A Money Week Edição Especial – Cenários 2022 contou com um painel de Joseph Stiglitz, economista norte-americano e professor da Universidade de Columbia.
Nesse painel, Stiglitz fala sobre seu livro “Por uma Sociedade de Aprendizagem”. A obra, feita em parceria com Bruce C. Greenwald, propõe repensar o crescimento, o desenvolvimento e o livre comércio. A seguir, confira alguns dos principais pontos desse evento.
Joseph Stiglitz – Por Uma Sociedade de Aprendizagem
De acordo com Stiglitz, há dois temas principais no livro. O primeiro é que um crescimento bem-sucedido e sustentado requer a criação de uma sociedade de aprendizagem, pois avançamos para uma economia do conhecimento.
A segunda observação importante é que os mercados sozinhos não conseguem criar essa sociedade de aprendizagem. Por isso, para o economista, o governo precisa intervir no sentido de ajudar a difundir o conhecimento.
Para situar o leitor, Stiglitz aborda a importância da criação de uma sociedade de aprendizagem de um ponto de vista histórico. Nesse sentido, observa que a transformação para sociedades de aprendizagem ocorreu mais ou menos na época industrial, por volta de 1800. Mais recentemente é que o fenômeno alcançou as economias da Ásia.
Para Stiglitz, a disseminação do conhecimento teve impacto bem maior sobre o bem-estar humano do que melhorias na eficiência alocativa ou acumulação de recursos. Além disso, essas melhorias também estariam fortemente ligadas à criação da democracia liberal. “Por isso, na minha opinião, a manutenção de melhorias nos padrões de vida e, principalmente, prosperidade compartilhada, exigirá a manutenção de democracias liberais”, afirma Stiglitz.
Os mercados não criam uma sociedade de aprendizagem
A segunda ideia que Stiglitz abordou é que os mercados, por conta própria, não são muito bons em criar uma sociedade de aprendizagem. Segundo ele, os resultados que os economistas citam sobre a força dos mercados são baseados em análises que não focam em inovação e aprendizagem.
Para exemplificar, Stiglitz cita uma analogia de Thomas Jefferson, terceiro presidente dos EUA, que comparava conhecimento a uma vela. Isso porque, quando uma vela acende outra, não diminui a luz da primeira vela.
“Os mercados são muito bons em produzir bens comuns, mas não são bons em termos de produção de conhecimento. Além disso, não incentivam a criação de uma sociedade de aprendizagem”, afirma.
O economista destaca ainda que os mercados não produzem o nível correto de inovação nem a direção correta de inovação. Para ele, não é apenas o quanto está sendo gasto em inovação, mas para onde estão sendo direcionados os talentos de inovação.
“A Microsoft, por exemplo, foi extremamente inovadora ao descobrir como se tornar um monopólio. No entanto, esse tipo de criatividade pode não melhorar em nada o bem-estara social”, diz.
Tornar visível a mão do mercado
Sobre a “mão invisível do mercado”, Stiglitz diz que, se muitas vezes ela parece invisível, é porque, de fato, ela não está lá. Ou seja, os mercados, em geral, não são eficientes.
Para o economista, as políticas que promovem uma transformação para uma sociedade de aprendizagem são muito diferentes daquelas defendidas por economistas. “Os tipos de políticas que foram promovidas pelo Banco Mundial, pelo FMI, na realidade impediram a aprendizagem. Por exemplo, a propriedade intelectual restringe o uso de conhecimento. Mas isso é uma distorção, pois conhecimento é um bem público, e não há nenhum custo em transferi-lo para outra pessoa. Por isso, restringir o uso do conhecimento é uma ineficiência.”
Joseph Stiglitz afirma ainda que a propriedade intelectual contribuiu para a criação de monopólios, o que é outra grande distorção na economia. Segundo ele, o ideal e justo seria a propriedade intelectual voltada para o desenvolvimento. Ou seja, um regime que seja adequado para um país em desenvolvimento.
O caminho para uma sociedade de aprendizagem
A estabilidade é importante para a aprendizagem por inúmeras razões. Há bastante conhecimento dentro das instituições e empresas, e recessões podem destruir empresas. Se isso acontece, o conhecimento que existe ali também é destruído, e isso traz graves consequências a longo prazo para o crescimento e níveis de vida.
“Quando falamos sobre qual deveria ser nossa atitude em relação à resposta a uma recessão, também devemos pensar sobre o que isso causa à aprendizagem. E sobretudo nos efeitos adversos caso haja alta taxa de desemprego entre os jovens. Se não há emprego, não há aprendizagem no trabalho”, conclui o economista.