O bilionário Warren Buffett anuncia maior aquisição em três anos ao confirmar a compra da OxyChem (OXY), divisão petroquímica da Occidental Petroleum Corp., por aproximadamente US$ 9,7 bilhões em dinheiro. A operação marca o retorno da Berkshire Hathaway Inc (BRKB; BERK34). aos negócios de grande porte, após um período prolongado sem transações expressivas e movimentos de desinvestimento em posições relevantes do portfólio.
A transação representa um marco importante na estratégia do lendário investidor. Nos últimos anos, Buffett havia adotado uma postura mais cautelosa, chegando inclusive a reduzir participações significativas, como sua histórica fatia na Apple Inc (AAPL; AAPL34).
Warren Buffett sinaliza confiança no setor industrial americano ao fazer sua maior aquisição e demonstra que a Berkshire está novamente disposta a realizar investimentos de grande magnitude.
Segundo informações divulgadas pela companhia em comunicado oficial na quinta-feira (2), a conclusão do negócio está prevista para o quarto trimestre deste ano. A reação do mercado foi imediata: enquanto as ações da Occidental registraram queda de até 4,6%, os papéis Classe B da Berkshire Hathaway avançaram 0,2%, refletindo a confiança dos investidores na operação conduzida por Buffett.
Detalhes financeiros e contexto da operação
De acordo com dados compilados pela Bloomberg, esta será a maior aquisição da Berkshire desde a compra da seguradora Alleghany Corp., concretizada em 2022 por US$ 13,7 bilhões. O timing da transação é particularmente interessante, considerando que a holding de Buffett encerrou o segundo trimestre com impressionantes US$ 344 bilhões em caixa, valor próximo de seu recorde histórico.
A Occidental Petroleum, da qual a Berkshire já detém aproximadamente 27% de participação acionária, vinha executando uma estratégia agressiva de desinvestimento. A companhia já havia anunciado quase US$ 4 bilhões em vendas de ativos desde o início de 2024, movimento estratégico para reduzir o endividamento após a significativa aquisição da rival CrownRock LP por US$ 10,8 bilhões.
A empresa petrolífera informou que direcionará US$ 6,5 bilhões provenientes da venda da OxyChem especificamente para redução de sua dívida principal, com objetivo de baixá-la para menos de US$ 15 bilhões. Essa reestruturação financeira é fundamental para melhorar a saúde financeira da companhia e aumentar sua capacidade de geração de valor para os acionistas.
Perspectivas estratégicas da Occidental
“Creio que estamos encerrando os grandes negócios”, afirmou Vicki Hollub, presidente da Occidental, em entrevista exclusiva. “Qualquer coisa além disso será basicamente pequenas transações dentro das bacias para reforço estratégico. Não acho que teremos mais grandes aquisições. Isso já nos leva onde precisamos estar.”
As declarações de Hollub indicam uma mudança definitiva na estratégia corporativa da Occidental. Após anos de expansão agressiva através de grandes aquisições, a companhia agora pretende focar em operações menores e mais estratégicas, concentrando esforços na otimização de suas bacias de produção existentes. Essa abordagem visa consolidar as operações e maximizar a eficiência operacional.
A venda da OxyChem ocorre em momento particularmente desafiador para os produtores de petróleo americanos. O setor enfrenta a necessidade de ganhos expressivos de eficiência para compensar a desaceleração da produção no Permiano, a maior e mais importante bacia de xisto dos Estados Unidos, cujos campos mais produtivos já foram amplamente explorados.
O negócio da OxyChem e o mercado
A OxyChem se destaca como fabricante de químicos básicos essenciais para diversos setores industriais, com foco especial na produção de cloro e soda cáustica. Esses produtos petroquímicos são fundamentais para indústrias que vão desde tratamento de água até fabricação de plásticos e produtos de limpeza, conferindo à divisão uma posição estratégica no mercado químico norte-americano.
Leo Mariani, analista respeitado da Roth Capital Partners, oferece uma visão equilibrada sobre a transação. Segundo sua análise, a operação certamente melhora a posição da Occidental para devolver capital aos acionistas através de dividendos ou recompra de ações. Entretanto, o analista alerta que a venda deve reduzir o fluxo de caixa futuro da companhia, uma vez que a OxyChem era considerada um importante motor de crescimento de longo prazo.
“O negócio químico da OXY também trazia diversificação importante para o caixa e reduzia a intensidade de capital da empresa, por isso vemos essa transação como um fator de redução do múltiplo de negociação”, destacou Mariani em seu relatório. Essa observação ressalta o dilema estratégico enfrentado pela Occidental: melhorar as métricas financeiras de curto prazo sacrificando potencial de crescimento futuro.
Fim de um ciclo histórico no setor químico
A venda da OxyChem representa o encerramento de um longo ciclo da Occidental Petroleum no setor químico, uma jornada iniciada há várias décadas quando a companhia decidiu diversificar suas operações além da exploração e produção de petróleo e gás. No entanto, a divisão vinha enfrentando desafios significativos nos últimos anos, registrando quedas consistentes nas vendas anuais.
Em agosto deste ano, a Occidental foi forçada a ajustar suas expectativas para a OxyChem, cortando em aproximadamente 15% a previsão de lucro antes de impostos para 2025. A nova projeção ficou estabelecida em uma faixa entre US$ 800 milhões e US$ 900 milhões, redução atribuída principalmente ao excesso de oferta de produtos-chave no mercado petroquímico global.
Esse cenário de excesso de capacidade produtiva no setor químico, combinado com a pressão por desalavancagem financeira, tornou a venda para Warren Buffett uma solução estratégica vantajosa para ambas as partes. Enquanto a Occidental consegue recursos para sanear seu balanço, a Berkshire Hathaway adiciona ao seu portfólio um ativo industrial com fluxo de caixa previsível e posição estabelecida no mercado.
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