Na abertura do evento do CEO Conference, André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, discutiu a política de juros e o papel do governo de Luiz Inácio Lula da Silva na ancoragem das expectativas do mercado. O executivo reforçou também o Brasil como protagonista internacional.
O evento foi organizado pelo banco BTG Pactual e se estende até esta quarta-feira (15).
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Acompanhe agora os principais pontos da conversa, mediada pelo jornalista William Waack.
Política fiscal: maturidade institucional deve dar clareza aos próximos movimentos
O chairman e sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves, acredita na maturidade institucional com relação à compreensão do cenário econômico atual.
De acordo com ele, isso será fundamental para o apontamento da direção para a qual o país deverá seguir. Além disso, Esteves reforçou também a importância do papel dos agentes econômicos, com benchmarks críveis, para fomentar as discussões.
“Quanto mais saudável uma política fiscal, menores serão os juros. Isso não é uma novidade, mas sim, um consenso muito claro e óbvio. Algumas teorias monetárias alternativas estão por aí. No entanto, o conhecimento sobre o que funciona e o que não, rapidamente, se expressa através dos preços. Cabe a nós levar racionalidade a essas discussões”, aponta.
O risco dos atalhos na política monetária
Para Esteves, o risco que o país corre hoje na política monetária é a tomada de decisões visando um cenário de curto prazo que tende a não se sustentar mais à frente.
“O presidente Lula tem uma natural e louvável ansiedade de, rapidamente, atender a população que ele vê como seu objetivo de governo. É muito bom termos um presidente com essa preocupação. O meu receio são os atalhos, que não levam a lugar nenhum. A experiência internacional mostra que isso não funciona”, comenta.

Política fiscal responsável para atendimento da política social
Ao ser perguntado sobre a necessidade de rebater as críticas lançadas sobre os agentes econômicos no que tange o papel da política monetária nas questões sociais mais urgentes, o chairman do BTG relembrou a importância da atuação do Banco Central brasileiro para a manutenção de um cenário favorável para o crescimento econômico no longo prazo.
“O mais pernóstico de todos os impostos é a inflação, porque provoca ainda mais desigualdade e pobreza. Os ricos conseguem se proteger, mas os pobres são frontalmente atacados”, observa.
Ele destacou que o arcabouço da política monetária, tal qual temos hoje, está sendo mantido por um Banco Central que vem atuando de forma, razoavelmente independente, – inclusive, durante os governos do PT -, a despeito dessa independência ter se tornado constitucional mais recentemente.
“Essa é uma política que manteve a inflação, razoavelmente, sob controle, principalmente, considerando o passado brasileiro. A tese que aceita ter mais inflação esperando que os juros baixem é muito perigosa. A experiência mostra que todas as vezes que cruzamos um certo patamar de inflação, que gira em torno de 4%, se começa a disparar os gatilhos, que tornam o combate muito mais difícil”, adverte.
“Os juros são uma vergonha?”
Ao ser perguntado sobre o que foi identificada como “uma das maiores críticas vinda de alguns integrantes do partido no novo governo”, o jornalista William Waak cravou: “por quê a banqueiros como você é difícil de reconhecer que os juros são uma vergonha?”.
André Esteves respondeu “porque não são. O juro não é uma escolha voluntária ou isolada. É uma falácia a história que diz que banqueiro gosta de juro alto. Pelo contrário, a inflação beneficia ainda mais os bancos que os juros altos, já que eles prejudicam a expansão do crédito”.
O chairman do BTG lembrou ainda que o Banco Central tem um arcabouço que vai muito além de seu presidente e diretores, na qual há toda uma área técnica competente que se reúne a cada 40 dias para discutir a melhor maneira de conduzir as expectativas e manter o ambiente inflacionário de acordo com a meta de inflação e estabilidade do sistema financeiro.
“Todos estamos do mesmo lado, pois queremos juros baixos e uma inflação sob controle. Mas, como o remédio é amargo, as pessoas tendem a trazer um viés mais ideológico, o que não existe, pois se trata de uma discussão técnica”, reforça.
Quem ganha a queda de braço: governo ou BC?
Neste quesito, Esteves é taxativo: “em uma disputa como essa, se deve torcer para um único lado: o Brasil”.
Ele destacou a importância do trabalho do Banco Central nesse cenário, que vem atuando de forma que considerou como excepcional e apartidária.
“É ingênuo dizer que existe sabotagem ao novo governo, afinal de contas, Campos Neto subiu a taxa de juros até 13,75% em um ano eleitoral. É indiscutível a independência técnica do presidente do Banco Central, que vem demonstrando todo o profissionalismo que o quadro requer. Além disso, ele vem deixando claro que está aberto ao diálogo para esclarecer dúvidas da sociedade”, reitera.
Há espaço para os juros caírem logo?
Para Esteves, as bolas que estão no lado político e que abrem espaço para a queda dos juros são o desenvolvimento de um novo arcabouço fiscal – que seria uma evolução do teto de gastos – e da reforma tributária.
No entanto, o executivo do BTG reforça que a política monetária tem um “quê” de ciência e de arte. “Não se pode baixar os juros no momento em que as expectativas estão piorando em razão dessas incertezas”.
E, embora seja necessário aguardar a condução das reformas, para ele, a melhor maneira de antecipar um cenário seria pensar que o próximo movimento seria de uma redução e não de aumento dos juros. Isso porque, o Brasil se antecipou ao ciclo de subida com relação ao ambiente externo.
“O que irá determinar o ‘quando’ isso deve acontecer é a natureza e profundidade da reforma tributária, do ponto de vista de otimização e produtividade que ela trará à economia. Além de um arcabouço fiscal que nos leve a uma trajetória previsível da dívida pública”, pondera.
Para ele, ao caminhar mais rápido com as reformas, as expectativas vão se tornar mais positivas, o que dará espaço para o Banco Central efetuar a tão almejada redução de juros.
Reformas e a tributação de dividendos
“Vamos tributar o dividendo?” Neste ponto, Esteves se diz favorável à medida e reforça que esse seria um regime tributário mais justo, moderno e correto com a sociedade.
“Não há nada de errado em tributar dividendo, quando se reduz o imposto de renda para a pessoa jurídica em uma conta que seja neutra”, observa.
Ainda sobre a reforma tributária, o chairman do BTG acredita que, embora complexa, ela nunca esteve tão perto de ser concretizada.
“A reforma tributária é sempre a mais difícil de ser feita, pois existem naturais competidores. Contudo, acredito que nunca tivemos tão perto de um consenso. Ela é menos crítica para o movimento dos juros e menos pertencente, de certa forma, ao governo atual, pois já vem sendo debatida há muito tempo”, reforça.
Já a aprovação de novo arcabouço fiscal, tem grande peso sobre as expectativas atuais e está mais ligada à atuação do governo Lula. Para o executivo, o foco de uma aprovação rápida é mostrar aos agentes econômicos que o Brasil tem uma trajetória sustentável da dívida pública.
“O teto de gastos mostra uma efetividade na redução de despesa. Contudo, se for para substituir por algo melhor, acho válido. Esse é um grande teste para o governo e acredito que o Congresso está maduro para adotar um mecanismo simples, mas que traga uma inferência clara sobre a trajetória da dívida”.
Cenário internacional: Brasil pode assumir o protagonismo
Para o Chairman do BTG, o Brasil está diante da oportunidade de surfar um ambiente construtivo, a partir de temas que envolvem questões ambientais e institucionais e que devem colocar o país em um foco privilegiado frente aos investidores internacionais.
“Vejo uma boa vontade em todas as classes de investidores. O tema ambiental e institucional fazem preço no mercado. Tanto o investidor direto quanto o investidor de portfólio estão sendo impactados pela remoção desses problemas. Devemos ter uma precificação de ativos aqui se fizermos um mínimo certo”, diz se referindo à atuação do governo.
Economias avançadas e a desinflação: recessão e desemprego à vista?
André Esteve se mostra cético quanto a um processo mais acelerado de desinflação mundial. Ele aponta que, embora alguns preços globais que apresentaram grande deslocamento nos últimos anos já tenham se normalizado – como frete e gás -, ainda se espera um cenário geral instável no curto prazo.
“Acredito que devemos ter pelos meses à frente muitas discussões para nos ajudar a identificar, de fato, como irá ocorrer a desinflação de forma mais global”, adverte.
Para o executivo, o grande risco imediato viria com uma recessão e desemprego. “O emprego permanece muito forte nos EUA e essa ideia de que o Fed vai subir os juros mais um pouco e que a queda começará no terceiro trimestre me parece muito otimista”, observa.
“Vivemos 15 anos de juros reais negativos na economia americana e no mundo inteiro. Isso criou um mindset de um mundo quase perfeito. Mas o mundo sempre traz seus desafios. Talvez, tenhamos uma desaceleração maior do que a que estamos prevendo”, reitera.
O que o Brasil pode oferecer aos investidores internacionais?
“Não acho que estamos caros na moeda, na taxa de juros, ou mesmo no preço dos ativos financeiros. Então, tem espaço para que o Brasil melhore, mesmo que a situação internacional não seja uma maravilha. Isso se fizermos as coisas, razoavelmente, certas”, reforça Esteves.
Ele ainda lembra que o investidor estrangeiro está relativamente desalocado do Brasil. A participação de investidores estrangeiros na dívida pública ainda está perto das mínimas históricas, aponta.
Tensões geopolíticas favorecem Brasil
E quando se trata das questões geopolíticas, o Brasil pode enfrentar uma abertura positiva nos mercados internacionais diante de tensões deflagradas no cenário atual.
“Estamos vendo quase que uma hibernação quanto ao tema da guerra Rússia-Ucrânia. Isso porque a Europa se acostumou com a guerra, embora o conflito tenha escalado nos últimos meses. Na China, estamos vendo um cenário positivo com a reabertura da economia, mas o desenrolar é preocupante quando pensamos nas tensões atuais com os EUA”, reforça Esteves.
“Estamos vivendo um momento tenso, mas que curiosamente pode ser benéfico para a nossa região no mundo”, conclui.
Neutralidade pode permitir que Brasil assuma liderança
E no que diz respeito a eventuais crises geopolíticas entre China e EUA – dois grandes parceiros do Brasil – o que essa tensão oferece ao Brasil em termos de inserção geopolítica?
“Estamos em um momento muito mais importante que qualquer outro da nossa história, no qual o Brasil é o maior produtor e exportador de alimentos do mundo. Essa é uma condição valorizada internacionalmente”, reforça.
O executivo conclui que o melhor lado para o Brasil é aquele em que é possível continuar a fazer negócios com os EUA, Europa e China, recebendo todos igualmente. “Essa é uma posição de liderança que será mantida se nos mantivermos no campo da neutralidade geopolítica”, finaliza.
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