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Desequilíbrio fiscal global preocupa grandes gestores no Macro Day 2025

Desequilíbrio fiscal global preocupa grandes gestores no Macro Day 2025

O avanço do desequilíbrio fiscal em diversas economias, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, foi um dos temas centrais debatidos nesta segunda-feira (22) durante o Macro Day 2025 do BTG Pactual, em São Paulo.

O painel “Outlook de Grandes Gestores” reuniu três grandes nomes do mercado financeiro brasileiro: André Jakurski (JGP), Luís Stuhlberger (Verde Asset) e Rogério Xavier (SPX Capital), com moderação do chairman do banco, André Esteves.

Apesar de abordagens distintas, os gestores convergiram em uma análise crítica sobre a sustentabilidade das atuais políticas fiscais, monetárias e cambiais ao redor do mundo. A preocupação com a expansão dos déficits, o impacto da inteligência artificial sobre os mercados e o comportamento do Federal Reserve foram discutidos em profundidade.

Desequilíbrio fiscal e riscos estruturais

A palavra mais repetida durante o painel foi “fiscal”. Todos os participantes demonstraram preocupação com os altos déficits dos países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos. A estimativa de déficit fiscal americano gira em torno de 6,7% do PIB, algo considerado “inacreditável” por Luís Stuhlberger.

Segundo os gestores, o governo americano tem recorrido a estímulos fiscais e monetários que, embora sustentem o crescimento do PIB no curto prazo, acabam por distorcer os fundamentos econômicos. Essa estratégia, vista como insustentável, levanta preocupações sobre seus efeitos de médio e longo prazo, especialmente em um contexto de déficits elevados e política monetária permissiva.

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Rogério Xavier reforçou essa visão ao destacar que o acúmulo de desequilíbrios, tanto no setor público quanto no privado, já começa a se refletir no mercado financeiro global. Para ele, os sinais de fragilidade estão mais evidentes fora da economia real.

“A próxima crise não virá do setor produtivo, mas sim do setor financeiro”, alertou, citando o crescimento acelerado das alocações em instrumentos de crédito privado (private debt) e fundos de private equity como potenciais fontes de instabilidade.

Bolsa em alta, dólar em queda: uma aparente contradição

Outro ponto discutido com destaque foi a atual dicotomia entre o desempenho das bolsas, especialmente a americana, e a fraqueza do dólar. O índice S&P 500 bateu recordes históricos, mesmo com a moeda americana apresentando um dos piores desempenhos em décadas.

“Quando a bolsa quer subir, ninguém segura”, disse Jakurski, mencionando a entrada massiva de capital nos mercados acionários globais, impulsionada por temáticas como inteligência artificial. Para Stuhlberger, há um movimento claro de busca por ativos reais, como ações, imóveis, ouro e até criptoativos, motivado pelo receio com a inflação e com a perda de valor das moedas fiduciárias.

A desvalorização do dólar também está relacionada, segundo os participantes, ao diferencial de juros e às expectativas de que o Federal Reserve adote uma postura mais branda (“dovish”) nos próximos meses, especialmente sob influência do cenário político.

FED, juros e credibilidade institucional

O papel do Federal Reserve foi analisado sob duas óticas: sua independência institucional e sua condução de política monetária em um ambiente politicamente pressionado. O consenso do painel é que o banco central americano pode voltar a cortar juros, mesmo com a inflação ainda acima da meta de 2%.

“O presidente do Fed é político, e não quer confrontar o presidente dos Estados Unidos”, afirmou Jakurski, ao comentar a possível nomeação de um novo chairman mais alinhado com as intenções de Donald Trump.

Já Stuhlberger questionou se o mercado está superestimando a capacidade do FED de manter sua credibilidade: “Talvez, quando sentar na cadeira, o novo presidente sinta o peso da responsabilidade. Mas nunca se sabe.”

Mudança de ciclo e cenário global fragilizado

Para além dos Estados Unidos, o cenário econômico global também preocupa. Xavier destacou que as economias asiáticas, especialmente a Coreia do Sul e a China, estão com dados fracos de atividade. “As exportações da Coreia para os EUA despencaram. E pela primeira vez em muito tempo, vários países estão registrando aumento no desemprego”, observou.

Essa percepção reforça o argumento de que, apesar da exuberância de Wall Street, a economia real (Main Street) segue fragilizada. “Pode haver uma desconexão perigosa entre os mercados financeiros e a economia real”, completou Xavier.

Perspectivas: fim do excepcionalismo americano?

Um dos pontos mais sensíveis abordados foi o possível enfraquecimento do papel dos Estados Unidos como potência hegemônica e como emissor da principal moeda de reserva global. “Estamos vendo o fim do excepcionalismo americano”, disse Stuhlberger, em tom crítico.

A combinação de déficits persistentes, inflação elevada, populismo fiscal e fragilidade institucional pode, segundo os gestores, comprometer o status do dólar como reserva de valor global. Esse movimento já estaria sendo percebido pela busca por ativos reais e por uma postura mais defensiva dos investidores internacionais.

Alerta aceso para investidores

O painel terminou sem previsões catastróficas, mas com sinais claros de alerta. A leitura dos gestores é que o atual momento de liquidez e valorização dos mercados pode mascarar riscos sistêmicos mais profundos. Entre os principais gatilhos para uma eventual correção estão a instabilidade fiscal, a politização da política monetária e a fragilidade institucional nos países desenvolvidos.

Para os investidores, a recomendação é atenção redobrada: entender que o ciclo atual, embora lucrativo, está sustentado em bases frágeis. E que o desequilíbrio fiscal global pode ser o estopim de novas turbulências econômicas.

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