabela de Imposto de Renda
De acordo com o Cará, do ponto de vista fiscal, em ambas as medidas, é possível ver que o DNA desse governo é mais “gastador”.
“A estratégia para compensar esses gastos extras é via aumento de receita que pode vir pelo aumento da arrecadação, via crescimento. Por isso, a preocupação do governo com a taxa de juros e a viabilização dos estímulos à economia”, observa.
Ele também sinaliza que uma outra alternativa seria a partir de uma reforma tributária.
“Mas, no meio do caminho pode haver um desencontro de timing. A recomposição de receita depende de diversos fatores. Ainda não temos a certeza de que será possível cobrir esse buraco extra. Por isso, não é uma sinalização positiva para o mercado”, reitera.
- Veja também: Salário mínimo será de R$ 1.302 a partir de janeiro, com primeiro ganho real desde 2019.
- Leia mais: Lula anuncia atualização na tabela do Imposto de Renda em 2024 e confirma reajuste no salário mínimo.
Intervenção do estado na economia: efeitos nas expectativas do mercado
Para mostrar os efeitos das medidas discutidas acima no mercado, Ricardo Cará mostra a evolução da curva de alguns indicadores mais importantes da economia nos últimos 60 dias, baseada nas projeções do Boletim Focus.
Projeções IPCA
“Os agentes começaram a entender que o risco de alta da inflação para 2024, 2025 e 2026 aumentou consideravelmente. Isso é um reflexo da discussão sobre revisão da meta da inflação, Selic, risco fiscal”, analisa o gestor.
Selic e PIB
“O mercado está revisando suas projeções para Selic e PIB, uma vez que o governo deve ampliar os gastos públicos. Há dúvidas sobre o início da queda de juros e PIB, com margem maior para crescimento”, ele reforça.
De olho no fiscal e inflação
“É preciso olhar para esses indicadores principais para que seja possível criar condições sustentáveis para que o Banco Central inicie a queda de juros”, observa Ricardo Cará.
Média dos indicadores nos últimos 60 dias
Oportunidades de investimento para o mês de março
Segundo Denys Wiese, os investidores nesses últimos dois meses temeram uma crise de crédito – desencadeada pelo evento das lojas Americanas – e também de uma recessão forte. No entanto, ambos não estão ocorrendo.
“Isso cria inúmeras oportunidades de bons investimentos, pois se o juro está alto, tanto a renda fixa, como os ativos de renda variável estão extremamente atraentes, com boas entradas nos Fundos Multimercados”, reforça Wiese.
Algumas oportunidades de investimento para março de 2023:
- Bond prefixado – 16% a.a.;
- Oferta 160 CRA – CDI + 4% a.a. (isento);
- Oferta 160 CRI – IPCA + 9% a.a. (isento);
- CDB 3 anos – 116% do CDI.
Diversificação com Fundos Multimercados
O Fundo Multimercado tem o dinamismo e a flexibilidade da diversificação, pois opera com posições em diversos países, ativos e índices. Esses ativos sempre tentam antecipar os movimentos no mundo todo, com uma análise profunda do cenário global.
“É uma boa oportunidade para um prazo de 2 anos, com alvo de CDI + 5%, com liquidez de 30 dias”, reitera o estrategista da EQI Investimentos.
Gráfico rentabilidade Atlas Macro FIM – últimos 6 meses
Se você perde a live, pode assistir aqui:
Intervenções na economia e impactos sobre os investimentos
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