O Banco do Brasil (BBAS3) registrou um lucro líquido ajustado de aproximadamente R$ 3,8 bilhões no segundo trimestre de 2025, queda de 60,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado veio acompanhado de uma revisão significativa no guidance para o lucro ajustado anual, que passou da faixa entre R$ 37 bilhões e R$ 41 bilhões para um intervalo de R$ 21 bilhões a R$ 25 bilhões.
O percentual de dividendos (payout) projetado para 2025 também foi reduzido para 30%, com um dividend yield esperado de cerca de 5%, inferior ao patamar observado em 2024. Apesar do cenário adverso, as ações da companhia subiam 1,71% no pregão mais recente, negociadas a R$ 20,19.
BB: Crédito rural e inadimplência em alta
Segundo o analista Nícolas Merola, da EQI Research, a deterioração dos resultados do banco se concentra principalmente na carteira de crédito voltada ao agronegócio, hoje avaliada em cerca de R$ 404 bilhões. A inadimplência nessa linha cresceu de 2,45% em dezembro de 2024 para 3,04% em março de 2025, alcançando 3,49% no segundo trimestre.
O movimento é ainda mais preocupante no indicador de atrasos superiores a 30 dias, considerado um sinal antecipado de risco de crédito. Este indicador saltou de 3,74% para 5,53% no mesmo intervalo.
“É um processo de deterioração que já vínhamos observando e que agora se confirma nos números. Isso impacta diretamente a rentabilidade do banco”, afirmou Merola.
PublicidadePublicidade
Queda expressiva na rentabilidade
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do Banco do Brasil, que girava próximo a 20% ao longo de 2024 — nível considerado excelente para o setor —, caiu para 8% no último trimestre.
Para Merola, o lucro absoluto, apesar de bilionário, é baixo diante da escala da instituição.
“Um banco com uma carteira de crédito na casa de R$ 1 trilhão entregar R$ 3,8 bilhões de lucro é pouco para sustentar uma rentabilidade saudável”, disse.
Provisões devem permanecer elevadas
O analista projeta que as provisões para perdas com crédito devem continuar em torno de R$ 15 bilhões por trimestre até o fim do ano, pressionando o resultado. Para atingir a nova meta de lucro ajustado, o banco precisaria registrar ganhos próximos de R$ 5 bilhões no terceiro e no quarto trimestres — acima do desempenho recente, mas ainda longe do patamar histórico.
Avaliação de mercado
Mesmo com a revisão para baixo das projeções, Merola aponta que a deterioração dos fundamentos não está sendo integralmente refletida no preço das ações. Considerando o novo guidance, o múltiplo preço/lucro (P/L) projetado para 2025 ficaria em torno de 5,7 vezes, acima do nível atual.
“Estamos vendo piora da rentabilidade e da qualidade do crédito, mas isso não está precificado. Na nossa visão, o banco está caro”, avaliou.
Pressão competitiva
Além dos desafios internos, o Banco do Brasil enfrenta maior competição dos bancos digitais, que vêm ampliando sua capacidade de originação de crédito e pressionando margens das instituições tradicionais.
“O cenário para bancos tradicionais é mais desafiador, e isso reforça nossa visão cautelosa em relação ao papel”, concluiu Merola.
Banco do Brasil fora da carteira recomendada da EQI Research
A EQI Research retirou as ações do Banco do Brasil (BBAS3) de sua lista de recomendações devido à incerteza sobre os resultados do banco.
A saída dos papéis da carteira, segundo Merola, protegeu os investidores de perdas próximas a 12%.
A EQI continuará monitorando o desempenho do banco e poderá voltar a recomendar BBAS3 quando o cenário estiver mais claro.
Para ter acesso à carteira recomendada de ações da EQI Research, clique no botão abaixo: