A bolsa da Argentina é a que mais cresce em todo o mundo. E isso em um cenário de crise econômica profunda no país, com fuga de dólares e dificuldades em negociar empréstimo junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
No ano, o índice Merval – que é o índice acionário do país – acumula elevação superior a 100%. No fim de 2022, por exemplo, acumulou em todo o ano um aumento de 30%, aproximadamente, quando medido à taxa de câmbio à vista.
Em comparação, ainda em 2022, o índice Dow Jones acumulou perdas de 8,6%; o S&P 500 perdeu 19,3%; e o Nasdaq caiu 32,9%, em um único ano. E esses são índices da bolsa de Nova York – o principal mercado financeiro do mundo.
Por outro lado, a inflação no país tem sido cada vez pior na Argentina: alta de mais de 100% no ano, configurando o quarto maior aumento do mundo. Já o peso argentino perdeu um quarto de seu valor durante apenas um espaço de três semanas.
Alheias à essa crise, as pessoas continuam tocando suas vidas. Aliás, como o peso argentino tem ficado corroído cada vez mais frente o dólar e até mesmo frente o real brasileiro, os argentinos têm vivido uma situação que era comum no Brasil dos anos 80: em um cenário de moeda altamente inflacionada, gasta-se o dinheiro antes que, no dia seguinte, a moeda valha menos.
Sinal disso é que o setor gastronômico de Buenos Aires anda fervendo. Matéria do jornal New York Times mostra que os restaurantes da capital vivem lotados de clientes. Como a classe média do país fica impedida de adquirir bens de maior valor ou viajar para outros países, a opção é gastar o dinheiro no próprio país.
Cenário paradoxal na Argentina
Mas o que está causando essa situação paradoxal na Argentina?
De um lado, as eleições do país: em 22 de outubro os eleitores do país vão às urnas escolher o sucessor de Alberto Fernandez. Entre os candidatos à Casa Rosada estão o atual ministro da Economia, Sergio Massa. Ele tem como missão controlar a crise econômica do país e, se tiver sucesso, surge como grande favorito.
A vice-presidente Cristina Kirchner, ex-presidente do país, seria outro nome, mas decidiu abrir mão da candidatura para apoiar Massa.
Outro candidato é Daniel Scioli, atual embaixador argentino no Brasil e vice-presidente na gestão de Néstor Kirchner (2003-2007) e ainda governador da província de Buenos Aires, entre 2009 e 2015. É outro nome que possui apoio do kirchnerismo – corrente política ligado ao ex-presidente, falecido há alguns anos e hoje representado pela atual vice-presidente, viúva e também ex-presidente.
História da bolsa da Argentina
A Bolsa de Valores de Buenos Aires foi fundada em 1854 e desde então tem desempenhado um papel crucial no desenvolvimento econômico do país. Ao longo de sua história, a bolsa enfrentou períodos de crescimento e desafios, refletindo a dinâmica do mercado financeiro argentino.
Durante as últimas décadas, a economia da Argentina passou por momentos turbulentos, com períodos de instabilidade política e crises econômicas. Isso afetou diretamente a bolsa de valores, que experimentou oscilações significativas nos índices de mercado. No entanto, apesar dos desafios, a bolsa continuou a desempenhar um papel central no sistema financeiro do país.
O índice Merval
O índice Merval é uma referência importante no mercado acionário argentino, atuando como um indicador-chave do desempenho das principais empresas listadas na Bolsa de Valores da Argentina.
O índice Merval, abreviação para “Mercado de Valores”, é o principal índice de ações da Bolsa de Valores da Argentina. Ele representa uma carteira teórica composta pelas ações das empresas mais líquidas e negociadas na bolsa, refletindo assim o desempenho médio do mercado acionário argentino como um todo.
O cálculo do índice Merval é baseado em uma metodologia ponderada pelo valor de mercado das ações. Isso significa que as empresas com maior capitalização de mercado têm um peso maior no índice. A composição do índice é revisada periodicamente, geralmente a cada três meses, para garantir que ele represente adequadamente o mercado acionário argentino.
As empresas incluídas no índice Merval são selecionadas com base em critérios como liquidez, representatividade do setor e volume de negociação. Dessa forma, o índice busca proporcionar uma visão geral da evolução dos preços das ações das principais empresas listadas na bolsa.
A hiperinflação dos anos 1980
Não dá para falar do contexto argentino hoje sem citar a hiperinflação dos anos 1980. Naquela época, a Argentina enfrentou uma das crises econômicas mais severas de sua história, com a ocorrência de uma hiperinflação descontrolada.
Naquela década, a Argentina estava enfrentando uma série de desafios econômicos, incluindo um crescente déficit fiscal, desequilíbrios na balança de pagamentos e uma alta carga de dívida externa. A política monetária e fiscal expansionista adotada pelo governo, juntamente com a falta de controle sobre a emissão de moeda, agravou ainda mais a situação.
A hiperinflação na Argentina foi impulsionada por diversos fatores interligados. A falta de confiança na moeda nacional, o peso argentino, levou à demanda por moeda estrangeira, principalmente o dólar americano. Isso resultou em uma fuga de capitais e agravou a escassez de dólares no país.
Além disso, o governo recorreu à emissão de moeda para financiar seus gastos excessivos, gerando um aumento desenfreado da quantidade de dinheiro em circulação. Esse aumento da oferta monetária sem lastro real desencadeou uma espiral inflacionária, em que os preços subiam descontroladamente, erodindo o poder de compra da população.
A hiperinflação na Argentina teve consequências profundas e devastadoras para a economia e a sociedade. Os preços dos produtos aumentavam diariamente, fazendo com que as pessoas corressem para gastar seu dinheiro antes que ele perdesse ainda mais valor. A poupança foi dizimada e o consumo despencou, levando ao fechamento de empresas e ao aumento do desemprego.
A confiança na moeda e no sistema financeiro foi abalada, e muitos argentinos buscaram proteger seu patrimônio adquirindo bens duráveis ou investindo em ativos estrangeiros. A instabilidade econômica e social gerou um clima de incerteza e descontentamento generalizado.
A superação da hiperinflação na Argentina exigiu medidas drásticas e reformas profundas. O governo implementou um plano econômico conhecido como “Plano Austral”, do então presidente Carlos Menem, que incluiu a substituição da moeda, controle rigoroso das despesas públicas e ações para estabilizar o sistema financeiro.
No entanto, as cicatrizes da hiperinflação permaneceram por muito tempo. A confiança na moeda e nas instituições financeiras levou anos para se recuperar, e a experiência traumática moldou a mentalidade econômica do país nas décadas seguintes. Medidas como a manutenção de reservas internacionais adequadas, adoção de políticas monetárias prudentes e controle fiscal tornaram-se prioridades para evitar a repetição de uma crise semelhante.
A hiperinflação que atingiu a Argentina nos anos 80 deixou cicatrizes profundas em sua economia e sociedade. A falta de controle sobre a emissão de moeda, a escassez de dólares e a perda de confiança na moeda nacional levaram a um colapso dos preços e devastaram a economia do país. A superação dessa crise exigiu medidas drásticas e reformas econômicas profundas, deixando lições valiosas sobre a importância do controle fiscal, estabilidade monetária e confiança nos sistemas financeiros para evitar futuras crises econômicas.
Você leu sobre a bolsa da Argentina. Se deseja ter rendimentos em dólar, clique aqui e saiba mais!