A volatilidade da economia brasileira e as incertezas no mercado de capitais ao longo de 2021 levaram o investidor estrangeiro a aportar R$ 100 bilhões na bolsa brasileira.
Seguindo a velha máxima que diz que quanto maior o risco, maior o retorno, as apostas no Ibovespa surpreenderam até mesmo os analistas mais tarimbados.
Para se ter ideia do volume negociado, foram compradas mais ações do que vendidas no período: cerca de R$ 102,5 bilhões a mais.
Somente em dezembro, a entrada de capital externo marcou R$ 14,547 bilhões, sendo que R$ 1 bilhão foi registrado exclusivamente no último pregão do ano. Naquele 30 de dezembro o dólar caiu 2%.
O feito está em linha com outras bolsas pelo mundo, cujos recordes de movimento chamaram a atenção do mercado recentemente. Entretanto, há uma percepção de que a bolsa brasileira está barata, muito por conta dos múltiplos atuais frente o histórico do Ibovespa.
- Thomas Piketty na Money Week; veja aqui
Ibovespa: relatórios de bancos
No final do ano passado alguns dos principais bancos de investimentos reportaram relatórios pontuando as ações brasileiras como bons ativos para se adquirir. A tese foi defendida, por exemplo, pelo JP Morgan e HSBC.
Já a Bloomberg elencou que o Ibovespa pode subir para 133 mil pontos este ano. Nesse mar bravio que é o mundo dos investimentos, o investidor se sustenta como um pescador que de dentro da canoa lança a rede de um lado e puxa a tarrafa do outro. Vai ser o seu conhecimento de “mar” frente às condições adversas que o levarão ao lucro ao fim da pesca.
Tanto é assim que o investidor institucional brasileiro figurou entre os que mais venderam em dezembro de 2021, encerrando o mês com saldo negativo de R$ 13,6 bilhões. Trata-se de gestoras com fundos de ações e multimercados e fundos de pensão.
Economia, inflação e eleição à frente
Há um pessimismo em relação à economia brasileira de maneira geral, a exemplo do BTG Pactual que ontem divulgou relatório afirmando que o Produto Interno Bruto (PIB) do país deverá reportar crescimento 0 neste ano.
A Verde Asset, por exemplo, optou por vender ações por conta de fatores como o rompimento do teto dos gastos por parte do governo federal para dar conta do novo Auxílio Brasil.
Já a Kairós Capital se desfez de ativos influenciada pela inflação brasileira, que disparou ao longo de 2021. E as perspectivas para a variação do IPCA no Brasil para este ano continuam colocando o mercado em suspenso.
Por fim, 2022 é ano eleitoral e isso não é um fator que agregue, além das perspectivas de baixo crescimento, que não passam de 0,40% para este ano. É o que diz a Ibiúna Investimentos, para quem essas incertezas (fiscais e eleitorais) demandam o reforço da única âncora que restou ao sistema: a monetária.
Para a corretora, esses ingredientes deixam o país vulnerável a mudanças de humor nos mercados globais.
Panorama da bolsa
O investidor estrangeiro ingressou com R$ 70,76 bilhões líquidos na B3 no acumulado de 2021. Somente em dezembro, o saldo foi positivo em R$ 14,55 bilhões, resultado de R$ 337,14 bilhões em compras e R$ 322,59 bilhões em vendas e, no dia 30, foram R$ 967,8 milhões alocados.
Por outro lado, o fluxo líquido no ano do investidor PESSOA FÍSICA (individual e clubes de investimento) ficou negativo em R$ 6,65 bilhões. Em dezembro, o saldo foi negativo em R$ 2,81 bilhões e, no dia 30, em R$ 582,01 milhões.
Em 2021, o saldo líquido do investidor INSTITUCIONAL foi negativo em R$ 78,53 bilhões. No mês passado, foram sacados liquidamente R$ 13,56 bilhões e, no dia 30, R$ 370,1 milhões.
Em 2021, o Ibovespa acumulou uma desvalorização de 12%. Em dezembro, o índice subiu 2,85% e, no dia 30, fechou em alta de 0,69%, aos 104.822 pontos.