A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, segue confiante no potencial do Brasil, mesmo após a imposição de tarifas de 50% sobre itens brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo a gestora, o protagonismo global da Inteligência Artificial (IA) coloca o país em posição privilegiada para atrair investimentos estratégicos nos próximos anos.
Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos para a América Latina da BlackRock, afirmou em entrevista ao portal E-Investidor que o Brasil reúne condições favoráveis para se tornar um dos principais destinos para a instalação de data centers — infraestrutura essencial para o avanço da IA. O executivo destaca ainda que a transição energética e a abundância de recursos naturais no País aumentam seu potencial de relevância global.
“Muitas empresas de tecnologia decidiram usar energia renovável para abastecer os novos data centers, e o Brasil tem várias condições para isso”, disse Christensen. Além da capacidade de geração limpa, os minerais críticos e as terras raras presentes no território nacional são considerados estratégicos para o desenvolvimento de novas tecnologias e para o processo de transição energética.
Esses minerais críticos já despertaram o interesse dos Estados Unidos e foram citados por representantes do comércio norte-americano como pontos-chave em negociações sobre tarifas aplicadas a produtos brasileiros.
BlackRock mantém otimismo com Brasil: Eleições estão em segundo plano
Apesar das incertezas políticas, a BlackRock afirma que as eleições presidenciais de 2026 no Brasil não serão determinantes para suas decisões de alocação.
“A história dos investimentos em mercados emergentes é feita de ajustes a mudanças políticas. O Brasil não é exceção”, reforça Christensen.
O estrategista reconhece que a escolha do próximo governante terá impacto na forma como o país conduzirá sua economia, mas garante que a visão de longo prazo da gestora para o Brasil permanece positiva.
“Sempre ajustamos nossas estratégias de acordo com o cenário. Se o governo priorizar crescimento econômico, nos adaptamos a isso; se for indústria local, também. O importante é manter a flexibilidade.”
Tensões comerciais e diversificação
Sobre os efeitos das tarifas impostas pelos EUA, Christensen pondera que a desvalorização do real frente ao dólar pode pressionar a inflação e dificultar a tarefa do Banco Central de reduzir os juros. No entanto, avalia que a diversificação da pauta de exportações brasileira, com forte presença da Ásia e avanços nas negociações com a União Europeia, dá maior resiliência ao País em comparação a outros mercados emergentes, como o México, que dependem mais da economia americana.
Oportunidades em infraestrutura
Embora não detalhe posições específicas em ações brasileiras, a BlackRock aponta que o setor de infraestrutura se destaca como uma das maiores oportunidades de investimento. Isso porque a expansão de data centers e a exploração de minerais críticos exigem novas soluções em energia, transporte e logística.
“Para desenvolver energia renovável que abasteça data centers, é preciso investir na geração e distribuição dessa energia. No caso da produção de materiais críticos, é necessário investir em transportes, ferroviário e rodoviário. O Brasil tem grande potencial nesse campo”, conclui Christensen.