A inflação ao produtor em setembro registrou variação negativa de -0,25% em relação a agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é o oitavo mês seguido de retração nos preços da indústria, reforçando a tendência de desaquecimento dos custos “na porta de fábrica” — isto é, antes de impostos e fretes.

No acumulado do ano, o IPP recuou -3,87%, e em 12 meses, -0,40%, revertendo a alta de 0,48% observada em agosto. Em setembro de 2024, a inflação ao produtor havia mostrado avanço de 0,62%, o que evidencia a virada no comportamento dos preços industriais em 2025.
Queda concentrada em metade dos setores industriais
Das 24 atividades acompanhadas pelo IBGE, 12 registraram redução de preços em setembro. As quedas mais expressivas ocorreram em madeira (-3,08%), vestuário (-2,29%) e outros produtos químicos (-1,75%), enquanto o setor gráfico apresentou alta de 3,59%.
O grupo de outros produtos químicos foi o principal responsável pela deflação do mês, respondendo por -0,14 ponto percentual do resultado geral. Em seguida vieram alimentos (-0,10 p.p.), máquinas e equipamentos (-0,05 p.p.) e farmacêutica (0,04 p.p.). Essa dispersão mostra que, embora algumas atividades ainda reajustem preços, o cenário predominante é de estabilidade ou queda.
Influência dos bens intermediários e do câmbio
Entre as grandes categorias econômicas, os bens intermediários — produtos usados como insumos em outras indústrias — exerceram o maior peso no resultado, com queda de -0,60% e influência de -0,32 p.p. sobre o IPP geral. Já os bens de capital, que incluem máquinas e equipamentos, recuaram -0,45%, enquanto os bens de consumo avançaram levemente 0,29%.
A valorização do real frente ao dólar ao longo de 2025 também ajudou a conter a inflação ao produtor em setembro, barateando insumos importados e reduzindo custos em setores dependentes do câmbio, como a petroquímica e a metalurgia. Essa dinâmica tem limitado repasses e pressionado margens, mas também contribuído para frear a inflação industrial.
Setores em destaque: alimentos, química e petróleo
O setor de alimentos registrou queda de -0,40% em setembro, o quinto recuo mensal consecutivo. O acumulado no ano chegou a -8,07%, o menor índice para setembro desde 2017. A retração reflete tanto a safra de cana-de-açúcar — que reduziu os preços do açúcar — quanto o arrefecimento de outros produtos, apesar da alta no cacau e na carne bovina.
Na indústria química, a redução de -1,75% foi impulsionada pela menor demanda internacional e pela queda dos custos de matérias-primas, como a nafta e os fertilizantes. Já no setor de refino de petróleo e biocombustíveis, houve leve alta de 0,21%, embora o acumulado no ano ainda esteja negativo em -4,61%.
Tendência de estabilidade à frente
Mesmo com a sequência de resultados negativos, o comportamento da inflação ao produtor em setembro sugere mais uma fase de estabilização do que um colapso de preços. Parte da retração reflete o realinhamento de custos após períodos de alta e uma demanda ainda moderada no mercado interno.
A deflação acumulada em 2025, a segunda maior da série histórica para o mês, indica que a indústria brasileira segue enfrentando ajustes em suas cadeias produtivas. No entanto, a melhora no câmbio, a queda dos custos de energia e o controle da inflação ao consumidor podem criar espaço para uma recuperação gradual nos próximos meses.





