Zohran Mamdani, o nome que tem gerado entusiasmo entre progressistas e calafrios entre investidores, venceu as primárias do Partido Democrata para disputar a prefeitura de Nova York. Aos 33 anos, o deputado estadual pelo Queens conquistou a indicação com uma plataforma claramente socialista e voltada para a classe trabalhadora, em uma eleição marcada pela rejeição ao establishment político.
Embora os resultados oficiais do sistema de votação por ordem de preferência só saiam em 1º de julho, Mamdani já foi parabenizado pelo adversário Andrew Cuomo, ex-governador de Nova York, que reconheceu a derrota. Com isso, Zohran Mamdani se torna o favorito para liderar a maior cidade dos Estados Unidos — e possivelmente reescrever o papel da esquerda no país.
De rapper e conselheiro de habitação a liderança progressista
Filho da cineasta indiana Mira Nair e do renomado acadêmico Mahmood Mamdani, Zohran nasceu em Uganda, foi criado na Cidade do Cabo e depois se estabeleceu em Nova York. Estudou na Bronx High School of Science e se formou no Bowdoin College. Antes da política, trabalhou como rapper sob o nome Mr. Cardamom e como conselheiro de prevenção de execuções hipotecárias — experiências que moldaram sua visão sobre justiça econômica.
Zohran Mamdani ganhou projeção nacional em 2021 ao se juntar a uma greve de fome de taxistas endividados, o que consolidou sua imagem como político de ação direta e empatia com trabalhadores marginalizados.
As propostas que estão sacudindo o debate político
Entre suas promessas de campanha estão:
- Congelamento do aluguel para quase 1 milhão de moradores de apartamentos com aluguéis estabilizados
- Transporte público gratuito
- Creches universais
- Supermercados de propriedade pública com preços subsidiados
Para financiar tudo isso, Zohran Mamdani propõe aumentar os impostos sobre os mais ricos da cidade — uma medida que depende da aprovação do governo estadual, e que já recebeu críticas da governadora democrata Kathy Hochul. Ela alertou que esse tipo de política poderia empurrar ainda mais ricos para outros estados, como a Flórida.
Bill Ackman dispara: “Um desastre anunciado”
O megainvestidor Bill Ackman, um dos nomes mais influentes de Wall Street, usou a plataforma X (antigo Twitter) para expressar seu alarme: “Nova York acordou em um pesadelo. Um socialista sem experiência gerencial vai comandar um orçamento de US$ 100 bilhões?”.
Ackman reconhece o carisma de Zohran Mamdani, sua habilidade de campanha e o apelo junto aos jovens. No entanto, considera suas propostas um “perigo econômico”. Para ele, a ideia de congelar aluguéis destruiria a oferta de moradias; supermercados públicos inviabilizariam o setor privado; e sua retórica anti-Israel poderia alimentar o ódio e a instabilidade social.
Ele também acusa Mamdani de se aproveitar da fraqueza dos concorrentes: “Ele venceu não por suas ideias, mas porque ninguém o enfrentou com seriedade”.
I awoke this morning gravely concerned about New York City. I thought “What has NYC become that an avowed socialist who has supported defunding the police, whose solution to lowering food prices is city-owned supermarkets, who doesn’t understand that freezing rents will only…
— Bill Ackman (@BillAckman) June 26, 2025
Entre apoio entusiástico e temores partidários
A campanha de Mamdani contou com o apoio de nomes como Alexandria Ocasio-Cortez e Bernie Sanders. Ocasio-Cortez chegou a afirmar que a candidatura dele é “simbólica para o futuro do país”.
Por outro lado, setores do Partido Democrata expressam desconforto. O think tank centrista Third Way classificou sua vitória como “devastadora” e teme que ela enfraqueça a capacidade dos democratas de derrotar Donald Trump em 2028, caso Mamdani se torne um símbolo nacional do partido.
Antissemitismo, polarização e resistência
Um dos pontos mais controversos da trajetória recente de Zohran Mamdani é sua posição sobre o conflito Israel-Hamas. Ele acusou Israel de genocídio e defendeu o uso do termo “globalize a intifada”, interpretado por muitos como incitação à violência. Apesar de sua tentativa de contextualizar o termo como um apelo a direitos humanos, foi amplamente criticado por políticos democratas, ativistas judeus e até o Museu do Holocausto dos EUA.
Em contrapartida, Zohran Mamdani denunciou ter sido vítima de islamofobia e de manipulação de imagem em materiais de campanha. Relatou ameaças de morte e ataques contra sua equipe e familiares, reforçando o clima de tensão que envolve sua candidatura.
Nova York diante de um divisor de águas
A ascensão de Zohran Mamdani coloca Nova York em um momento histórico: escolher entre uma guinada progressista profunda ou manter-se no modelo mais centrista que caracterizou as últimas décadas.
Seus apoiadores veem nele a chance de redesenhar a cidade para os que vivem à margem. Seus críticos, como Bill Ackman, enxergam o risco de uma crise econômica e social sem precedentes.
Com 132 dias até a eleição, especula-se até mesmo uma candidatura “write-in” de última hora com apoio empresarial para barrar Zohran Mamdani. Mas, por ora, o socialista de 33 anos lidera a corrida.
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