Em meio a uma investigação da Polícia Federal por suspeitas de fraudes com precatórios, o Banco Master está em negociações avançadas com Joesley Batista, dono da J&F e um dos principais acionistas da JBS (JBSS3), para a venda de parte de seus ativos.
A negociação, revelada pelo jornalista Lauro Jardim em sua coluna no último domingo (4), foi batizada internamente como “Projeto Vesúvio” e está sendo monitorada de perto pelo Banco Central.
Segundo Jardim, Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, está negociando com Joesley Batista a venda de uma pequena parte dos precatórios do banco, participações em empresas e bens pessoais.
Entre os ativos colocados à venda está até mesmo o apartamento onde Vorcaro mora em São Paulo, no bairro do Itaim Bibi, na região da Faria Lima, com valor estimado em R$ 60 milhões, além de sua participação na mineradora Itaminas, descrita como um de seus “mais vistosos ativos”.
Parte da frota privada de jatos executivos de Vorcaro também está incluída na negociação, embora apenas uma aeronave deva ser vendida. Isto porque alguns dos aviões não pertencem integralmente ao banqueiro, como um G700 da Gulfstream – aeronave com autonomia para voos diretos de São Paulo a Dubai – que pertence à PrimeYou, empresa de compartilhamento de jatos e imóveis na qual Vorcaro detém cotas.
Ainda segundo o jornalista, outros bens vinculados à PrimeYou e com participação de Vorcaro não estão incluídos na transação, como uma mansão em Trancoso (BA) avaliada em R$ 280 milhões e uma lancha utilizada pelo empresário.
Precatórios do Banco Master na mira da PF
A operação ocorre em um momento delicado para o Banco Master. A Polícia Federal abriu um inquérito em março de 2024 para investigar suspeitas de fraudes envolvendo operações com precatórios, conforme informação da jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
Procurado pela jornalista, o Banco Master informou desconhecer o inquérito da Polícia Federal. Quanto aos investimentos sob suspeita, a instituição afirmou ter adquirido “precatórios com deságio do seu valor de face, seguindo métricas de avaliação amparadas por renomados escritórios terceiros de avaliação”.
A investigação apura um esquema em que um fundo controlado pela própria instituição financeira teria adquirido papéis de liquidez questionável para posteriormente vendê-los ao banco por valores significativamente maiores. O caso principal envolve o fundo de investimentos em direito creditório Amazonita, que teria vendido precatórios ao banco com valorização de 235% em apenas cinco dias.
Em 2020, quando ainda se chamava Máxima, o banco teria desembolsado R$ 320 milhões por precatórios que haviam sido adquiridos pelo fundo Amazonita apenas cinco dias antes por R$ 136,5 milhões – uma valorização considerada atípica pelos investigadores.
Negociação com o BRB e crise de liquidez
Paralelamente às negociações com Joesley Batista, o Banco Master também esteve envolvido em tratativas com o BRB (BSLI4), que chegou a propor pagar R$ 2 bilhões por 58% do banco, mantendo o controle nas mãos dos atuais proprietários. Esta operação ainda aguarda aprovação do Banco Central e do Cade, mas especialistas do mercado a veem como uma tentativa de salvamento de uma instituição com problemas de liquidez.
O balanço divulgado pelo Master em março mostra que a instituição possui em carteira R$ 8,73 bilhões em títulos de dívidas governamentais, dos quais R$ 158 milhões são precatórios e R$ 8,57 bilhões são classificados como “pré-precatórios” – dívidas com decisão judicial favorável, mas que ainda podem estar sujeitas a discussões ou perícias para determinação do valor exato.
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Monitoramento do BC
A situação tem chamado a atenção dos órgãos reguladores. Ainda segundo a coluna de Lauro Jardim, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) enviou 38 comunicados ao Banco Central solicitando esclarecimentos sobre questões relacionadas ao Banco Master.