O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, de forma unânime, nesta quarta-feira (04) elevar a taxa básica Selic em 1 ponto percentual, para 12,75%, em linha com o mercado.
Para a próxima reunião, o Comitê deverá realizar mais uma elevação, porém de menor intensidade da que ocorreu nesta semana e deixou em aberto os passos seguintes.
“O Comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação”, informou trecho do comunicado.
Em comunicado divulgado, o comitê informou que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas. O que poderá depender da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
O colegiado considerou ainda que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco. Entre esses riscos de alta estão: uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país, parcialmente incorporada nas expectativas de inflação e nos preços de ativos.
Além disso, o Copom avalia que a conjuntura ainda se mantém particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.
Copom: cenário externo tem influência e inflação surpreende negativamente
Em comunicado, o colegiado enfatizou ainda que a inflação ao consumidor, medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – seguiu surpreendendo de forma negativa. De acordo com a nota, essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação.
Além disso, considerou-se que o ambiente externo seguiu se deteriorando. As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de Covid-19 na China e da guerra na Ucrânia.
“A reprecificação da política monetária nos países avançados eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes”, detalhou outro trecho da nota.
Copom: BTG (BPAC11) já previa mais um aumento de 0,5 ponto percentual
O banco BTG Pactual (BPAC11) avalia que, na próxima reunião do Copom, poderá ocorrer mais um aumento, de 0,5 ponto percentual, encerrando ciclo de alta da taxa Selic, em relatório divulgado anteriormente. Com isso, o ciclo, para o banco, se encerra em 13,25%.
O banco de investimentos havia avaliado que fatores como a Guerra na Ucrânia teria deteriorado o cenário global nos últimos 45 dias. Além disso, um novo lockdown imposto na China e a revisão para baixo da economia dos Estados Unidos, também contaram para a decisão do comitê.
Porém, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, já dissera em outra ocasião, que a chegada a 12,75% significaria o fim desse ciclo de alta.
“Enquanto aqui estamos chegando no final do aperto ou muito próximo dele, lá (nos EUA) eles estão recém-iniciando o ciclo. As notícias por lá tendem a ser piores do que as daqui por um bom tempo, durante um ano mais ou menos”, explicou Denys Wiese, head de renda fixa da EQI Investimentos, referindo-se à alta de 0,5 ponto realizada pelo Fomc – o equivalente norte-americano ao Copom.
Pela decisão, a autoridade monetária daquele país decidiu por elevar a taxa de juros para o intervalo entre 0,75% e 1% ao ano. Além disso, foi anunciada também a redução do balanço patrimonial, em um ritmo de US$ 47,5 bilhões por mês nos três primeiros meses após a decisão.
Confira abaixo o comunicado na íntegra emitido pelo Copom:
Em sua 246ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 12,75% a.a.
A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
- O ambiente externo seguiu se deteriorando. As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de Covid-19 na China e da guerra na Ucrânia.
- A reprecificação da política monetária nos países avançados eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes;
- Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom indica um crescimento em linha com o que era esperado pelo Comitê;
- A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente;
- As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
- As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 7,9% e 4,1%, respectivamente; e
- No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,95*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). Optou-se por manter a premissa de que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$100/barril e passando a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 7,3% para 2022 e 3,4% para 2023. As projeções para a inflação de preços administrados são de 6,4% para 2022 e 5,7% para 2023. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.
- O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país, parcialmente incorporada nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local; e (ii) uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada. O Comitê avalia que a conjuntura particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude. O Comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.