O Banco do Brasil ($BBAS3) frustrou amplamente as expectativas do mercado ao divulgar, após o fechamento do pregão, um lucro líquido ajustado de R$ 7,4 bilhões no primeiro trimestre de 2025 — queda de 20,7% em relação ao trimestre anterior e de 21% na comparação anual. O resultado ficou cerca de 20% abaixo do consenso do mercado (R$ 9,2 bilhões), o que levou o BTG Pactual ($BPAC11) a classificar o balanço como uma “grande decepção”. Apesar disso, o banco de investimentos mantém a recomendação de compra para a estatal, com preço-alvo de R$ 34.
A deterioração da carteira de crédito, especialmente no agronegócio — segmento no qual o banco tem forte presença — e o impacto da nova Resolução CMN nº 4.966, que alterou o reconhecimento de receitas e perdas de crédito, foram os principais responsáveis pela fraca performance. Diante do cenário, o próprio banco reconheceu que os números vieram ainda piores do que o esperado, o que levou à suspensão do guidance de lucro líquido para 2025.
A carteira de crédito do BB cresceu 10% em relação ao 1TRI24, impulsionada por linhas como crédito pessoal e agronegócio. No entanto, a nova resolução contábil exigiu ajustes relevantes no reconhecimento de juros e receitas de crédito, afetando fortemente a margem financeira — que caiu 11% no trimestre, para R$ 23,9 bilhões. As receitas com tarifas também decepcionaram, com queda de 9% frente ao 4T24, somando R$ 8,4 bilhões.
Banco do Brasil (BBAS3): BTG vê piora em indicadores
No lado da qualidade de ativos, os indicadores pioraram de forma generalizada. A inadimplência acima de 90 dias subiu para 3,86%, avanço de 54 pontos-base no trimestre, com piora nas carteiras de pessoas físicas, empresas e agronegócio. Em especial, a inadimplência no agro atingiu 3,04%, mais que o dobro do nível registrado no mesmo período de 2024.
A formação de novos créditos problemáticos (NPLs) cresceu 24% no trimestre, atingindo R$ 14,28 bilhões, volume que representou 128% das provisões brutas para perdas. O aumento das renegociações de dívidas também chamou atenção: saltaram para R$ 72 bilhões, frente a R$ 46,8 bilhões no trimestre anterior.
A Resolução CMN nº 4.966 também impactou o patrimônio líquido, que recuou 3% no trimestre. O índice de eficiência do banco — que mede o quanto de receita é consumido por despesas administrativas — piorou, subindo para 29,1% (ante 25,8% no 4TRI24). Por outro lado, o índice de capital principal (CET1) avançou ligeiramente, para 10,97%.
Guidance tem divulgação suspensa
Com os impactos negativos concentrados no primeiro trimestre e sinais de persistência dos problemas no crédito agrícola no segundo trimestre, o Banco do Brasil informou que revisará seu guidance para o ano, especificamente em relação à margem financeira, custo do crédito e lucro líquido ajustado. As projeções para crescimento da carteira de crédito e receitas com tarifas, no entanto, foram mantidas.
Apesar do tom bastante negativo do relatório, o BTG Pactual decidiu manter a recomendação de compra para $BBAS3, apoiado principalmente no valuation atrativo. O banco calcula que o BB negocia a 0,94 vez seu valor patrimonial e a cerca de 5,5 vezes o lucro projetado para 2025, mesmo considerando um resultado anualizado abaixo do guidance anterior.
Como foi o balanço do 1TRI25
O Banco do Brasil registrou lucro líquido ajustado de R$ 7,4 bilhões no primeiro trimestre de 2025 (1TRI25), uma retração de 20,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando o resultado foi de R$ 9,3 bilhões. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) ficou em 16,7%, conforme balanço divulgado nesta quinta-feira (15).
A carteira de crédito ampliada atingiu R$ 1,2 trilhão, com crescimento de 14,4% em 12 meses e de 1,1% na comparação trimestral. No segmento de pessoa física, o saldo chegou a R$ 335,8 bilhões, avanço de 6,6% em relação ao 1TRI24 e de 1,2% ante o quarto trimestre de 2024, com destaque para as linhas de crédito consignado e não consignado, impulsionadas pelo relacionamento com servidores públicos, aposentados, pensionistas e, mais recentemente, trabalhadores do setor privado por meio do programa Crédito ao Trabalhador.
No segmento corporativo, a carteira alcançou R$ 459,9 bilhões, alta de 22,4% em 12 meses. Desse montante, R$ 141,3 bilhões foram destinados a grandes empresas, R$ 123,8 bilhões ao segmento de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) e R$ 74,6 bilhões ao setor público.