Nesta quarta-feira (4), o governo do primeiro-ministro francês Michel Barnier, que está no poder há menos de 100 dias, deverá ser derrubado devido à união das bancadas de esquerda e extrema-direita na Assembleia Nacional, intensificando a crise na França.
O desfecho, exceto em caso de grande surpresa, intensifica a crise política na segunda maior economia da União Europeia, que enfrenta também dificuldades econômicas.
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Entenda a crise na França
Barnier, o atual primeiro-ministro, enfrenta duas moções de censura, um mecanismo pelo qual o Legislativo pode reprovar o governo e derrubar o primeiro-ministro, que serão debatidas a partir das 16h00 (meio-dia em Brasília).
Para que as moções sejam aprovadas, é necessário o apoio de pelo menos 288 deputados. A oposição conta com quase 330 cadeiras na câmara baixa. Em um apelo direto, o primeiro-ministro conservador de 73 anos pediu aos parlamentares que agissem com “responsabilidade”, especialmente em um momento delicado para a economia, com a dívida da França atingindo um prêmio de risco quase equivalente ao da Grécia.
Além disso, a situação interna da França é ainda mais agravada pela instabilidade política na Alemanha, que precisou antecipar suas eleições legislativas para fevereiro de 2025. Esse cenário de crise pode repercutir na União Europeia, especialmente com a perspectiva do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
O presidente francês, Emmanuel Macron, enfatizou, durante uma visita oficial à Arábia Saudita, que “o interesse do país é mais importante que o interesse dos partidos”. Macron também tentou tranquilizar os mercados financeiros, garantindo que a “França tem uma economia forte”.
Caso o governo Barnier seja derrubado, Macron pode nomear outro primeiro-ministro ou reconduzir Barnier ao cargo, embora a composição do Parlamento se mantenha a mesma, já que o presidente não pode convocar novas eleições legislativas antes de 2025.
Governo mais curto da história
Se a moção de censura for aprovada, o governo de Barnier será o mais curto da história da Quinta República Francesa, que foi estabelecida em 1958. Isso também representará a segunda vez que um governo caiu durante o mandato de um presidente, após a queda do governo de Georges Pompidou em 1962, quando Charles de Gaulle era presidente.
O agravamento da crise política remonta a junho, quando Macron tomou a decisão surpreendente de antecipar as eleições legislativas, que estavam previstas para 2027. Esse movimento ocorreu após a vitória da extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu na França, o que acelerou o enfraquecimento do governo.
Embora Macron já tivesse perdido a maioria absoluta na Assembleia Nacional em 2022, as novas eleições resultaram em um Parlamento dividido, com três blocos inconciliáveis: esquerda, centro-direita e extrema-direita.
A Nova Frente Popular (NFP), uma coalizão composta por socialistas, comunistas, ambientalistas e integrantes da esquerda radical, saiu vitoriosa nas eleições, mas, meses depois, Macron nomeou Barnier, ex-negociador europeu para o Brexit, como primeiro-ministro, buscando estabilizar o governo.
No entanto, Barnier só obteve apoio da aliança de centro-direita de Macron e do partido Os Republicanos (LR), o que fez com que sua sobrevivência dependesse da líder de extrema-direita Marine Le Pen. A negociação dos orçamentos para 2025 foi o ponto de ruptura, e, apesar de várias concessões feitas, Le Pen insistiu na exigência de que o governo adiasse a reavaliação das pensões de janeiro para julho. O governo se recusou, o que culminou na decisão de derrubar Barnier.
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