A inflação oficial do Brasil subiu 0,46% em maio, com aceleração ante 0,38% de abril. A expectativa do mercado era por leitura menor, de 0,42%. Na comparação ano a ano, a inflação subiu 3,93%, de 3,69%. A projeção era de 3,89%.
No ano, a inflação acumulada é de 2,27% e, nos últimos 12 meses, de 3,93%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta terça-feira (11) pelo IBGE.

Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, analisa que a alta do IPCA ficou concentrada em alimentos, sendo que os núcleos da inflação e o setor de serviço ainda seguem com leituras mais altas do que esperado.
“Essa surpresa altista não cai bem no momento em que o mercado está de olho na inflação de curto prazo”, aponta Kautz. No entanto, ele diz, a inflação vem se acomodando entre 3,5% e 4%, que é um patamar bom dado que a economia ainda cresce bastante. O Banco Central espera que ela fique próxima de 3% ao ano.
“Nos próximos meses deve haver uma desaceleração, mas o mercado deve continuar sensível a esses dados. Nós mantemos projeção de inflação em 3,9% ao ano, em uma revisão da expectativa anterior de 3,6%, apesar do IPCA acima do esperado”, diz. Ouça o áudio na íntegra:
IPCA: alimentos pressionam resultado
O resultado de maio foi pressionado pelos preços dos alimentos e bebidas, que subiram 0,62% na comparação com abril, influenciados, sobretudo, pela alta dos tubérculos, raízes e legumes (6,33%). Dentre eles, destaca-se a batata-inglesa, com aumento de 20,61%, o maior impacto individual sobre o índice geral.
O gerente da pesquisa, André Almeida, observa que a mudança das safras é um dos fatores relacionados ao aumento do tubérculo.
“Em maio, com a safra das águas na reta final e um início mais devagar da safra das secas, a oferta da batata ficou reduzida. Além disso, parte da produção foi afetada pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, que é uma das principais regiões produtoras”, diz.
Além da batata-inglesa, outros alimentos com grande presença na mesa dos brasileiros também subiram em maio, com destaque para a cebola (7,94%), o leite longa vida (5,36%) e o café moído (3,42%).
“O leite está em período de entressafra e houve queda nas importações. Essa combinação resultou em uma menor oferta. Em relação ao café, os preços das duas espécies têm subido no mercado internacional, o que explica o resultado de maio”, destaca o pesquisador.
Mesmo com essas altas, o preço da alimentação no domicílio (0,66%) desacelerou ante abril (0,81%). Esse comportamento é explicado pelas variações negativas de alguns alimentos, como as frutas (-2,73%).
“O principal alimento com queda em maio foram as bananas: a maior oferta da banana d’água pressionou os preços da prata, e as duas baixaram. Isso ajudou a segurar o aumento da alimentação no domicílio”, explica.
Por outro lado, os preços da alimentação fora do domicílio (0,50%) subiram mais do que no mês anterior (0,39%), influenciados pela aceleração do lanche (de 0,44% para 0,78%). Já a variação da refeição (0,36%) ficou próxima à registrada em abril (0,34%).
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IPCA: habitação é segundo grupo que mais sobe
Depois de alimentação e bebidas, o grupo que mais influenciou o resultado geral foi o de habitação (0,67%), com a alta da energia elétrica residencial (0,94%), o terceiro item de maior impacto individual sobre o resultado geral.
O resultado é explicado pela aplicação dos reajustes tarifários em Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Aracaju (SE). A taxa de água e esgoto (1,62%) e o gás encanado (0,30%) também contribuíram para a alta do grupo.
Já a variação de saúde e cuidados pessoais (0,69%) foi a maior entre os nove grupos investigados pela pesquisa.
O resultado foi influenciado pelo aumento nos preços do plano de saúde (0,77%) e dos itens de higiene pessoal (1,04%), com destaque para perfume (2,59%) e produto para pele (2,26%). “Maio é marcado pelo Dia das Mães, que colaborou para o aumento de preços dos perfumes, artigos de maquiagem e produtos para pele”, avalia o gerente.
Passagem aérea tem primeira alta do ano
No grupo dos transportes (0,44%), a passagem aérea registrou a primeira alta do ano (5,91%) e foi o quarto item individual de maior impacto na inflação do país.
Em abril, a deflação desse item foi de 12,09%. Além dele, em maio, houve alta nos combustíveis (0,45%), impactada pelo etanol (0,53%), pelo óleo diesel (0,51%) e pela gasolina (0,45%). Também subiram os preços do metrô (1,21%) e do táxi (0,55%).
Inflação chega a 0,87% em Porto Alegre
Diante das enchentes no Rio Grande do Sul desde o fim de abril, Porto Alegre foi a área de abrangência investigada pela pesquisa com maior variação do IPCA em maio.
“A situação de calamidade acabou afetando a alta dos preços de alguns produtos e serviços. Em maio, as principais altas foram da batata-inglesa (23,94%), do gás de botijão (7,39%) e da gasolina (1,80%)”, destaca o pesquisador.
Dos 16 locais pesquisados, apenas Goiânia (-0,06%) teve deflação. Esse resultado foi relacionado ao recuo de preços da gasolina (-3,61%) e do etanol (-6,57%) no município.
INPC tem alta de 0,46% em maio
A alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foi de 0,46% em maio, também acelerando em relação ao resultado anterior (0,37%).
O resultado foi impactado pelos produtos alimentícios, que subiram 0,64% em maio, após a alta de 0,57% em abril. Já os preços dos não alimentícios variaram 0,40%, acima do registrado no mês anterior (0,31%).
O que é o IPCA
O IPCA, indicador oficial de inflação no Brasil, abrange as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos.
Já o INPC abrange as famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos.
São pesquisadas as regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.
O próximo resultado da inflação medida pelo IPCA, referente a junho, será divulgado em 10 de julho.