O futebol ainda não é um mercado aberto a investidores no Brasil, mas na Europa a presença de clubes de futebol na bolsa de valores é uma constante desde os anos 1990, período em que alguns países iniciaram a adaptação de suas legislações para que os clubes se tornassem empresas e pudessem abrir seu capital para atrair mais investimentos.
Um dos mais famosos é o Manchester United (MANU), da Inglaterra, que viveu dias de oscilação positiva nas últimas semanas por uma decisão esportiva polêmica: a rescisão de contrato do astro Cristiano Ronaldo, craque da seleção de Portugal na disputa da Copa do Mundo.

No meio do ano, durante a chamada janela de transferências, o craque tentou deixar o clube, que nesta temporada está fora da mais rica competição da Europa, a Champions League. Sem sucesso, Cristiano Ronaldo se apresentou com atraso e entrou em rota de colisão com o técnico Erik ten Hag, que o deixou várias vezes no banco de reservas.
Se do ponto de vista esportivo ficar sem um craque como Cristiano Ronaldo pode parecer um problema, a resolução da questão financeira tornou o clube mais atraente aos investidores: após o anúncio da rescisão, as ações do Manchester United na Bolsa de Nova York subiram mais de 60% em dois dias, saindo do patamar de US$ 13 para US$ 21.
No caso do Manchester United, os acionistas não têm direito a qualquer ingerência no clube. O controle das decisões é do sócio majoritário, o magnata norte-americano Malcolm Glazer, que comprou todas as ações em 2005 na bolsa de Londres, mas reabriu o capital em Nova York, em 2012, em busca de uma injeção de recursos. Cerca de 40% das ações do clube estão em negociação hoje.
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Juventus lucrou alto com Cristiano Ronaldo
Outro clube que se notabilizou ao abrir o capital foi a Juventus (JUVE), o maior vencedor do futebol italiano. De propriedade da família Agnelli, a mesma que é dona da Fiat, entre outras empresas do país, a “Velha Senhora” tem suas ações listadas na bolsa de Londres.
Curiosamente, o momento de maior valorização dessas ações foi no meio de 2018, quando a Juventus pagou 100 milhões de euros para tirar Cristiano Ronaldo do Real Madrid. O craque à época tenha 33 anos e estava no auge da forma e conquistou títulos pelo clube italiano, que deixou em 2021.
Os dois clubes mais populares da capital italiana, Lazio e Roma, têm seus papéis listados na Bolsa de Milão. Nos últimos anos, porém, tanto o futebol italiano quanto o o inglês têm dado muito mais preferência aos grandes investidores bilionários que assumem a totalidade do controle do clube – o caso mais recente é do Newcastle, que foi comprado por um fundo soberano ligado ao governo da Arábia Saudita.
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Em Portugal, os principais clubes estão na bolsa; na Espanha, ainda não
A transformação dos clubes em empresas, conhecidas com a sigla SAD (Sociedade Autónima Desportiva), foi uma febre em Portugal na virada do século 21. A decisão foi tomada por estímulo do governo e garantiu algumas vantagens fiscais aos clubes em relação a outras empresas, mas com diferença no formato anterior, de associação esportiva.
Pelo formato, o clube associativo continua existindo, mas a gestão do esporte profissional é transferida a uma empresa de capital aberto, cuja maioria das ações segue pertencendo ao clube, enquanto uma parte está listada na Bolsa de Lisboa. Os três maiores clube do país, Benfica (SLBEN), Porto (FCPP) e Sporting (SPSO), se adequaram a essa regra.
As normas obrigam os clubes a uma transparência quase única no futebol mundial, com a divulgação de valores de transferência de jogadores que nem sempre costumam ser divulgadas por clubes que não têm responsabilidade com acionistas.
Um formato similar foi adotado na Espanha, com vantagens fiscais para os clubes que optassem pela abertura de capital. A ideia, contundo, ainda não atraiu os gigantes Real Madrid e Barcelona, que permanecem como entidades associativas sem fins lucrativos e muitas vezes afetadas por dívidas gigantescas, apesar da enorme arrecadação. Neste ano, o Barcelona negociou os naming rights de seu estádio, o Camp Nou, com o Spotify.
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No Brasil, o futebol ainda está longe do mercado de capitais
Os formatos adotados por Portugal e Espanha guardam semelhanças com o adotado desde 2020 no Brasil, quando o Congresso aprovou e o governo sancionou a Lei das SAF (Sociedade Anônima do Futebol), que ofereceu vantagens para a transformação dos clubes em empresas.
Pelo formato, uma SAF é criada com CNPJ diferente do clube associativo, assumindo o futebol profissional, com seus ativos, como os direitos de TV e patrocínios, e passivos, salários de jogadores e manutenção da infraestrutura. A lei garante que dívidas antigas seguem a cargo do clube associativo, e a SAF é obrigada a destinar parte do faturamento para a quitação desses débitos.
Por ora, porém, o mercado segue restrito a grandes investidores. O primeiro dos grandes clubes a aderir foi o Cruzeiro, que cedeu a maioria da propriedade de sua SAF a um grupo encabeçado por Ronaldo, o “Fenômeno” – que também é acionista majoritário do Valladolid, da Espanha.
Durante o ano de 2022, o magnata norte-americano John Textor assumiu o controle do Botafogo, e o grupo 777 Partners passou a gerir o Vasco. Na semana passada, o Bahia aprovou a cessão da maioria de sua SAF para o City Group, empresa ligada ao Manchester City, da Inglaterra.
A legislação permite que os clubes possam abrir o capital e listar ações na B3, mas o mercado vê isso como uma possibilidade de médio e longo prazo, já que a gestão do futebol brasileiro, na média, ainda passa longe dos mecanismos de compliance exigidos pelo mercado de capitais.
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