“Agora está na moda ser pessimista em relação à China“. Essa é a frase que inicia o relatório “A desconexão” do BTG Pactual (BPAC11), ao analisar o cenário das commodities.
Os analistas Leonardo Correa, Caio Greiner e Bruno Lima entendem que não existem justificativas plausíveis para a quantidade de manchetes e reportagens negativas acerca da China. Embora reconheçam que a economia chinesa enfrenta uma série de desafios que resultaram em medidas por parte de Pequim para tentar reverter o atual momento econômico.
“Entretanto, parece-nos haver uma clara desconexão com os mercados físicos de matérias-primas, sugerindo um ambiente muito mais normalizado ou apertado do que a narrativa indica“, afirma o relatório.
Com os preços afetados pelo pessimismo, o BTG aconselha os investidores a construírem lentamente uma tese de exposição à China, com destaque para a Vale (VALE3) e a Suzano (SUZB3).
Para explicar essa desconexão pessimista em relação à China, os analistas indicaram seis pontos em que o mercado de commodities não está tão ruim como se diz:
- preços do minério de ferro acima de US$ 110/t;
- as mineradoras têm uma carteira de pedidos sólida na China;
- produção de aço bruto chinês – 4º ano consecutivo acima de 1 bilhão de toneladas;
- estoques de aço chineses sem aumento;
- demanda por celulose expandindo-se em dois dígitos na China;
- cobre.
Preços do minério de ferro

Apesar da narrativa pessimista em relação à demanda pelo minério de ferro, o BTG destaca que essa commodity serve como um indicador valioso para avaliar a economia chinesa, especialmente o setor imobiliário, que é o principal cliente das mineradoras. Isso se deve ao fato de que:
- a China é responsável por 73% da demanda por minério de ferro;
- o setor imobiliário representa cerca de um terço da demanda total por produtos siderúrgicos na China.
Diante da possível crise que a China enfrenta, conforme afirmam os pessimistas, os analistas fazem a seguinte provocação:
“Quem poderia imaginar que o preço do minério de ferro permaneceria acima dos custos marginais de produção, aproximadamente em US$ 80-100/t, em meio a uma crise deflacionária no crucial mercado imobiliário da China?“
De acordo com o BTG, o preço do minério de ferro está em um nível mais elevado devido ao aumento das exportações de aço, à redução das taxas de utilização de sucata e ao crescimento nos investimentos em ativos fixos, ou seja, em infraestrutura.
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As mineradoras estão com boa carteira de pedidos na China
Os analistas do banco de investimentos mencionaram que realizaram algumas reuniões com os executivos da Vale no exterior para compreender o cenário atual do minério de ferro. Segundo os executivos da mineradora, as condições de negócios com a China permanecem normais, “com nossas carteiras de pedidos preenchidas para os próximos trimestres”.
Diante disso, a percepção é que não há nenhuma crise que justifique as mineradoras reduzirem os volumes de negócios com a China, mesmo diante das manchetes negativas envolvendo o gigante asiático.
Produção de aço e estoques sem aumento
Outro ponto que reforça o argumento de que há um certo exagero na avaliação da situação chinesa é o fato de que a produção de aço bruto (CSP) está registrando um crescimento de 2% no acumulado do ano.
“Durante anos, o consenso geral era que a produção de aço estava atingindo seu pico e deveria declinar para níveis inferiores a 900 milhões de toneladas por ano. Estamos agora confortavelmente mantendo esse nível acima de 1 bilhão de toneladas de CSP na China pelo quarto ano consecutivo, o que é bastante sólido para os mercados e a demanda por minério de ferro“, como citado no relatório do BTG.
Além disso, os estoques de aço na China continuam abaixo dos níveis observados em anos anteriores. Portanto, apesar das preocupações do mercado quanto a um possível aumento significativo na oferta de aço e à queda na demanda, o consumo de aço ainda se mantém em um nível considerável.
Demanda de celulose e cobre
Embora o foco principal do relatório seja o mercado de minério de ferro, os analistas também destacam uma tendência interessante nos mercados de celulose.
“A PPPC está relatando um aumento de 17% nos volumes chineses de celulose de fibra curta (HW) no acumulado do ano de 2023. É evidente que há algum elemento de reposição de estoque nesse número, mas ainda assim representa um crescimento muito saudável“, afirmam os analistas.
Por último, a situação do cobre apresenta uma narrativa diferente em relação à China. De acordo com o BTG, com base nos dados do International Copper Study Group (ICGS), a demanda chinesa por cobre refinado cresceu aproximadamente 9% no primeiro semestre de 2023.
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