Após a divulgação dos resultados do segundo trimestre, o BTG Pactual ($BPAC11) revisou seu modelo para a WEG (WEGE3), incorporando os dados mais recentes, novas premissas macroeconômicas e acontecimentos do setor. A instituição destacou que, mais uma vez, os papéis da empresa passaram por uma forte desvalorização — caindo 12% desde a divulgação dos números — em meio a preocupações com a desaceleração do crescimento orgânico, que atingiu 6,4%, apesar de margens superiores às expectativas. Ainda assim, a recomendação é de compra, embora cortando o preço-alvo para R$ 54.
O banco reduziu as estimativas de lucro da companhia em 7,2% para 2025 e 8,6% para 2026. Atualmente, a WEG está negociada a um múltiplo de 23 vezes o lucro projetado para 2025 e 20 vezes para 2026, valores próximos ao piso histórico da empresa. O BTG considera esse múltiplo justo frente a outras companhias brasileiras, dado o histórico da $WEGE3 de retorno superior, crescimento consistente e baixo custo de capital. Assim, a recomendação de compra permanece, sustentada também pela potencial valorização caso o real se desvalorize e pelo múltiplo ainda abaixo da média histórica.
Contudo, o banco alerta que o cenário de lucros continua pouco animador no curto prazo, e a ação pode continuar atrás de outras em eventuais rallies, até que o crescimento — tanto no Brasil quanto nos EUA — se torne mais robusto.
WEGE3: ajustes nas projeções e desempenho do 2TRI25
O BTG ajustou sua expectativa de crescimento de receita para um ritmo menor, passando de um intervalo histórico entre 15% e 18% para 13% para 2024 e 11% para 2025. Em contrapartida, a margem EBITDA apresentou melhora, fazendo com que o banco acreditasse que uma margem entre 22% e 22,5% para 2025 é razoável, tornando esse ano potencialmente um dos melhores em termos de rentabilidade para a WEG.
No resultado líquido, a instituição estima lucro de R$ 6,5 bilhões para 2025 e R$ 7,5 bilhões para 2026 — números um pouco abaixo do consenso do mercado. Um fator de risco importante destacado pelo BTG é a volatilidade cambial: caso o dólar suba de R$ 5,60 para R$ 6,00, os lucros podem ser maiores, chegando a R$ 7 bilhões e R$ 8,3 bilhões, respectivamente.
A desaceleração do crescimento no segundo trimestre é atribuída a diversos fatores. No mercado doméstico, ao contrário de 2024, que contou com entregas expressivas no setor de energia eólica, não há backlog significativo previsto para 2025. Internacionalmente, a capacidade de transmissão e distribuição (T&D) já está totalmente contratada, o que limita novos aumentos de preço, especialmente em um contexto de estabilização dos preços internacionais. Nos Estados Unidos, a incerteza tarifária tem levado os clientes a postergar pedidos, afetando principalmente produtos de ciclo longo.
O BTG também reconhece que a WEG possui novas avenidas para crescimento, como condensadores síncronos, mobilidade elétrica e sistemas de armazenamento de energia (BESS), cujo leilão foi adiado para 2026. Contudo, a trajetória dessas oportunidades ainda é incerta, devido à dependência dos pedidos de ciclo longo neste ano e aos possíveis impactos geopolíticos que podem afetar as receitas futuras.
Risco tarifário EUA preocupa
Um ponto crítico destacado pelo BTG é a possibilidade de os EUA iniciarem a cobrança de uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, após o agravamento das tensões políticas entre os países. A expectativa de negociações mais brandas diminuiu, elevando o risco de interrupções operacionais para a WEG. No cenário em que a tarifa completa seja implementada, o impacto estimado é de R$ 1,2 bilhão, cerca de 12% do EBITDA projetado para 2025.
A maior parte desse impacto está ligada aos motores de baixa tensão — principal produto exportado do Brasil para os EUA —, segmento no qual a WEG detém cerca de 24,5% do mercado norte-americano. Estima-se que esse item represente um impacto de R$ 809 milhões, baseando-se em um mercado total de US$ 4 bilhões para motores de baixa tensão na América do Norte, com os EUA respondendo por 75% desse mercado e metade da receita da WEG nesse segmento vindo de exportações brasileiras.
Valuation próximo ao piso histórico
Apesar da forte desvalorização de 31% das ações no ano, o BTG observa que o valuation da WEG retornou ao piso da faixa histórica, atraindo maior interesse do mercado. Ainda assim, a instituição evita otimismo exagerado no curto prazo, pois a ação ainda apresenta um prêmio em relação a outras grandes companhias brasileiras e precisa demonstrar uma perspectiva de crescimento mais sólida para justificar uma reprecificação significativa.
Embora o perfil de retornos superiores da WEG e seu baixo custo de capital sejam pontos sólidos, o cenário de crescimento, especialmente no curto prazo, está mais fraco, o que limita o potencial para uma valorização rápida das ações.
Assim, a recomendação do BTG para a WEG permanece como compra, mas com cautela diante das incertezas econômicas e políticas que pressionam o crescimento e o desempenho operacional da companhia no curto prazo.