Olá, Investidor Inteligente! Nos últimos anos a hegemonia do dólar vem sendo questionada. No ano passado, produzimos um material explicando em detalhes o que está acontecendo. Acesse: “Será que a hegemonia do dólar está ameaçada?”
Na semana passada, foi realizada em Kazan, na Rússia, a cúpula dos BRICS – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – onde, dentre vários assuntos abordados, Xi Jinping destacou a urgência de uma nova arquitetura financeira que represente o equilíbrio de poder econômico e favoreça países emergentes e em desenvolvimento.
Em outras palavras, o presidente chinês pediu que os BRICS promovam um novo sistema financeiro em que se crie uma alternativa ao uso do dólar e ao modelo atual – baseado na dominância exercida pelos americanos, tanto do sistema financeiro, quanto da geopolítica como um todo.
Dentre as ideias que circularam, uma moeda comum entrou na pauta. Putin foi fotografado segurando a cédula, levando ao início das discussões sobre a reformulação das finanças globais. A nota, que apresenta na face as bandeiras dos países do Brics, simboliza as ambições coletivas do bloco para explorar alternativas ao dólar americano.
Não vou nem adentrar na credibilidade altamente questionável que uma moeda comum dos BRICS teria. Não é essa a questão hoje. A questão é se o dólar vem perdendo a sua hegemonia.
Dólar e a ameaça dos BRICs: DXY
Para responder, vamos analisar o Índice DXY. Também conhecido como US Dollar Index, o indicador DXY mede o desempenho do dólar norte-americano frente a uma cesta de moedas estrangeiras – agrupadas de forma ponderada.
Quais moedas?
O índice é composto por seis moedas, na seguinte proporção:
- Euro: 57,6%
- Yen (Japão): 13,6%
- Libra Esterlina (Reino Unido): 11,9%
- Dólar Canadense: 9,1%
- Coroa Sueca: 4,2%
- Franco Suíço: 3,6%
Então, basicamente, o DXY mede a força do dólar em relação as outras moedas relevantes do mundo. Agora, observe o gráfico abaixo:

O gráfico mostra um histórico de 50 anos do DXY Index. Podemos observar várias fases da moeda norte americana, que possuem alta correlação com a própria economia.
Por exemplo, no final da década de 90 o dólar estava valorizado (cerca de 25%) em relação as demais moedas, em função de uma política de abertura comercial, cooperação, formação de blocos econômicos, fim do socialismo da antiga URSS etc.
Já de 2000 a 2010, os EUA passaram por duas guerras (Afeganistão e Iraque) e pela crise do subprime e o dólar atingiu o seu ponto mais baixo, estando 30% desvalorizado em relação à cesta de moedas. Depois de 2010 até hoje, o dólar vem se fortalecendo, principalmente em função da pujante economia dos EUA, do mercado de trabalho, do consumo, junto às maiores inovações tecnológicas do século (smartphones, IA, etc.).
Agora, observe a força do dólar no sistema de comércio internacional (rede SWIFT):

A “des-eurização”
Aqui, podemos observar um fenômeno chamado de “des-eurização”, que demonstra a perda de relevância do euro no mercado internacional, saindo de 40% em 2021, para os atuais 21%. Já o dólar no mesmo período saiu de 40% para os atuais 49% de participação nos pagamentos globais.
Ah, Denys, mas o RMB chinês vem crescendo; e o ouro está atingindo cotações recordes!
Sim, é inegável que muitos países estão buscando diversificar os seus ativos, para depender menos do dólar. Agora, é inegável também que em comparação a (praticamente) todas as outras moedas do mundo, o dólar é o porto seguro.
Bom, e o que está acontecendo hoje, com a maior economia do mundo?
Juros nos EUA: cortes continuam, mas em menor ritmo
Nos Estados Unidos, dados do mercado de trabalho mais fortes do que o esperado, revisões altistas das contas nacionais e um processo de desinflação lento devem levar o Federal Reserve a reduzir a magnitude dos próximos cortes de juros para 25 pontos-base.

O gráfico (à esquerda) mostra que a tendência é de continuidade de queda dos juros, mas a um ritmo menos intenso se comparado há algumas semanas atras.
O gráfico (do meio) mostra a causa: o desemprego caiu nos últimos meses, demonstrando, novamente, a força da economia dos EUA que exerce pressão sobre os preços (inflação).
E, por fim, o gráfico (à direita) mostra que a há atualmente 96% de probabilidade de que o corte de juros na próxima reunião do FOMC (marcada para 07/11/2024) será de 25bps, abaixo do estimado anteriormente (50 bps).
Os juros longos subiram nos últimos meses
Com juros longos mais altos nos EUA, abriu-se uma nova janela de oportunidade para o investimento em renda fixa de curta, média e longa duration. Ex: Bonds, ativos de direct lending, fundos de renda fixa etc.

O gráfico acima mostra o famoso “repique” – movimento contrário à tendência principal que é de queda dos juros. Esses repiques acontecem por conta de notícias (aleatórias) que colocam em dúvida se a tendência atual vai continuar. São movimentos conhecidos também como “de realização de lucros” dos investidores que se anteciparam ao mercado e usufruíram lucros acima da média.
Portanto, caro Investidor Inteligente, tal movimento dos juros longos pode significar uma nova oportunidade, um novo ponto de entrada nos ativos dolarizados, a taxas de juros ainda muito atrativas. Devemos lembrar que os juros e os rendimentos (yields) atualmente nos EUA são os maiores desde 2007 e que a tendência principal é que venham a cair nos próximos meses.
Por Denys Wiese, estrategista da EQI Investimentos
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