O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Federal Reserve decidiu cortar a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 50 pontos-base (0,50 ponto percentual), levando as Fed Funds ao intervalo de 4,75% a 5,00% ao ano. A decisão do Fed desta quarta-feira (18) seguiu grande parte do consenso dos analistas do mercado financeiro.
A decisão do Fomc foi dividida, de maneira que quase todos os membros votaram por um corte de juros em 50 pontos-base. Apenas Michelle Bowman optou por uma redução de 25 pb.
No comunicado, o Fed informou que indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a se expandir em um ritmo sólido, apesar das desacelerações no mercado de trabalho e da inflação no país.
“Os ganhos de emprego desaceleraram, e a taxa de desemprego subiu, mas continua baixa. A inflação fez mais progressos em direção ao objetivo de 2% do Comitê, mas continua um tanto elevada.“
O Fomc comunicou que busca atingir o máximo do mercado de trabalho, além da meta de levar a para a taxa de 2% no longo prazo. O comitê de política monetária norte-americano ganhou maior confiança de que a inflação está recuando de forma sustentável em direção ao objetivo estipulado, e julgou que os riscos para atingir suas metas estão em equilíbrio.
“A perspectiva econômica é incerta, e o Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato.” O Fed se refere ao seu objetivo principal, que é o controle da inflação em torno de uma meta e o alcance do pleno emprego.

Fed divulga projeções
As projeções econômicas dos membros do Comitê, atualizadas a cada trimestre pelos dirigentes do Fed, mostram que grande parte espera ver os juros caindo mais meio ponto percentual até o final deste ano. As perspectivas apontam para queda de outro ponto percentual em 2025 e meio ponto percentual final em 2026, terminando o ano em 2,75% a 3,00%.
O chamado “gráfico de pontos” mostrou as seguintes projeções para o final deste ano:
- 9 dirigentes veem juro entre 4,25% e 4,50% no fim de 2024;
- 7 dirigentes veem juro entre 4,50% e 4,75% no fim de 2024;
- 2 dirigentes veem juro entre 4,75% e 5% no fim de 2024;
- 1 dirigente vê juro entre 4% e 4,25% no fim de 2024.
Ainda assim, o Fed reforçou em seu comunicado que as decisões futuras levarão em conta uma ampla gama de informações.
“Estamos prontos a ajustar política, caso surjam riscos que afetem cumprimento de metas”, informou a autoridade monetária.
O Fed tem mais duas reuniões de política monetária até dezembro, em 6 e 7 de novembro e 17 e 18 de dezembro.
Projeções de mais cortes não significam pressa
Apesar de todos os 19 participantes do Fomc terem contribuído para o sumário de projeções (SEP) do Federal Reserve com estimativas de mais cortes de juros nos EUA, o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, reforçou que as próximas decisões serão tomadas a cada reunião. Isto é, após a avaliação dos dados macroeconômicos do período.
“Não há nada no SEP que sugira que o Comitê esteja com pressa. O processo evolui ao longo do tempo”, disse. “Novamente, eu apontaria para o SEP apenas como uma avaliação do que o comitê está destacando hoje.”
Em relação à decisão de cortar juros em 0,50 ponto percentual, Powell destacou que era preciso recalibrar a política monetária de um ponto em que a inflação estava alta e o desemprego baixo para um patamar mais apropriado, diante de onde esperam chegar.
“O crescimento nominal dos salários diminuiu e a lacuna entre empregos e trabalhadores recuou. No geral, um amplo conjunto de dados sugere que as condições no mercado de trabalho estão agora menos apertadas do que antes da pandemia em 2019”, disse.
Fed corta juros: mercado se dividiu em apostas
Até às 14h50 (horário de Brasília) desta quarta-feira (18), 61% do mercado projetava que o corte de juros nos EUA seria de 50 pontos-base, enquanto apenas 39% apostava em 25 pontos-base.

Na última reunião, em 31 de julho, a autoridade monetária comunicou: “Comitê não espera que seja apropriado reduzir a faixa-alvo até que tenha adquirido maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%”.
Apesar disso, a ata da última reunião mostrou que os membros do Fomc consideravam uma redução na taxa de juros em 0,25 ponto percentual já para a reunião de setembro. A decisão dependeria do avanço dos dados econômicos no país.
O economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, comentou que a decisão do Fed veio em linha com o que o mercado esperava, com um corte de 50 pontos-base. A principal preocupação do comitê, neste momento, parece ser o mercado de trabalho.
O comunicado da autoridade também menciona uma continuidade dos cortes nos juros, convergindo para o patamar neutro ao longo dos próximos trimestres. Patamar esse que subiu de 2,8% para 2,9%. Ainda assim, a projeção é de que a economia continue crescendo a uma taxa de 2,0%.
“O Fed projeta um cenário perfeito, quase bonito demais para acreditar, mas é o que almejam ao cortar os juros de maneira mais rápida, a fim de evitar que a economia desacelere e o desemprego suba ainda mais do que o projetado”, diz Kautz.
De acordo com as projeções do Fed, os próximos passos seriam mais dois cortes de 0,25 ponto percentual, e mais 1,0 p.p. ao longo de 2025. Portanto, o ciclo deve continuar ao longo das próximas reuniões.
“As implicações para o Banco Central do Brasil se concentram principalmente no câmbio, que agora já recua e busca os R$ 5,40, e fica abaixo do simulado para a reunião de hoje. Isso deve confirmar a perspectiva de que o BC deve subir juros em 0,25 p.p.”
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