O mercado de carros elétricos no Brasil cresce, mas seu futuro é incerto por uma série de fatores: preço, autonomia e infraestrutura.
Isso porque o valor deste tipo de veículo costuma ser maior do que os modelos convencionais, embora na ponta do lápis a relação custo-benefício costuma valer a pena.
Para se ter ideia, o veículo elétrico mais barato no Brasil, conforme levantamento do site especializado Garagem360, mostra que o JAC E-JS1 custa R$ 145,9 mil. Trata-se de um preço considerável para um mercado que, com o mesmo valor, se pode adquirir uma BMW 320i.
Ou seja, o patamar de preço está emparelhado com o patamar dos automóveis considerados Premium, ao menos no mercado brasileiro. Isso faz com que o comprador esteja interessado não apenas em dirigir um elétrico, mas também engajado em toda a proposta que ele traz consigo: menor ruído e independência dos combustíveis fosseis.
Da perspectiva da autonomia, é certo que os automóveis elétricos estão vindo com cada vez mais capacidade de rodar por longas distancias até, por fim, demandar carregamento. Usando o mesmo parâmetro anterior, para exemplificar, o JAC E-JS1 roda até 300 quilômetros. Os carros elétricos de maior porte podem alcançar até 400 quilômetros de autonomia.
Em relação à infraestrutura, talvez este seja o maior problema vivenciado por este mercado no Brasil. Acontece que boa parte das estradas do país é precária, com muitos buracos, falta de sinalização e outros detalhes que não passam despercebidos por quem costuma pilotar por trabalho ou por lazer.
Também relacionado à infraestrutura, a rede de recarga em espaços públicos ainda está defasada. Na Europa e Estados Unidos é bem mais comum encontrar estações de recarga. Ainda assim, há empresas brasileiras extremamente otimistas com esse mercado. É o caso da Weg (WEGE3), empresa que originalmente desenvolvia motores elétricos em Santa Catarina.
Atualmente, é difícil listar toda a gama de produtos e serviços que a jaraguaense desenvolve, com polos no Brasil e no exterior, em especial no que diz respeito a alguma tecnologia embarcada. Esta é uma companhia que se reinventa a todo instante.
Tanto é assim que implementou uma parceria com a Neoenergia (NEOE3) para desenvolver estações de recarga. O projeto foi anunciado em janeiro de 2022 e isso mostra que o mercado está dando os primeiros passos nessa direção.
Apenas dez meses depois a catarinense anunciou que entrará efetivamente em carros elétricos quando os volumes crescerem no Brasil. Presidente-executivo do grupo, Harry Schmelzer Jr., disse, na ocasião, que o desenvolvimento de veículos elétricos no mundo está ocorrendo com uma velocidade muito rápida.
A Weg pretende avançar na estratégia de tornar a mobilidade elétrica uma realidade no Brasil, bem como atender de forma estrutural toda a cadeia necessária para a viabilização dos veículos elétricos.

Carros elétricos: descarbonização levará 70 anos
Outro ponto que o investidor deve se ater quando olhar para o mercado dos carros elétricos diz respeito à descarbonizção.
É o que diz, por exemplo, o presidente do Conselho de Administração da Tupy (TUPY3), Ricardo Durazzo, para quem o consumo de carvão, petróleo e gás natural domina a matriz energética global, representando 81% do uso, atualmente.
Segundo ele, aos poucos empresa de Joinville (SC) está descarbonizando suas operações, entretanto, esse ciclo vai levar 70 anos para todas as companhias. Acontece que, disse, a descarbonização, do jeito que é tratada atualmente pela imprensa e instituições engajadas, não atende a indústria geral no curto prazo.
O executivo calcula que no Brasil devem rodar cerca de dois milhões de caminhões, dos quais 30% são veículos com mais de 15 anos, sem qualquer controle de emissões.
Se houvesse substituição da frota, haveria redução de 70% do material particulado, que são partículas muito finas de sólidos ou líquidos suspensos no ar, bem como redução de 50% da emissão de MOX, que é o Oxido Nitroso.
Além disso, elencou, a descarbonização não vai sair de graça. “Ela vai custar caro e vai ser inconveniente. A indústria queima carvão, petróleo e gás nos últimos 200 anos porque é muito barato”.
Com a afirmação, Durazzo quis fazer um contraponto à tendência de implementação de nova matriz energética, dita limpa, que não tem capacidade de ser absorvida pela indústria da maneira como vem sendo abordada. “Esta é a razão pela qual o consumo de combustíveis fósseis continuará a crescer no mundo. Os subsídios que têm sido dados às novas tecnologias não se justificam hoje”, disse.
Solução seria o biocombustível
Conforme Durazzo, a solução é o país implementar um caminho já conhecido, mas preterido pelas autoridades. “O Brasil vai adotar uma rota de consumo de biocombustível, com destaque para o Etanol”, disse, acrescentando que também é preciso usar energia nuclear por mais impopular que esta seja.
Acontece que, segundo eles, a energia nuclear depende do urânio, que é um elemento químico, e radioativo, mas que pode ser usado para geração de energia.
Vale lembrar que a Tupy foi fundada em 1938, portanto, está há 85 anos produzindo blocos de motor e, desta forma, promove pesquisas constantes para aprimorar seus produtos e serviços.
Citibank mostra avanço tímido
O Citibank mostra um avanço tímido no mercado de carros elétricos no mundo, conforme um relatório divulgado na primeira semana de janeiro de 2023. Trata-se do State of Global Electric Vehicle Adoption.
No documento, a instituição financeira destaca que quando se olha para os números agregados globais, o percentual do mercado dos elétricos e híbridos ficou em 14,7% em 2022 e deve chegar a 20,1% neste ano. Até 2030, a fatia das vendas mundiais poderá chegar a 45%.
Na dianteira estão China e Europa e, nos demais países, a adesão a este tipo de automóvel ainda é bastante modesta. Isso indica uma sobrevida ao motor de combustão.
O levantamento aponta que os elétricos e híbridos tiveram uma parcela pouco acima de 15% do mercado em 2022. A fatia deverá passar de 50% em 2028, pouco depois da China, portanto.
Também traz que até 2030 a participação desses carros nos mercados da Europa e da China deverá ser semelhante, ao redor de 67%.
Nos EUA, a Califórnia é onde os elétricos têm mais espaço, com 14% da preferência do público consumidor. Na Flórida, o percentual é de 9%, e em Nova York, 7%.
Vale destacar que as projeções feitas pelo banco vão até 2030, quando a parcela dos elétricos e híbridos deverá atingir 45% no mercado americano, percentual semelhante ao dos outros países da América do Norte, Canadá e México.
Em se tratando de América do Sul, por enquanto o mercado é irrelevante para o banco de investimentos.
Carros elétricos mais baratos de 2023
No dia 19 de janeiro de 2023, o portal Garagem360 divulgou uma lista com os carros elétricos mais baratos no mercado brasileiro. São eles:
- Modelo/Versão: Jac E-JS1
- Preço: R$ 145.900
- Potência: 62 cv
- Torque: 15,3 kgfm
- Autonomia: 302 km
- Modelo/Versão: Renault Kwid E-Tech
- Preço: R$ 146.990
- Potência: 65 cv
- Torque: 11,5 kgfm
- Autonomia: 298 km
- Modelo/Versão: Caoa Chery iCar
- Preço: R$ 149.990
- Potência: 61 cv
- Torque: 15,3 kgfm
- Autonomia: 282 km
- Modelo/Versão: Peugeot e-208 GT
- Preço: R$ 221.990
- Potência: 136 cv
- Torque: 25,6 kgfm
- Autonomia: 362 km
- Modelo/Versão: Jac E-JS4
- Preço: R$ 239.900
- Potência: 150 cv
- Torque: 34,6 kgfm
- Autonomia: 420 km
- Modelo/Versão: Renault Zoe Intense
- Preço: R$ 239.990
- Potência: 135 cv
- Torque: 25 kgfm
- Autonomia: 385 km
- Modelo/Versão: Jac E-J7
- Preço: R$ 249.900
- Potência: 193 cv
- Torque: 34,7 kgfm
- Autonomia: 402 km
- Modelo/Versão: Fiat 500e Icon
- Preço: R$ 254.790
- Potência: 118 cv
- Torque: 22 kgfm
- Autonomia: 227 km
- Modelo/Versão: Mini Cooper S E Exclusive
- Preço: R$ 257.990
- Potência: 184 cv
- Torque: 27,5 kgfm
- Autonomia: 234 km
- Modelo/Versão: Peugeot e-2008 GT
- Preço: R$ 259.990
- Potência: 136 cv
- Torque: 26,5 kgfm
- Autonomia: 345 km
Warren Buffett tira o pé
Todo investidor que se preze tem um olho no gráfico e o outro nos movimentos do megainvestidor Warren Buffett. E o que se sabe dele acerca do mercado de carros elétricos é que ele está tirando o pé.
Isso porque sua gestora, a Berkshire Hathaway, detinha 225 milhões de ações da montadora BYD – uma companhia chinesa e primeira empresa a produzir carros elétricos no Brasil. À época, ele pagou US$ 1 por ação, totalizando US$ 232 milhões.
Entretanto, em 12 de julho de 2022 ele começou a desinvestir e, ao que se sabe, hoje sua posição na companhia está em 8%, totalizando 207 milhões de ações da asiática no portfólio.
Há quem diga que Buffett largou a BYD para comprar Tesla. Porém, até o momento não há confirmação disso e no mercado de capitais é assim: às vezes, aquilo que parece é aquilo que é, de fato.
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