A marca de uma semana da invasão russa que iniciou a Guerra da Ucrânia já foi ultrapassada. Este fenômeno gera um sentimento misto de preocupação e otimismo para tentar barganhar com desvalorização de alguns ativos no mercado financeiro. Por isso, antes de fazer qualquer movimentação é preciso estudar a situação e verificar qual é o melhor cenário para o dinheiro render.
O objetivo deste artigo é apresentar informações para orientar a melhor forma de investir com a perspectiva da Guerra.
Como a Guerra na Ucrânia pode afetar a economia brasileira
Há um consenso no mercado financeiro de que a Guerra na Ucrânia irá gerar um boom no preço internacional do Petróleo. Na manhã desta sexta-feira (04), o preço do Brent, principal indicador de compra da commodity, ultrapassou a marca dos US$ 114, uma valorização de 22% desde a invasão russa.
Outro combustível que será afetado pela crise russo-ucraniana é o gás natural. A Rússia é a maior produtora e exporta cerca de 40% para a União Européia, sendo que quase 70% do gás usado na Alemanha é de origem russa. O gás também subiu bastante de preço, passando de US$ 3,49 para US$ 4,84, nesta sexta. Logo, ele valorizou 27% em menos de dez dias.
O setor de alimentos também será fortemente afetado pela guerra. Rússia e Ucrânia estão entre os quatro maiores produtores de trigo do mundo. Além disso, as condições climáticas no sul do Brasil e Argentina estão prejudicando a produção do grão. Como consequência, o preço do trigo já é o maior dos últimos 14 anos.
Além disso, o milho é outro produto agrícola que deve provocar uma alta generalizada nos preços. Além do próprio grão, ele interfere na precificação das carnes, visto que o milho é uma das bases para a fabricação de ração.
Os fertilizantes também devem promover uma alta generalizada nos preços, sendo que Rússia e Belarus são os maiores produtores. Com falta destes componentes, a tendência é o crescimento de todos os produtos agrícolas pela falta de pesticidas e adubos para as plantações.
E agora, o que fazer?
A tendência é ter um cenário global com crescimento nos preços das commodities, inflação e taxas de juros mais altas e um mercado de renda variável bastante volátil. Dessa forma, os analistas do BTG Pactual (BPAC11) e da EQI Investimentos recomendam maior cautela nos investimentos com maiores aportes em renda fixa e ações de empresas mais defensivas na bolsa.
“Com tudo na mesa, não alteramos nossas alocações nos portfólios, pois entendemos que as estratégias já estavam sobremaneira defensivas com percentuais significativos em renda fixa pós-fixada e inflação de curto prazo – as quais reiteramos fundamentais no atual momento de maior volatilidade nos preços dos ativos”, informa relatório do BTG Pactual.
Para reforçar o argumento para investir na renda fixa, o economista do BTG Pactual, Álvaro Frasson, afirmou, durante uma live da EQI sobre a Guerra na Ucrânia, que estes investimentos são os principais ativos para se proteger da intensa volatilidade que a renda variável deve sofrer nos próximos meses.
“Defendemos uma maior posição em títulos pós-fixados, principalmente naqueles CDBs com taxa de 15% e 16% ao ano que ainda tem o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) como garantia”, destaca.
E a renda variável?
A renda variável ainda é uma opção para investir enquanto acontece a Guerra na Ucrânia, mas é preciso ter muita cautela para alocar os recursos. A head da EQI Research, Aline Cardoso, explica que não é momento para apostar, mas para se proteger de eventuais crises que devem aumentar durante o conflito.
“Algumas pessoas apontam o cenário de guerra como favorável à entrada na bolsa. No entanto, o cenário agora é atípico, diferente de tudo que já foi visto anteriormente. É uma nação com arsenal bélico, sofrendo muitas sanções, nós não podemos prever quais as ramificações disso. É hora de se proteger. Não sejam heróis, eu recomendo muita cautela”, afirma.
Frasson também defende a ideia de manter posições mais defensivas para entrar no mercado de ações e que, em muitos casos, as janelas de oportunidade podem se tornar uma porta para o prejuízo.
“A guerra até pode ser uma oportunidade, mas ela pode ser encarada como uma faca que cai e pode te machucar. Há uns dois anos, a IRB [IR Brasil (IRBR3)] valia R$ 44 por ação e já estava depreciado, porque valia mais de R$ 60. Ela caiu para R$ 15 e muita gente acabou pegando, inclusive eu. Mas ela caiu ainda mais e eu me desfiz dela. Então é preciso cuidado”, relata o economista.
Focar em uma carteira mais defensiva
Com o conflito, o mundo pode entrar em um cenário de estagflação, ou seja, inflação alta e crescimento baixo devido ao choque dos preços das commodities. Este ambiente é totalmente desfavorável para ativos de riscos. Assim, Aline Cardoso argumenta que é preciso elaborar uma carteira com ativos mais defensivos como ações de empresas de consumo básico, saúde e utilities (companhias segmentadas para geração de energia elétrica e saneamento básico).
Contudo, há possíveis oportunidades para investir como as petrolíferas. Como foi destacado anteriormente, o barril de petróleo já está bem alto e a expectativa é que ele cresça ainda mais. Logo, Cardoso diz que gosta dos papéis do setor, sobretudo na PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3). Entretanto, ela recomenda cuidado com a Petrobras (PETR3; PETR4) devido ao fator político, que pode segurar e abrasileirar o preço dos combustíveis no Brasil.
O setor agro também pode ganhar um impulso durante este período turbulento, principalmente nas empresas que atuam no Centro-Oeste. “Além da crise na Ucrânia, a seca no sul do Brasil e na Argentina devem dificultar ainda mais o mercado de grãos. Então, os produtores que atuam no Centro-Oeste podem se beneficiar”, afirma Cardoso.
Dentre as empresas do agro, destaca-se a São Martinho (SMTO3), Jales Machado (JALL3), SLC Agrícola (SLCE3) e BrasilAgro (AGRO3).
Cardoso também cita a Vivara (VIVA3) como opção para enfrentar a crise devido às suas características: “público de alta renda; pouco sensível às movimentações do mercado; maior do setor; pouco market-share; vantagem do estoque ser metal precioso (ouro e prata), que deve ter ganhado com a crise recente”.
Além disso, a opção para ações com características mais inelásticas como as exportadoras de celulose Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11); empresas do setor elétrico, como Taesa (TAEE11) e Eletrobras (ELET6); e saneamento básico, como Sanepar (SAPR11), Copasa (CSMG3) e Sabesp (SBSP3).
Em períodos de guerra, o investimento em renda variável apresenta ainda mais risco devido a fatores macroeconômicos preocupantes, como inflação e taxa de juros altas e crescimento baixo. Logo, é necessário ter muito cuidado e analisar todos os riscos inerentes ao investimentos e evitar fazer aportes e alavancagens em ativos de altíssimo risco, que sofrem diariamente com as oscilações do mercado.
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