Altos funcionários do governo de Trump estão avaliando a possibilidade de adquirir participações acionárias em grandes empresas de defesa dos Estados Unidos, como a Lockheed Martin. A informação foi confirmada pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick, em entrevista ao programa “Squawk Box” da CNBC.
A discussão surge dias após o governo norte-americano ter comprado 10% das ações da Intel (INTC; ITLC34), em um acordo avaliado em aproximadamente US$ 9 bilhões. A medida representou um movimento inédito de intervenção estatal em um setor estratégico da economia e abriu caminho para especulações sobre novos passos em direção ao setor de defesa.
Questionado se o mesmo poderia ocorrer com empresas contratadas pelo Pentágono, Lutnick foi direto: “Ah, há uma discussão monstruosa sobre defesa”. O secretário destacou ainda a relevância da Lockheed Martin, que obtém a maior parte de sua receita de contratos federais, descrevendo-a como “basicamente um braço do governo dos EUA”.
Lockheed Martin no centro das atenções
A Lockheed Martin é atualmente a maior empresa de defesa do mundo em receita, segundo o ranking de 2024 da DefenseNews. Além dela, outras companhias como RTX, Northrop Grumman, General Dynamics e Boeing também estão entre os principais contratantes do governo americano.
O interesse do Pentágono em adquirir participações acionárias nessas empresas levanta questionamentos sobre o grau de controle que o governo de Trump deseja exercer no setor. Em declaração à CNBC, Lutnick afirmou: “Esses caras estão nisso e estão pensando nisso”. Ele também sugeriu que o presidente Donald Trump estaria reavaliando as formas de financiar munições e capacidades de defesa, sinalizando uma possível mudança estrutural no orçamento militar.
A Lockheed, em resposta oficial, destacou: “Como fizemos em seu primeiro mandato, continuamos nosso forte relacionamento de trabalho com o presidente Trump e seu governo para fortalecer nossa defesa nacional”.
Entre estratégia econômica e críticas ao modelo de mercado
O movimento de Trump ao adquirir parte da Intel foi justificado pelo governo como forma de fortalecer a liderança norte-americana em semicondutores. Segundo Lutnick, o acordo com o CEO da Intel, Lip-Bu Tan, “fortalece a liderança dos EUA em semicondutores, o que fará nossa economia crescer e ajudará a garantir a vantagem tecnológica dos Estados Unidos”.
Por outro lado, a estratégia tem recebido críticas duras, inclusive dentro do próprio campo conservador. O economista Scott Lincicome, do Cato Institute, alertou em artigo no Washington Post que “o risco mais imediato é que as decisões da Intel sejam cada vez mais orientadas por considerações políticas em vez de comerciais”.
O senador republicano Rand Paul também questionou a decisão. Em publicação no X, escreveu: “Se socialismo é o governo possuir os meios de produção, o governo possuir parte da Intel não seria um passo em direção ao socialismo?”.
Esse embate entre fortalecimento da segurança nacional e princípios do livre mercado promete se intensificar caso o governo de Trump avance na ideia de adquirir fatias de grandes empresas de defesa.
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