Luis Stuhlberger, sócio da Verde Asset, é considerado um dos gestores de maior sucesso da história do país. Ele participou do encerramento da sétima edição da Money Week, ao lado de outro gestor da Verde Luiz Parreiras e do CEO da EQI Asset, Ettore Marchetti.
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Reflexões econômicas pós-eleições
Recentemente, repercutiu no mercado a carta do gestor da Verde Asset de novembro que, entre outros trechos, apontou que a chamada PEC da transição, que vem sendo discutida para acomodar valores fora do teto de gastos, parece mais um “trem da alegria”.
“A tal PEC está se tornando (mais um) trem da alegria brasiliense de crescimento dos gastos descontrolado, e a mídia já fala de mais de R$ 200 bilhões de gastos, algo completamente descabido, para falar o mínimo”, apontam os gestores.
Na Money Week Luis Stuhlberger e Luiz Parreiras reforçaram o tom crítico do documento.
“O primeiro discurso pós-eleição do Lula foi bom, real valorizou frente ao dólar, bolsa subiu. Mas, agora, depois das últimas declarações, o que parecia ser um governo de coalizão, de Centro, com Geraldo Alckmin, Persio Arida, está parecendo uma reedição do governo Dilma (Rousseff). Como se faz um pacote fiscal sem ter um ministro da Fazenda definido?”, pergunta Parreiras.
E complementa: “O governo eleito tem uma inconsistência entre o discurso ao Centro e a prática fiscalmente irresponsável. Auxílio Brasil/Bolsa Família mais aumento real de salário mínimo demandaria algo como R$ 75 bilhões. Mas e o resto, para onde vai? Vão fazer gastos desnecessários e os políticos não vão ser contra”.
Para Stuhlberger, está todo mundo “chocado” com os últimos discursos, porque esperava um Lula moderado.
“Eu gosto de tentar interpretar o que vai na cabeça do Lula. Primeiro, o que ele fez de 2004 a 2010? O Brasil cresceu muito, a arrecadação cresceu mais do que o PIB, teve momento em que o Brasil capturou coisas que não tinha. Boom de crédito, boom de formalização de emprego, boom de commoditites, o que levou o Brasil a um outro patamar. E com juro real elevadíssimo. Isso se equilibrou durante um tempo”, explica.
“E essa é a memória que o Lula tem. Em um jantar no qual estive esse ano, com ele presente, ele falou ‘vou repetir o que fiz naquela época, porque o governo tem que ser o indutor do desenvolvimento’. Vamos esquecer o fiscal, os gringos, a Faria Lima… daí o PIB cresce muito e as coisas se equilibram porque a arrecadação também sobe. É um jeito da esquerda pensar”.
“E ele ainda tem o bolsonarismo, que é uma oposição barulhenta. Se ele faz o PIB crescer rápido, ele pode ganhar popularidade”, complementa.
Na sua visão, na medida em que o mercado reclamar, a PEC deve ser reduzida. Mas, até aí, o “DNA” do novo governo já terá sido exibido.
“É como a pasta de dente que saiu do tubo. Você não consegue mais colocar de volta”, diz. Ou seja: será um governo com o qual o mercado sempre terá o pé atrás.
“Estão tentando medir qual o tamanho da bobagem que dá para fazer”, complementa Parreiras. “Essa espécie de ‘la garantia soy yo’ do Lula não funciona. No final do dia, não ter um nome de ministro da Fazenda é o que pesa para o mercado”, diz.
E Stuhlberger alerta: “Vejam o que aconteceu com Reino Unido de Liz Truss”, citando a passagem relâmpago da primeira-ministra, que se demitiu após pouco mais de quarenta dias no cargo, após um plano fiscal bastante criticado.

Reflexões Econômicas pós-eleições: a vantagem de um BC independente
Os gestores citam também que a posição independente do Banco Central brasileiro é bastante positiva no cenário atual.
“O Banco Central tem um bom piloto, que é o Roberto Campos Neto. Mas vai ter que falar duro, porque o Brasil está voltando para o mundo do fiscal frouxo com o monetário apertado e esse modelo tem consequências”, alerta Parreiras.
Uma delas, ele aponta, é que bolsa e demais ativos que competem com o CDI terão um futuro mais difícil. “Se não se resolve o fiscal, viveremos em um mundo de juros altos por um longo tempo”, resume.
Confira na íntegra o painel “Reflexões Econômicas pós-eleições” da Money Week.