O Fomc, comitê de política monetária do Fed, o banco central dos Estados Unidos, em sua última reunião de 2022 realizou nova alta dos juros. A tendência de alta permanece, embora haja divergências sobre até onde vão os juros EUA.
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As divergências, como se vê na tabela abaixo, existem principalmente em relação ao ciclo de altas a partir do ano que vem e por quanto tempo o Fed conseguirá manter os juros em alta mesmo sob o risco de recessão, ou seja, de retração na atividade econômica a ponto de causar queda no PIB (Produto Interno Bruto).
Previsões juros EUA

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O Fomc decidiu, na primeira reunião de 2023, subir a taxa de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, confirmando as expectativas do mercado, para o intervalo 4,5% e 4,75% ao ano. A decisão foi tomada de forma unânime pelo colegiado.
Esta é a oitava alta consecutiva na taxa de juros norte-americana. Apesar da alta, o ritmo de crescimento do juro americano diminuiu de intensidade.
Em setembro de 2022, quando o ciclo de alta ainda se iniciava, o presidente do Fed, Jerome Powell, prometeu manter os juros elevados até que a inflação chegue a 2%. Nesta semana, James Bullard, presidente do Fed de St. Louis, afirmou que os juros podem chegar a até 7% ao ano.
Uma semana depois, o presidente do Fed, Jerome Powell, pontuou que há perspectiva de um declínio acentuado da inflação para este ano. Ele confirmou que o processo de desinflação nos EUA, com a queda da inflação, está começando, mas ainda há um longo caminho pela frente.
Powell disse ainda que o payroll, folha de pagamentos oficial dos EUA, veio muito acima do que se esperava e que o mercado de trabalho permanece muito forte.
“É bom ver o começo da desinflação sem ser às custas do mercado de trabalho. Mas se os dados continuarem fortes, podemos ter de aumentar ainda mais os juros”, comentou ele na ocasião.
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Juros EUA: última ata do Fomc aponta risco de recessão elevado
A ata do Fomc, ligado ao Federal Reserve (Fed), revelou que ainda são elevadas as chances dos Estados Unidos entrarem em recessão neste ano, após os aumentos de juros. Sobre a alta dos juros, aliás, a extensão das elevações serão decididas após os efeitos que vierem do aperto monetário.
“Em parte refletindo os efeitos defasados do aperto monetário anterior, a equipe ainda projeta que o crescimento real do PIB (Produto Interno Bruto) desacelere acentuadamente este ano e que o mercado de trabalho diminua”, destacou trecho da ata do Fomc.
O documento mostrou ainda que a previsão da equipe mantinha uma a estimativa uma aceleração no crescimento do PIB a partir do próximo ano, embora a elevação projetada da produção em 2024 e 2025 permaneça abaixo da estimativa da autoridade monetária.
Ainda segundo a ata do Fomc, com base na variação de quatro trimestres, a inflação total dos preços do PCE foi projetada para ser de 2,8% em 2023, e a inflação principal era de 3,2%, ambas abaixo da projeção de dezembro.
“Com os efeitos dos desequilíbrios entre oferta e demanda nos mercados de bens esperados para desacelerar ainda mais e os mercados de trabalho e produtos projetados para se tornarem menos rígidos, a equipe continuou a prever que a inflação cairia ainda mais em 2024 e 2025”, diz parte do documento.
EQI Asset avalia extensão do ciclo de altas
Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset avaliou que a ata tem um teor de preocupação dos membros do Fomc com o processo inflacionário. Sinal disso é o fato de alguns participantes do comitê terem votado por um aumento de 0,5 ponto percentual.
“Isso obviamente é uma indicação de risco de mais altas de 0,25 ponto ao longo do tempo, dado que os membros estão preocupados com o cenário de inflação”, disse.
Ele explicou ainda que no âmbito da inflação, os números como o payroll e o CPI, que vieram acima do consenso, seriam um potencial para subir os juros por mais tempo. “A ata demonstra essa preocupação e os números corroboram essa perspectiva”, completa.
O impacto dos juros EUA no Brasil
A alta dos juros nos EUA por um período e com índices maiores do que o esperado inicialmente deve ser um fator a mais para atrasar a queda dos juros brasileiros, já que taxas altas em mercados considerados mais sólidos tendem a atrair investidores, e mercados emergentes, como o brasileiro, precisam aumentar a rentabilidade para manter esses investimentos.
A Selic, taxa básica do Banco Central, está em 13,75% ao ano, e o mercado estimava o início da queda para o início do segundo semestre de 2023. Mas, além dos juros em alta nos EUA – e também no Reino Unido e na União Europeia – também pesa nessa conta o cenário de incertezas no país quanto à responsabilidade fiscal do novo governo, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, que tem mandato fixo até dezembro de 2024, declarou nesta sexta-feira que as incertezas fiscais deixadas durante a transição devem mexer na política monetária, afetando o ritmo de queda das taxas de juros.
“Agora a precificação é de alta no curto prazo em função de incertezas fiscais. De acordo com as expectativas do mercado, ainda há trabalho a ser feito no curto prazo”, disse Campos Neto em evento da Bloomberg.
Ata do Copom: “falta de visibilidade das contas públicas”
Em meio às críticas do atual governo à atuação do Banco Central, foi divulgada em 7/02 a ata do Copom, que justificou a manutenção da taxa básica de juros, Selic, em 13,75%, novamente apontando para os riscos fiscais e a desancoragem das expectativas de inflação.
“A revisão do arcabouço fiscal diminui a visibilidade sobre as contas públicas para os próximos anos e introduz prêmios nos preços de ativos e impacta as expectativas de inflação”, afirma o Copom.
“O Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação”, complementa.
No entendimento do mercado, a Selic deve ser mantida em 13,75% até dezembro deste ano.
EQI Asset avalia mercado à espera de definições
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, a ata do Copom trouxe algumas informações adicionais em relação ao comunicado emitido após a decisão de manter a taxa Selic em 13,75%.
“Ela traz um ponto de que, talvez, o fiscal de 2023 não seja tão ruim assim para a política monetária. Basicamente, pelo fato de que as projeções ainda não consideram o pacote anunciado pelo ministro Fernando Haddad. Então, poderia haver algum tipo de compensação em relação à piora com a PEC da Transição aprovada no final do ano passado”, diz.
O pacote de Haddad foi anunciado em meados de janeiro e apresenta como uma das medidas o fim da desoneração de impostos sobre a gasolina e o etanol, prevista para começar a valer no início de março.
Outra desoneração a ser suspensa é a feita para empresas não financeiras sobre ganhos financeiros, anunciada no fim do ano passado e que deve render cerca de R$ 4,5 bilhões. Além disso, o governo pretende fazer ajustes sobre a base de cálculo da arrecadação de PIS e Cofins após o ICMS, a partir de decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal em 2021.
Kautz frisa, porém, que o mercado ainda não tem ideia do que será o novo arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos. Com isso, fica mais difícil projetar o que vai acontecer a partir de 2024, o que pressiona a inflação. “Existe o risco de vir alguma coisa ruim dentro desse novo arcabouço e isso faz com que as expectativas de inflação desancorem e subam pela incerteza do que vai ser feito”.
Outro ponto de dúvida é sobre as novas metas de inflação. O Banco Central não entrou em detalhes sobre esse assunto.
“Com isso, as projeções do Banco Central subiram por causa dessa piora das expectativas. O BC vê necessidade de que os juros fiquem parados por um período mais longo, ficando dependente das duas informações: novo arcabouço e metas da inflação. E pelo menos até junho nada deve acontecer. Com isso, mantemos nosso cenário de que a Selic fique em 13,75% até o final deste ano”, diz.
Juros EUA: como interferem na economia brasileira?
Os Estados Unidos são a maior potência econômica do planeta. Qualquer decisão que por lá seja tomada reflete nos mercados globais e não poderia ser diferente com o Brasil.
O ponto inicial de toda essa movimentação é que o governo norte-americano é dono dos títulos considerados mais seguros do mundo. A última coisa que o grande capital esperaria desse país seria um calote.
Assim, quando há o anúncio do aumento da taxa de juros pelo Fed (o Banco Central dos EUA), há uma tendência que mais investidores aportem seu dinheiro lá.
Principalmente se existe uma inclinação para um ciclo de aumento na taxa de juros, como acontece agora. Espera-se que esse nível atinja entre 1% e 2% ao ano.
Nesse sentido, o Brasil pode ser afetado diretamente pela fuga de capital. Aplicações financeiras que aqui estão podem ser sacadas e redirecionadas para a terra do tio Sam.
Como iniciamos nossa elevação da Selic bem antes dos EUA e seu valor é mais alto, isso atrai investidores. Além disso, nossa bolsa está com ótimos ativos a preços descontados.
Denys Wiese, economista e head de renda fixa da EQI Investimentos, explica que, por mais que os juros nos EUA estejam ainda baixos comparados ao do Brasil, a tendência é que por lá eles aumentem mais. Ao passo que, por aqui, eles devem ser reduzidos no decorrer de 2023 e 2024.
E encarar o risco Brasil com a diferença de juros se estreitando passa a ser interessante para poucos. Vale lembrar que poucos mercados são páreos para os títulos soberanos norte-americanos.
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