O Grupo Casas Bahia (ex-Via) – que ainda opera na bolsa sob o código $VIIA3, mas que mudará para BHIA3 na quarta-feira (20) – viu um aumento considerável de posição vendida para suas ações na última semana.
Na média do ano até agosto, o grupo tinha R$ 70 milhões em volume de opções apostando na queda das ações da empresa. Este número foi a mais de R$ 160 milhões na semana passada.
O que explica o aumento a posição vendida para Casas Bahia? Acompanhe.
O que significa a posição vendida?
Antes de tudo, vale explicar o que seria a posição vendida para Casas Bahia.
Conhecida como “short”, a operação de posição vendida é uma estratégia em que o investidor espera lucrar com a queda do preço do ativo. E pode ser chamada também de “operar vendido” ou “venda a descoberto”.
O investidor aposta na queda da cotação de um determinado ativo e, se o preço cair, ele lucra com a operação. Porém, se houver uma valorização, o investidor perde dinheiro.
Mas, para realizar a opção, o investidor precisa alugar ações de outro investidor que possui, de fato, o papel. E o investidor que aluga as ações para operar vendido terá que, em algum momento, recomprar as ações para devolver ao dono.
- Leia também: Long & short: entenda a estratégia e saiba como usá-la.
- E mais: Investidor de longo prazo pode lucrar com o aluguel de ações.
Aumento das posições vendidas para Casas Bahia
Em meio a um momento delicado de alto endividamento do grupo Casas Bahia, o mercado está apostando em peso na queda das ações da companhia. Vale lembrar que além de Casas Bahia, o grupo também é dono de Ponto e Extra.com.
Segundo dados da Economatica, a posição alugada em ações do grupo já vinha aumentando nas últimas semanas, o que fez com que alguns investidores aderissem ao follow-on da companhia para cobrir suas posições shorteadas. Mas, além da queda comum no dia de precificação de uma oferta, o papel despencou também no dia seguinte.
A ação saiu a R$ 0,80 no follow-on, desconto de 28% sobre o preço do dia da precificação. Naquela data, eram 380 milhões de ações nos contratos em aberto, passando para 392 milhões na quinta (14).
Diante da demanda por empréstimo de ações para montar a posição vendida, a taxa média do tomador, que há três meses era de 2,7%, bateu 114,07% na data de precificação do follow-on e subiu para 115,09% na quinta (14). A taxa máxima chegou a 499%. A cotação média dos contratos em aberto é de R$ 1,39, somando pouco mais de meio bilhão de reais nos contratos.
Na sexta-feira (15), a ação caiu mais 15,6%, fechando o dia a R$ 0,76 – queda de 36% na semana. No ano, o papel perde 67%.
Há quem suspeite até de movimento atípico orquestrado com os papéis da Casas Bahia.
Segundo o portal O Antagonista, gestores mantidos sob anonimato afirmam que pode ter havido uma ação conjunta que derrubou os preços dos papéis para beneficiar quem estava em posição vendida.
Fato é que as ações do Grupo Casas Bahia vêm apresentando quedas consistentemente nos últimos anos:
- 2021: -67,51%
- 2022: -54,29%
- 2023: – 70% até o momento

Para analista, saúde financeira do grupo é gravíssima
Para Malek Zein, analista de ações do TC/Economatica, a saúde da empresa é gravíssima e o aumento de capital não ajuda em nada, apenas posterga o problema.
“O problema da Via Varejo e a performance que as ações têm tido vêm da deterioração econômica da saúde financeira da empresa. Faz nove trimestres que a empresa não consegue pagar os juros da dívida, não consegue cobrir o resultado financeiro. Para quem não conhece muito de mercado pode achar estranho, mas no resultado financeiro aparece os aluguéis também. Os aluguéis são caracterizados como uma dívida e, portanto, é como se o aluguel fosse os juros que você tem do imóvel que você está usando. Enfim, se você somar os aluguéis aos juros da dívida, faz nove trimestres que a Via não consegue pagar as contas”, afirma.
Ele explica que o último trimestre em que a empresa conseguiu cobrir o resultado financeiro negativo foi no primeiro trimestre de 2021, fato que explica bastante as quedas anuais consecutivas dos números. “Desde então, a bola de neve só vem aumentando”, diz.
Para Zein, os R$ 600 milhões captados no follow-on não pagam nem três meses de aluguel e de juros de dívida.
“Provavelmente a gente deve ver o capital todo sendo consumido nos próximos três meses. O resultado deles fecha no dia 31/9, e devem divulgar o balanço uns 40 dias depois. A gente já vai ver todos esses R$ 600 milhões sendo consumidos. Não adianta muita coisa”, aponta.
Recomendações das casas
O BTG tem recomendação neutra para VIIA3, com preço-algo de R$ 3.
O Citi também tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 2,30. O banco avalia que a oferta de ações realizada pela companhia na última semana ajudará a melhorar balanço patrimonial e resultados financeiros, mas não resolve problemas da estrutura de capital.
Não apenas a Casas Bahia, mas o comércio varejista em geral vem atravessando um momento decenário macroeconômico desfavorável, com alavancagem financeira, pressões no lucro líquido e demanda em desaceleração.
No último balanço, do segundo trimestre, a empresa teve prejuízo de R$ 492 milhões, acima da projeção de prejuízo de R$ 321,4 milhões, e revertendo lucro líquido de R$ 6 milhões de um ano antes.
Nesta segunda-feira (18), a ação da empresa é cotada a R$ 0,69, com queda de 9,21% às 10h41.
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