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Dividendo, esse incompreendido: confira coluna de Luís Moran

Dividendo, esse incompreendido: confira coluna de Luís Moran

Os ciclos de altas e baixas do mercado de ações têm um impacto interessante de trazer certos estilos de investimentos “à moda”, dependendo de seus resultados recentes.

Por exemplo, quando o mercado passa por um longo período de alta, é comum que os investidores agressivos se tornem famosos e atraiam a atenção da imprensa e do público. Da mesma forma, após um período de queda prolongada, investidores conservadores se tornam os astros. 

A “última moda” é o foco em empresas pagadoras de dividendos. Para os proponentes deste método, ações com dividendos elevados seriam sempre preferíveis às ações que pagam dividendos baixos. É fácil, contudo, ver que esta é uma simplificação exagerada da realidade, que pode levar rapidamente para decisões incorretas. 

Foto de homem utilizando calculadora

De volta ao básico

Vamos começar por um ponto básico: uma ação representa uma fração dos ativos de uma companhia possui, incluindo naturalmente o caixa.

O acionista de uma companhia já tem o direito sobre uma fração do caixa desta companhia. O dividendo é apenas a transferência deste caixa da companhia para os acionistas. Ou seja, ao invés de possuir caixa indiretamente, por meio da companhia, o acionista passa a possuir caixa diretamente. 

Ou seja, o simples fato de a companhia distribuir o caixa não significa criação de valor. É como se você distribuísse parte do dinheiro que estava concentrado no bolso direito da sua calça para o bolso esquerdo. O valor total que você tem não mudou.

Da mesma forma, as companhias determinam em uma data, chamada data-ex, a partir da qual as ações passam a ser negociadas sem direito aos dividendos declarados. Neste dia, o preço de abertura das ações é ajustado, descontando o valor dos dividendos do fechamento do dia anterior. 

A geração de valor para o acionista não acontece quando o dividendo é declarado ou quando ele é pago, mas quando a companhia executa seu plano de negócio: cria, produz, vende e recebe seus produtos e/ou serviços. Uma vez criado este valor, a administração da companhia, que representa formalmente os seus acionistas, tem que tomar a decisão sobre o que fazer com o valor criado. E existem fundamentalmente duas alternativas:

  1. Se a administração acredita que o negócio pode continuar a crescer e que há mais valor a ser criado no futuro, a decisão racional é  investir para expandir o negócio e usar todo o valor gerado para financiar essa expansão. Mais máquinas, mais colaboradores, mais despesas com marketing, etc. O dividendo será zero (ou o mínimo legal);
  2. Se a administração acredita que o negócio está maduro e o crescimento futuro é limitado, a decisão racional seria investir o necessário e distribuir o restante para os acionistas, para que estes encontrem melhor uso para o seu capital em outras oportunidades mais atraentes.

Uma terceira alternativa seria a administração usar o valor gerado para entrar em outros negócios, diversificando o foco da companhia, mas esta é uma discussão para outro artigo.

E neste ponto fica bastante claro que escolher ações com base nos dividendos é uma maneira imperfeita de avaliação, pois olha somente como o valor gerado NO PASSADO foi distribuído.

O fator relevante para a avaliação de um investimento é o valor a ser gerado NO FUTURO. 

Isso não quer dizer que empresas pagadoras de dividendos sejam piores ou não tenham lugar na sua carteira. Por exemplo, se você quer uma fonte regular de renda, ações de empresas pagadoras de dividendos podem ser uma alternativa interessante, até pelo tratamento tributário mais favorável que os dividendos recebem. Mas os dividendos não devem ser os únicos (ou nem mesmo os principais) fatores de decisão de investimentos.  

Por Luís Fernando Moran, head da EQI Research