Após o recuo de 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano retrasado, a atividade econômica no Brasil se recuperou em 2021, com expectativa de crescimento de 4,5%. No entanto, o Brasil deve voltar ao ritmo de baixo crescimento neste ano, que o tem caracterizado desde a saída da recessão de 2014/16. Alguns economistas, inclusive, acreditam em risco de estagnação.
De acordo com a pesquisa do Valor com 105 instituições financeiras e consultorias, a expectativa de crescimento do PIB é de apenas 0,4% em 2022 – 26 casas projetam contração e 13, estagnação. Este percentual reflete a mediana das projeções, isto é, a tendência central das expectativas dos participantes da pesquisa. Para 2021, a mediana é de alta do PIB de 4,6%.
O aperto monetário promovido pelo Banco Central (BC) deve ser o principal fator a dificultar o avanço do PIB neste ano, conforme economistas ouvidos pelo jornal Valor.
Fonte: BTG Pactual
Juros altos e os efeitos na economia
Se, por um lado, a alta da taxa de juros ajuda a conter a inflação, por outro pode gerar recessão na economia, a depender do seu nível em 2022.
Na penúltima reunião do Copom, em outubro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) comentou em nota que a alta prejudicaria a retomada dos empregos e a recuperação da economia. Para Robson Andrade, presidente da entidade, o Banco Central poderia não ter acelerado o reajuste da Selic. Isso porque os efeitos dos aumentos dos juros nos últimos meses já começam a ser sentidos sobre a inflação.
“Os aumentos anteriores da taxa de juros já começaram a ter reflexos na economia. Nesse sentido, percebemos que a atividade econômica dá sinais de desaquecimento e, nos próximos meses, os efeitos defasados do aumento da Selic vão continuar contribuindo para desestimular o consumo e desacelerar a inflação”, declarou Andrade ao portal UOL. Para o presidente da CNI, o impacto negativo dos juros mais altos sobre o crédito para os consumidores e as empresas aumentam as chances de recessão no ano que vem.
Na mesma reportagem ao UOL, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) também se manifestou sobre a alta da Selic. De acordo com a entidade, as sucessivas elevações aumentarão os custos para o comércio e para o setor produtivo em geral. Em comunicado, a ACSP disse que a alta dos juros não se justificaria. A razão é que a pressão dos preços ocorre por problemas de oferta, como alta nos combustíveis e energia, e não por causa do excesso de demanda.
Agropecuária, recomposição de estoques na indústria e investimentos devem evitar um resultado ainda pior do PIB
O desempenho da agropecuária, a recomposição de estoques na indústria e investimentos – a cargo de governos estaduais e prefeituras – devem ajudar a evitar um resultado pior que o esperado.
“A parte fácil da recuperação já aconteceu, ficou para trás. Agora, tendemos a voltar a um padrão de crescimento baixo. O nosso PIB potencial [capacidade de crescimento sem gerar inflação] está na casa de 1% a 1,5%. Assim, quando pensamos sobre o que esperar no médio prazo, as expectativas são baixas”, diz Roberto Secemski, do Barclays.
O economista Andrei Spacov, da gestora Exploritas, diz que o “carregamento estatístico” do quarto trimestre de 2021 para 2022 já está negativo em torno de 0,5%. O PIB iniciou o ano passado acelerado, mas, desde o segundo trimestre está perdendo ritmo.
A preocupação com o recrudescimento da pandemia, por causa da ômicron, já fez muitas empresas adiarem mais uma vez o retorno ao trabalho presencial. Ao menos por enquanto, economistas avaliam que seus impactos sobre a atividade econômica devem ser limitados.
Perspectivas para a Selic em 2022
Para a equipe econômica do BTG Pactual, a próxima reunião do Copom trará novo aumento de juros na ordem de 1,5 pontos percentuais, em direção ao patamar de 11,75% em março.
Segundo os analistas, além da pressão dos preços de bens industriais e serviços, outros fatores também contribuem para a expectativa de a inflação continue subindo. Um deles é a alta dos combustíveis, que compensou a desaceleração de alimentos e energia elétrica. Outro são os questionamentos sobre o cenário fiscal do país.
Já Armando Castelar acredita que a Selic pode chegar a, no máximo, 12% no final de 2022. Em entrevista concedida à revista Conjuntura Econômica, o economista apontou dois motivos pelos quais a taxa de juros não ultrapassaria esse patamar. “ O primeiro é que cerca de 45% da inflação nos últimos 12 meses estiveram concentrados na gasolina, energia elétrica e alimentos. Em 2022, pode haver queda no preço da energia elétrica. Por outro lado, a gasolina não teria razão para subir na mesma escala que tivemos esse ano. Nem o câmbio deverá andar tanto, e nem o petróleo deverá subir tanto no ano que vem. E os alimentos já estão registrando inflação muito alta há dois anos”, observa.
Alta da Selic e cenário político
Para Castelar, a polarização apontada nas pesquisas eleitorais, lideradas por Lula e Bolsonaro, também podem elevar a estimativa da Selic para 2022.
“Nenhum dos dois candidatos sinalizam uma política econômica mais conservadora, que ataque a questão fiscal. Dessa forma, isso pode atrapalhar bastante a economia em 2022, pois fica completamente em aberto o que virá depois da eleição”, afirma.
Outro ponto destacado pelo economista é a diferença entre o contexto atual e o de 2018. Naquele ano, o governo Temer estava enfraquecido, com o dólar apreciado e juros em alta no cenário externo. Dessa forma, a ideia de o atual presidente ter um ministro da Economia que continuasse a agenda reformista e defendesse a responsabilidade fiscal ajudou na recuperação das expectativas.
“Agora, sem que surja um candidato de terceira via que defenda a necessidade de um projeto para o país, teremos um cenário bem mais complicado”, conclui o economista.
Câmbio e eleições no Brasil
Que dúvida não é mesmo? Com dois lados já bem definidos, a mídia vai se dedicar à eventual ascensão de um terceiro nome para a disputa. E para quem tem mais de 4 anos de “Brasil”, o script é bem definido…
- Mercado escolhe um candidato (ou dois) para “torcer”;
- A cada pesquisa que sair, se o candidato preferido estiver bem, US$ cai e bolsa sobe;
- Se for o “outro”, US$ sobe e Bolsa cai;
- Seguimos assim até acabar os dois turnos. Com muita volatilidade…
Com a eleição decidida, costuma acontecer um rali de ativos mais arriscados logo após as urnas serem apuradas. Ganhando o lado preferido ou não… É o tal do otimismo, que sempre aparece após uma disputa bastante acirrada. E depois viveremos das escolhas de ministros, eventuais políticas ou planos a serem implementados etc.
Principais ativos impactados: real, bolsa, taxas de juros e índices futuros de inflação.
Um ano tão agitado assim só pode se traduzir em riscos e muitas oportunidades. Sendo assim, conte com o nosso time de especialistas aqui na EQI para auxiliar a tirar o máximo resultado dos movimentos que teremos na sequência.