O tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) analisará nesta quarta-feira (25) a operação de compra do grupo Big pelo Carrefour (CRFB3) — anunciada em março do ano passado pelo valor de R$ 7,5 bilhões.
O grande temor do Cade e de outras entidades do setor é que com a compra efetivada, haja um controle unitário do setor por uma única empresa. Isso prejudicaria a livre concorrência e fortaleceria apenas uma empresa em detrimento de todas as outras do setor varejista.
- Veja o que falamos na época: Carrefour (CRFFB3) vê sinergias de R$ 1,7 bi com BIG; ações disparam
Cade define se há efeitos negativos para compra do Carrefour
Os conselheiros da entidade vão avaliar se a compra pode trazer efeitos negativos para a livre concorrência no varejo, incluindo supermercados, hipermercado, clubes de compras, atacados de distribuição de alimentos. Além disso, eles analisarão as possíveis sobreposições no mercado de combustíveis.
Segundo as empresas envolvidas na operação, o objetivo da compra é expandir a marca Carrefour para regiões em que ela tem menos influência, como no Nordeste e no Sul do Brasil. Assim, o grupo não só poderá entrar em mercados que ele não está presente — como os clubes de comprar, como também poderá expandir a sua área de atuação.
Se a compra for aprovada, o Carrefour não só terá controle sobre os supermercados de sua marca, como também terá controle sobre o clube de compra Sam’s Club, além dos hipermercados Big e dos supermercados Bompreço e Mercadorama.
SG defende que mudanças são necessárias para selar acordo
Em janeiro deste ano, a Superintendência-Geral (SG) do Cade apresentou um parecer para a aprovação da compra depois que ambas as partes selaram um Acordo de Controle de Concentrações (ACC), se comprometendo a vender algumas unidades. Para a SG, esse acordo foi necessário, pois algumas regiões sairiam prejudicadas após essa fusão pela falta de concorrência, caso a operação fosse adiante sem qualquer intervenção.
Uma das regiões que sofreriam com esse cenário seria Gravataí, no Rio Grande do Sul, local em que às duas marcas têm um peso “considerável”. O ACC das marcas ainda apontou que regiões como Juazeiro do Norte, no Ceará, e Recife, em Pernambuco, também seriam impactadas. Os detalhes do acordo entre Carrefour, Big e a SG são confidenciais.
Julgamento no plenário
Mesmo com os direcionamentos da SG, os conselheiros não são obrigados a seguir as orientações da entidade, analisando a operação com base nos dados colhidos pelo Cade e avaliar os termos do acordo entre a Superintendência-Geral e o Carrefour.
Dentre os envolvidos nas negociações, o conselheiro-relator Luiz Hoffman foi convocado para emitir o seu parecer nesta quarta. A pedido dele, o Cade expediu ofícios para concorrentes do Big e do Carrefour com questionamentos sobre o efeito da operação na concorrência no setor.
“Nesse caso a gente teve um tribunal do Cade sendo bastante ativo em fazer testes de mercado, não é de se descartar a possibilidade de ter algo parecido com o caso da Oi, um mix de remédios oferecidos pelas partes, uma parte já abrangida pelo parecer da Superintendência, um eventual novo ACC negociado pelas partes diretamente no tribunal ou eventualmente imposição unilateral de alguns remédios“, explicou o relator ao jornal O Globo.
Sonda vê fusão como prejudicial para o mercado
Dentre as empresas convocadas pelo Cade a opinar está o grupo Sonda, que tem forte presença em São Paulo. Em respostas as perguntas da entidade, a marca afirmou que a fusão entre Big e Carrefour poderia afetar negativamente a concorrência do setor varejista, já que o grupo teria mais poder e força para negociar com fornecedores e poderiam ter vantagens que “serão dificilmente obtidas pelas empresas de menor porte”.
Para a rede de atacado Dia a Dia, não há necessidade de ressalvas para a operação. No entanto, o grupo destaca que o varejo é considerado uma atividade essencial em termos legais e “não pode correr o risco de um controle unitário do setor por uma empresa”.
Setor do varejo vem forte
O setor de varejo tem tido movimentações fortes nos últimos anos. Em 2021, o grupo Pão de Açúcar vendeu 71 lojas do Extra para o Assaí por R$ 5,2 bilhões em uma disputa com o Atacadão, do Carrefour, pela liderança do mercado atacadista.
Na época da operação, o presidente do Assaí, Belmiro Gomes, estimou que com às unidades do Extra, as vendas poderiam chegar a R$ 100 bilhões até 2024. Ambas as empresas são controladas pelo mesmo grupo, o francês Casino. Por isso, a operação não precisou passar pelo crivo de Cade.
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