O que acontece com as ações do Banco do Brasil (BBAS3)? Os papéis do banco estavam avançam 2,72% nesta segunda-feira (4), cotadas a R$ 18,85, em movimento de recuperação técnica após despencarem 6,85% no pregão da última sexta-feira. A reação do mercado reflete um ajuste pontual após a forte queda, que foi desencadeada pela divulgação de dados preliminares do Banco Central, os quais apontaram um lucro implícito para muito abaixo das expectativas do mercado.
A piora nas ações do banco estatal na sexta-feira coincidiu com a publicação dos dados de maio sobre o sistema financeiro nacional. De acordo com os números do BC — utilizados por analistas como um “proxy contábil” dos resultados mensais das instituições financeiras — o Banco do Brasil teria registrado lucro líquido de apenas R$ 516 milhões em maio de 2025. O valor representa uma queda expressiva em relação aos R$ 3,475 bilhões registrados no mesmo mês do ano anterior, e também é inferior aos R$ 1,735 bilhão apurados em abril deste ano.
Embora os números do BC sejam passíveis de ajustes e não representem os dados consolidados da instituição, eles acenderam um sinal de alerta sobre a performance do banco no segundo trimestre, especialmente em razão da deterioração acelerada de sua carteira de crédito voltada ao setor agropecuário — segmento no qual o Banco do Brasil tem forte atuação e liderança de mercado.

Ações do Banco do Brasil (BBAS3): crédito agrícola procupa
O desempenho recente das ações do BBAS3 reflete não apenas a reação ao dado preliminar do BC, mas também uma tendência de reavaliação mais ampla das projeções de lucros da instituição para os próximos trimestres. De acordo com um relatório de análise do BTG Pactual (BPAC11), as projeções para o lucro líquido do segundo trimestre foram revistas para baixo e agora giram em torno de R$ 5 bilhões, o que implicaria um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) de 11,1%. Para 2025, a estimativa também foi ajustada para R$ 23,5 bilhões (ROE de 12,5%), representando cortes de 23% e 20% em relação às projeções anteriores.
Essas novas estimativas para o BBAS3 estão abaixo do consenso de mercado em 3% e 14%, respectivamente, de acordo com o relatório. A deterioração persistente da carteira agropecuária é apontada como o principal fator de pressão. Os analistas também alertam que o guidance de lucro ajustado do banco deverá ser revisto com a divulgação oficial dos resultados do segundo trimestre, marcada para 14 de agosto. A nova faixa esperada para o lucro ajustado em 2025 está entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões.
Outro ponto de atenção é a possibilidade de redução no índice de distribuição de dividendos (payout), que pode recuar para 30%. A combinação de queda nos lucros e menor distribuição de proventos tende a afetar diretamente o apelo da ação no curto prazo, principalmente entre investidores focados em renda.
Desde a divulgação do resultado decepcionante do primeiro trimestre, em 15 de maio — que já indicava sinais de fragilidade —, as ações do BBAS3 acumulam queda de 22%, e a perda chega a 32% desde o fechamento do pregão no dia da divulgação. O desempenho negativo contrasta com o de seus principais pares no setor bancário: Santander avança 1,63% nesta sessão (R$ 26,24), Bradesco ON sobe 0,67% (R$ 13,46), Bradesco PN ganha 0,51% (R$ 15,62) e Itaú registra alta de 0,66% (R$ 35,16).
Postura neutra e cenário desafiador
Embora as ações do Banco do Brasil tentem se recuperar parcialmente nesta segunda-feira, analistas mantêm uma postura neutra ou cautelosa com relação ao papel no curto prazo. A volatilidade recente é vista como reflexo de um cenário desafiador, com risco de revisões adicionais nos lucros futuros, caso a deterioração do setor agro persista.
“O problema é que, quanto mais aprofundamos nossa análise, mais acreditamos que nossas estimativas anteriores estavam otimistas demais”, afirma um dos trechos do relatório, que também revisou para baixo as projeções de lucro por ação (LPA) para 2025 e 2026. A nova estimativa para o lucro líquido de 2026 é de R$ 28,2 bilhões (ROE de 14,2%), ainda 10% abaixo do consenso atual.
Com a proximidade da divulgação dos resultados do segundo trimestre, o mercado deve manter o foco em sinais de estabilização da carteira de crédito rural, ajustes nos índices de inadimplência e possíveis mudanças nas diretrizes estratégicas da instituição.
Enquanto isso, as ações do Banco do Brasil seguem pressionadas, oscilando entre movimentos técnicos de correção e preocupações estruturais com a rentabilidade futura da instituição estatal.