De junho até o mês de setembro, as ações da Petrobras ($PETR3; $PETR4) já valorizaram mais de 21% em três meses. O que motivou a alta das ações da estatal?
Durante este período, o preço do barril de petróleo tipo Brent escalou de US$ 72,23 para os US$ 91,91 da cotação desta quarta-feira (13). Do final de junho para cá, a commodity também subiu 21%. Coincidentemente, a mesma proporção de alta da Petrobras.

Mas será que este movimento foi mesmo uma coincidência?
Além do avanço do preço do petróleo no mercado internacional, vale fazer outra reflexão sobre a Petrobras. Em 2023, mesmo com todo o risco político atrelado à estatal, as ações preferenciais da companhia, a PETR4, subiram mais de 44% no ano.
Mais do que isso, as casas de análise estão com um olhar diferente para a Petrobras. Recentemente, o banco BTG Pactual ($BPAC11) mudou a recomendação da Petrobras de neutro para compra no final do mês de agosto.
Enquanto a EQI Research colocou as ações da PETR4 em sua carteira recomendada de ações do mês de setembro.
Com esse pano de fundo em mente, o portal EuQueroInvestir reuniu as principais informações sobre a Petrobras e o petróleo para averiguar se é hora de investir na estatal para aproveitar este movimento de alta.
Por que o preço do barril de petróleo subiu tanto?
Antes de analisar a Petrobras em si, vale a pena entender todo o contexto que levou os preços do barril de petróleo a escalarem nos últimos dois meses.
Na semana passada, a Rússia anunciou a redução de 300 mil unidades de barril de petróleo por dia até o final do ano. Mesmo sendo sancionados, os russos são o segundo maior exportador da commodity no mundo. Dessa forma, qualquer alteração na oferta de petróleo tem repercussões no mercado internacional.
Ao passo disso, a Arábia Saudita, a maior produtora mundial, também tomou uma medida semelhante, mas com um corte muito mais significativo, da ordem de 1 milhão de barris por dia.
Em uma aula básica de economia, quando ocorre uma redução na oferta de um produto e serviço, mas a demanda permanece estável, a tendência é um aumento nos preços.
Isso é o que aconteceu com o petróleo no mercado internacional.
Além disso, houve um aumento na demanda por diesel, que é derivado do petróleo bruto, em todo o mundo, devido às temperaturas extremas de calor e frio. Essa foi a avaliação de Heitor Paiva, analista de petróleo da Maesk, para o Inteligência Financeira.
Outro fator que contribui para a valorização do petróleo é que a reserva da commodity nos Estados Unidos (EUA), o maior consumidor mundial, está no nível mais baixo desde 1983, de acordo com os dados da Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA).
Por que investir na Petrobras?
Além do contexto de alta nos preços do petróleo, há outros motivos para investir na Petrobras. Por isso, vamos explorar os argumentos da EQI Research e do BTG Pactual Research para entender a tese de investimentos na estatal.
EQI Research
Em seu relatório de apresentação da carteira recomendada para setembro, a EQI Research destaca que a Petrobras dispensa apresentações.
“Após passar por um processo de reestruturação, que incluiu o desinvestimento em diversas unidades de negócios, PETR é hoje fundamentalmente uma empresa de produção e exploração de petróleo, com negócios ainda relevantes, mas comparativamente menores, em refino e distribuição de gás natural”, cita o relatório.
Nova política de distribuição de dividendos
De acordo com a EQI Research, a definição da nova política de distribuição de dividendos afastou os piores temores em relação à Petrobras.
“A nova política, se não é uma garantia completa contra os investimentos ruins pela administração, estabelece critérios e limites claros“, afirma o documento assinado por Luís Moran, head da EQI Research.
Riscos ainda existem, mas atratividade é clara
O relatório destaca que as ações da Petrobras ainda devem ser negociadas com desconto em comparação com seus pares internacionais. Esse desconto é motivado pelo reflexo do controle governamental e do risco político presente na companhia.
Um dos exemplos deste uso político, segundo a EQI Research, é a atual política de preços dos combustíveis que não é clara.
“Ainda assim, acreditamos que o desconto em relação aos pares possa diminuir ao longo do tempo, com PETR4 sendo a ‘porta de entrada’ para o fluxo de investidores estrangeiros em busca de ações com grande liquidez”, conclui.
BTG Pactual
O BTG Pactual elevou o rating da Petrobras de neutro para compra. No relatório, os analistas Bruno Lima, Pedro Soares e Thiago Duarte ressaltam que os riscos associados a Petrobras são menores hoje.
Essa alteração na percepção do BTG foi de encontro a decisão da petrolífera aumentar os preços dos combustíveis. Essa atitude fez com que a equipe de research do banco retirasse as últimas razões para visão cautelosa em relação à tese de investimentos.
“Havíamos subestimado os mecanismos de defesa oferecidos pelo (aprimorado) estatuto da Petrobras, bem como a proteção da lei das empresas estatais. Agora acreditamos (e esperamos) que a alocação de capital da Petrobras não pode ser tão facilmente modificada, protegendo os resultados, preservando seu balanço enxuto e melhorando a visibilidade de que os dividendos permanecerão mais relevantes por mais tempo”, diz o relatório.
Lucros mais altos, balanço enxuto e… múltiplos mais altos
Segundo o BTG, a compra de ações de qualquer empresa deve ser baseada em pelo menos um dos seguintes fatores:
- expectativa de crescimento dos lucros,
- capacidade de desalavancagem ou
- redução na percepção de risco.
Na opinião de analistas, a Petrobras oferece pelo menos dois desses fatores.
O relatório ainda explica que a expectativa de crescimento dos lucros da Petrobras é positiva, devido à alta demanda por petróleo e gás no mundo. A empresa também está se beneficiando da alta dos preços do petróleo, que está ajudando a melhorar a sua margem de lucro.
Além disso, a Petrobras está em processo de desalavancagem, o que significa que está diminuindo sua dívida. Isso é positivo para a empresa, pois reduz seu risco financeiro e aumenta sua capacidade de investimento.
Por fim, os analistas acreditam que a percepção de risco da Petrobras está diminuindo. Isso ocorre porque a empresa está apresentando um plano de negócios mais transparente e os investidores estão ganhando confiança de que a alocação de capital da empresa não mudará muito.
Dividendos extraordinários
O BTG Pactual acredita que a Petrobras pode pagar dividendos acima do normal em 2023 e 2024. A empresa está se aproximando dos limites superiores de sua reserva de lucros, conforme estabelecido em seu estatuto social.
Para destinar a forte geração de caixa esperada no segundo semestre de 2023, a Petrobras precisará criar uma reserva estatutária ou pagar mais do que o estipulado em sua política de dividendos (45% fluxo de caixa menos capex).
O BTG Pactual estima que esse valor extra poderia ser de US$ 5,3 bilhões (yield de 6%) no final de 2023 e US$ 4 bilhões (5%) ao final de 2024. Combinado com as estimativas baseadas na política de dividendos de US$ 5,9 bilhões (yield de 7%) e US$ 11,8 bilhões (yield de 14%) para 2S23 e final de 2024, isso pode resultar em yields de 13% para 2023 e 19% para 2024.
O banco acredita que alguns investidores permanecerão céticos sobre pagar antecipadamente por esse evento, pois isso provavelmente só será decidido no início de 2024.
“Contudo, observamos que uma reserva estatutária deve ser aprovada em uma assembleia de acionistas e que sinais recentes sugerem que o controlador (governo) gostaria de receber recursos extras incorporados ao orçamento, o que é propício para que esse pagamento adicional se torne recorrente”, conclui o relatório do BTG sobre a Petrobras.
Conclusão
Com base nos argumentos apresentados acima, a Petrobras é uma empresa com perspectivas positivas no futuro. Aliado a isso, a alta nos preços do petróleo deve impulsionar os lucros da empresa.
No entanto, a empresa ainda enfrenta alguns riscos, como o controle governamental e a volatilidade dos preços do petróleo.
Considerando esses fatores, a Petrobras ainda é uma boa opção de investimento para investidores que estão procurando uma empresa com potencial de crescimento de lucros e dividendos. Contudo, é importante estar ciente dos riscos envolvidos antes de investir.