Como acertar nos investimentos com o atual cenário político e econômico? Vale mais manter a carteira em renda fixa ou arriscar na renda variável?
Como acertar no timing que o cenário político e econômico atual exige sem colocar os ativos mais rentáveis em risco?
Para ajudar os investidores a encontrarem as melhores oportunidades, os especialistas da EQI, Alexandre Viotto, Head de Banking da EQI, Denys Wiese, Head de Renda Fixa e Stephan Kautz, Economista-chefe da EQI Asset analisam o momento.
O encontro fez parte do EQI Talks, evento com lives semanais promovido pela EQI.
Entenda agora como as projeções e cenários afetam o mercado financeiro e os seus investimentos.

Da esquerda para a direita, Viotto, Wiese e Kautz.
Cenário político e econômico internacional: todos contra a Rússia?
Tema de suma importância da atualidade, a análise do cenário internacional começa com o conflito entre Rússia e Ucrânia, no qual muitos no Ocidente se perguntam porque o apoio à Ucrânia não é mais ostensivo.
Alexandre Viotto explica os vieses pelos quais a análise de uma guerra percorre na divisão de mundo entre lado “ocidental” e “oriental”.
“Uma reportagem do The Economist mostrou a divisão dos países quanto à posição diante do conflito. No Ocidente, conforme o esperado, o apoio à Ucrânia é maior, mas existe uma grande parte dos países que se mantem neutra, Brasil incluso”, comenta Viotto.
E quais são os pontos mais relevantes que levam os países a adotarem tais posições diante de um conflito?
Viotto destaca alguns pontos:
Países europeus: sem alternativa energética
- Europa segue sem alternativa energética no momento;
- A região depende da OTAN para a segurança;
- A escalada no conflito aumenta a preocupação com refugiados.
EUA: manutenção da “guerra por procuração”
- Foco do país está na contenção do conflito na Ucrânia;
- Suspensão momentânea da expansão da OTAN na Europa;
- País deve manter “guerra por procuração”: oferecendo apoio político, dinheiro e armamento para o combate;
- Tendência a insistir nas sanções econômicas, mas de forma equilibrada.
China: compra de petróleo e gás mais baratos
- País tende a aumentar sua influência internacional;
- Divergências com Taiwan ficam mais óbvias e podem fomentar uma ação semelhante à ocorrida entre Rússia e Ucrânia;
- País tem comprado petróleo e gás russos a preços descontados;
- RMB (moeda chinesa) passa a ser alternativa viável ao USD para comercialização de petróleo e gás.
Rússia: escalada do conflito até as fronteiras da Finlândia?
- País teve a troca de comando da guerra. Quem assume é o General Dvornikov (Síria);
- Objetivo da saída de Kiev é reagrupar tropas;
- Receio de escalada do conflito: fronteira com a Finlândia, que havia especulado uma entrada na OTAN, está sob perspectiva;
- Rússia deve manter esforços no corredor Sul (Mariupol).
Ucrânia: busca de autonomia a partir de um cessar-fogo
- Tendência a estender o conflito ao máximo;
- Tentativa de manter o apoio do ocidente;
- A partir de um cessar-fogo, deve tentar buscar a garantia de uma relativa autonomia.
França: eleição entre centro x direita
“Na França, o segundo turno repete 2017. Emmanuel Macron, com uma visão mais de centro, segue na liderança contra Marine Le Pen, que hoje se mantém mais à direita. O cenário é mais acirrado, por isso, ainda é preciso acompanhar com atenção os desdobramentos desta eleição”, comenta Viotto.
Estados Unidos: perda de apoio no Congresso, risco de ‘pato manco’
- Inflação americana segue nas máximas;
- Politicamente, presidente Biden não consegue melhorar sua aprovação;
- “Midterm Elections” podem resultar em um “Lame Duck” ou “Pato Manco”, termo usado para ilustrar a perda de apoio no Congresso e, consequentemente, para a aprovação de medidas, o que pode ser um problema grave para a gestão de Biden nos dois últimos anos.
Sanções à Rússia provoca cenário de desglobalização
Ainda sobre o cenário internacional provocado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, Stephan Kautz, Economista-chefe da EQI Asset, chamou a atenção para algumas questões:
- Exclusão da Rússia dos mercados internacionais trará cenário de desglobalização da economia no longo prazo, gerando implicações ao resto do mundo;
- Oferta de trigo global preocupa mais que petróleo no curto prazo: Rússia e Ucrânia são players importantes na produção do grão;
- Escassez de trigo deve inflacionar alimentos ao redor do mundo.
Mundo: principais polos de crescimento com piora nas projeções
O economista-chefe da EQI Asset revisou algumas projeções para três importantes regiões:
- Europa: conflito entre Rússia e Ucrânia deve resultar em baixa na atividade econômica (projeção de 2%) e inflação mais alta;
- China: a adoção de lockdown intenso para conter Covid-19 deve fechar comércios ao redor do mundo.
Projeção de desaceleração do setor de construção civil.
Projeção de crescimento econômico em 5%, com viés de baixa. - EUA: crescimento econômico de 2,6% e risco de desaceleração mais forte.
Retirada dos estímulos fiscais dados durante a fase mais aguda da pandemia.
Inflação (CPI subida de 1,2% mensal e 1,8% ano a ano), o que levará à subida de juros americanos.

Projeção para o PIB. Fonte: EQI Asset

Projeção para inflação. Fonte: EQI Asset
Cenário político e econômico: no Brasil, projeções revisadas para baixo
- Projeção de IPCA de 6,9% para o final de 2022 e 4,2% para 2023;
- PIB: crescimento de 0,5% em 2022;
- Baixo crescimento da economia mundial deve desacelerar o preços das commodities;
- Expectativa de subida dos juros até 13,25% no final de 2022, com inflação desacelerando;
- Projeção de queda da Selic para 8,5% em 2023 e precificação da curva de juros em 10,85%;
- Com redução dos juros bolsa e ações tendem a reagir positivamente.

Projeção para o PIB. Fonte: EQI Asset

Projeção para inflação. Fonte: EQI Asset
Eleições: aprovação do governo de Bolsonaro acirra a disputa
- Pesquisa eleitoral: preferência entre os candidatos Bolsonaro e Lula fica mais acirrada a partir da melhora da aprovação do atual governo nos últimos meses;
- Lula é apontado, segundo as pesquisas, como o mais preparado para reduzir a pobreza e gerar empregos;
- Nesse cenário, a viabilidade da terceira via perde força.
Mundo: subida de juros nos EUA pode ser menor?
- França: eleições devem ser mais acirrada que no passado;
- China: segundo semestre deve acontecer a reeleição de Xi Jinping, mas assessores serão alterados, sinalizando possibilidade de mudanças em termos econômicos;
- EUA: inflação alta motiva desaprovação de Biden (52%);
- Dificuldade de aprovação no congresso com governo “Lame Duck”, pode dificultar a aprovação de novas rodadas de políticas expansionistas, reduzindo projeções de subida de juros.
Cenário econômico atual e a carteira de investimentos
“No curto prazo, o Brasil está em uma posição mais confortável que os demais países do mundo, que hoje enfrentam problemas maiores”, analisa Denys Wiese, head de renda fixa da EQI Investimentos.
Para ele, a elevação dos juros brasileiros ocorreu no timing ideal, embora esse movimento diminua o crescimento do PIB.
“A ação do BC foi correta e nos colocou em uma fase mais avançada do ciclo econômico. Os EUA começaram a subida de juros somente em março, com previsão de mais sete altas no decorrer de 2022, o que sinaliza uma desaceleração econômica maior por lá. Já a Europa é a região com maior problema. A Alemanha está com inflação de 7% e ainda nem começaram a falar de subida de juros”, explica Wiese.
Opções de investimento
O head de renda fixa mostra quais são as melhores opções para a carteira no momento, considerando os cenários econômicos brasileiro, americano e europeu.
País | Juros | PIB | Onde investir |
Brasil | perto do pico | fraco em 2022 | pré-IPCA + ações de valor |
EUA | início da subida em março de 2022 | ainda robusto, mas em desaceleração | pós, títulos curtos, ações de valor |
Europa | ainda não iniciou a alta | ainda robusto, mas em desaceleração | pós, títulos curtos, ações de valor |
Cenário político e econômico: os juros e os investimentos em cada fase do ciclo econômico
Entenda a dinâmica dos juros e os melhores ativos para cada etapa, de acordo com Denys Wiese:
Queda de juros
“Quando estamos iniciando a fase de queda dos juros, o certo é pré-fixar as taxas, para aproveitá-las antes que os juros caiam. No mercado de ações, deve-se investir em ações de crescimento (growth)”.
Meio do ciclo – juros ainda baixos
“Nesta fase é indicado comprar os pós-fixados e continuar com as ações growth”.
Início da subida de juros
“Nesta fase é importante se posicionar em juros pós-fixados e ações de valor (empresas mais estabilizadas)”.
Queda dos juros
“Neste cenário, é recomendado voltar para os pré-fixados, IPCA+ e comprar ações de valor”.
Hora de alongar prazo dos investimentos
De acordo com o Head de Renda Fixa da EQI, está acontecendo algo interessante no Brasil que é a inversão da curva de juros, o que torna este o momento propício para alongar o prazo das aplicações.
“O normal da curva seria seguir a lógica: juros longos são mais altos que os juros curtos. Isso se estabelece, porque a incerteza é maior no futuro que no presente. No entanto, a contundente subida de juros pelo Banco Central está invertendo essa dinâmica. Os juros curtos, com vencimento em 2023/ 2024 estão mais altos. Ao passo que os juros projetados para um futuro mais distante já estão com projeção de queda”, explica.
Para o especialista, o que explica este efeito é a leitura do mercado, a qual entende que os juros altos no presente, viabilizam juros mais baixos no futuro.
Pontos de atenção ao investidor
- O mercado já começou a precificar juros menores no futuro;
- Ainda há janela de oportunidade para a compra de CDBs, NTN-Bs de longo prazo a taxas mais atrativas;
- Resgate de títulos curtos e alocação em títulos longos para taxas mais atrativas por mais tempo;
- EQI Asset: projeção de Selic em 8,5% a.a no final de 2023;
- Para aproveitar boas oportunidades, o investidor deve sempre ter um capital líquido.
Momento é da Renda fixa
“Mesmo que o Brasil comece a baixar as taxas de juros e inicie uma nova fase do ciclo econômico, ainda estaremos mais tranquilos investindo mais em renda fixa. O ideal é diversificar em indexadores, mesclando um pouco de pré, IPCA e de CDI+”, comenta Wiese.
NTNs-B longas: janela está se fechando
“As NTNs-Bs são títulos garantidos pelo Tesouro Nacional, que corrige a inflação. Mesmo que a inflação caia no Brasil nos próximos meses, o cenário mundial se manterá inflacionário. Dessa forma, é importante ter uma parcela dos investimentos atrelados à inflação. As NTNs-B longas são os títulos do governo que os preços mais caíram nos últimos dois anos, por isso, essa é uma janela para comprar títulos bons, já que estão com preços defasados”, destaca.
Janela para dolarizar o investimentos
Para Denys Wiese, existe hoje uma boa janela para quem esperava o melhor momento para a dolarização.
“O dólar caiu nos últimos meses em função dos juros elevados no Brasil, o que atraiu muito capital estrangeiro. Outro fator foram as commodities, que estão com o preço lá em cima. Já na competição com os outros países emergentes, o Brasil está ganhando de ‘WO’, ou seja, o capital acabou vindo para cá, porque os demais concorrentes estão piores”, reitera.
No gráfico abaixo, é possível entender a janela para a dolarização. Na linha amarela, vemos o índice DXY, que mostra como dólar tem se valorizado frente a outras moedas, mas isso não está acontecendo frente ao real (linha branca).
“Geralmente, essas duas linhas são correlacionadas, mas agora, abriu essa ‘boca de jacaré’, que é uma anomalia de mercado. E anomalias não permanecem por muito tempo”, reforça Wiese.
Para o Head da EQI, essa é, portanto, uma boa janela para quem quer dolarizar e desfrutar de um mercado muito maior e menos volátil que o brasileiro.
Bonds (renda fixa no exterior) e ADRs
Os títulos de renda fixa dolarizados, os Bonds são uma boa forma de investir em empresas brasileiras. Esse é o momento ideal para o brasileiro investir em títulos como o do Banco do Brasil, Cosan, Cemig e Petrobrás a uma taxa média entre 8,25 a 9,25%, com retorno anual em dólar. Ter uma parcela do patrimônio investido em uma moeda forte e em uma empresa conhecida, é uma excelente alternativa para o momento atual”, comenta o head da EQI.
É hora de rebalancear a renda variável
Para Denys Wiese, a renda variável merece alguns pontos de atenção:
- Queda dos juros no Brasil ficou para 2023;
- Bolsa está sem gatilho;
- Estamos em um ano eleitoral, que trará uma volatilidade natura;
- EUA começou a subida de juros e o fluxo do capital dos investidores pode mudar;
- Rebalancear olhando para a renda fixa, que está pagando muito acima da média dos últimos anos.
Cenário político e econômico: estratégias de alocação para 2022
Para finalizar, Denys Wiese comenta que a melhor estratégia para o momento é o gerenciamento de risco da carteira de investimentos.

Reprodução/EQI
“Para uma boa alocação é preciso manter uma ‘pizza de diversificação’, de acordo com o perfil do investidor. É preciso aproveitar as rápidas subidas e quedas de algum ativo para fazer os rebalanceamentos, no sentido de vender a classe que está cara e comprar um pouco mais da classe que está barata. Calibrando bem a carteira, ganhando 2% a mais ao ano, faz muita diferença em 5 ou 10 anos. Essas estratégias garantem sucesso em médio e longo prazo em seus investimentos”, finaliza Wiese.
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