A três rodadas do Brasileirão mais equilibrado dos últimos anos, seis times ainda permanecem na briga pelo título, no que se desenha também como um confronto entre modelos de gestão: são três clubes associativos, Palmeiras, Flamengo e Grêmio, e três clubes-empresa: Atlético-MG, Botafogo e Red Bull Bragantino.
A rodada desta quarta-feira (29) coloca em lados opostos, no Maracanã, um representante de cada modelo: o Flamengo recebe o Atlético-MG, e o vencedor do confronto dará um passo importante para se manter na briga pelo título.
Vale lembrar que, ao menos por ora, modelo de gestão não tem sido sinônimo de resultados esportivos, nem mesmo faturamento: embora ainda seja um clube associativo, sem fins lucrativos, o Flamengo é o clube mais rico do Brasil, com faturamento de R$ 1,7 bilhão em 2022, incluindo venda de direitos de transmissão, patrocínios, ingressos, programas de sócio-torcedor e negociação de jogadores.
O Atlético-MG, por sua vez, é o mais recente entre os principais clubes do país a aderir ao formato de SAF (sociedade anônima de futebol), em que investidores montam uma empresa que passa a controlar o futebol de um clube associativo.
Neste caso, a Galo Holding terá 75,3% das ações, sob gestão do empresário Rubens Menin, principal acionista da MRV (MRVE3), e seu filho Rafael, hoje CEO da construtora. Também estão próximos desse processo o banqueiro Ricardo Guimarães, ex-presidente do clube e também um dos principais acionistas e presidente do conselho de administração do banco BMG (BMGB4), e o engenheiro Renato Salvador, ex-diretor financeiro da rede de hospitais Mater Dei (MATD3) e ainda membro do Conselho de Administração da empresa.
Brasileirão: SAF, Botafogo perdeu fôlego
Líder durante boa parte do campeonato, embora tenha perdido rendimento nas últimas rodadas, o Botafogo ainda sonha com a chance de ser o primeiro campeão brasileiro sob o formato de SAF, formato no qual o clube foi um dos pioneiros a aderir, em março do ano passado.
O empresário norte-americano John Textor pagou cerca de R$ 400 milhões para ficar com 90% da SAF do Botafogo, limite máximo estabelecido por lei. Dono de outros clubes, como o Lyon, da França, e o Crystal Palace, da Inglaterra, ele é figura constante nos jogos da equipe no estádio Nilton Santos, no Rio – às vezes repetindo hábitos de velhos dirigentes, como invadir o campo após partidas para reclamar da arbitragem.
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Também ainda com chances, o Red Bull Bragantino virou empresa antes da lei das SAF. Depois de uma experiência sem sucesso com seu próprio clube, fundado em Campinas, a fabricante de energéticos comprou as operações do clube de Bragança Paulista e o incluiu em sua rede de ativos esportivos, que conta, entre outros investimentos, com duas equipes de Fórmula 1 e clubes de futebol na Alemanha, o RB Leipzig, na Áustria, o Red Bull Salzburg, e nos EUA, o NY Red Bull.
Outros clubes que aderiram ao formato de SAF na Série A do Brasileirão estão em situação mais complicada: América-MG e Coritiba já estão rebaixados para a Série B; Bahia, Vasco e Cruzeiro ainda brigam para evitar um novo descenso, depois de jogarem a segunda divisão em 2022; e o Cuiabá não tem chance de se classificar para a Copa Libertadores, embora não corra mais risco de rebaixamento.
Brasileirão: Palmeiras e Grêmio ao “modo antigo”
Os outros dois candidatos ao título, assim como o Flamengo, têm sua gestão à moda tradicional: Palmeiras e Grêmio são associações sem fins lucrativos, com o presidente sendo eleito pelos sócios, que também escolhem um Conselho Deliberativo, uma espécie de parlamento que fiscaliza as decisões do gestor.
No caso do Palmeiras, a figura da presidente se confunde com uma das principais financiadoras do clube: Leila Pereira, a primeira mulher a comandar o Verdão, desde janeiro de 2022, é também a CEO da Crefisa, financeira que desde 2015 é a principal patrocinadora.
Alguns conselheiros já tentaram questionar o risco de conflito de interesses, mas, com ampla maioria, Pereira consegue se manter no cargo sem dificuldade, a despeito de críticas da torcida por um excesso de cautela em contratações – torcedores organizados chegaram a pichar algumas lojas da Crefisa, o que causou fúria na gestora do clube e da empresa.

No Grêmio, Alberto Guerra assumiu a presidência no fim do ano passado, depois de uma longa rodagem pela vida política do clube, e se destacou pela contratação mais bombástica do ano no Brasil, ao trazer o veterano uruguaio Luis Suárez. Sob sua gestão, o clube se sagrou hexacampeão gaúcho e, mesmo com a menor arrecadação entre os clubes aqui citados, R$ 340,1 milhões em 2023, segue vivo para tentar erguer a taça do Brasileirão mais uma vez.