Com juros elevados e inflação ainda pressionada, os efeitos do cenário macroeconômico começaram a chegar aos fundos de infraestrutura — os FI-Infras. Relatórios de gestão recentes indicam inadimplência nos FI-Infra em algumas debêntures e aumento do estresse financeiro entre emissores. A dúvida que fica é: o investidor deve se preocupar?
Segundo João Zanott, analista da EQI Research, os FI-Infras estão sentindo os efeitos do cenário econômico de forma mais lenta do que outros segmentos.
“O setor imobiliário já vinha registrando inadimplência há bastante tempo. Agora, esse efeito começa a aparecer nos fundos de infraestrutura”, afirma.
Apesar disso, ele ressalta que não se trata de um movimento generalizado, mas sim de casos pontuais. A avaliação da EQI Research é que o risco ainda é relativamente bem controlado, especialmente quando comparado ao observado em fundos de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).
Inadimplência nos FI-Infras: setor oferece maior proteção
Zanott lembra que, por serem regulados e operarem com contratos de longo prazo, os projetos de infraestrutura têm uma estrutura mais segura do ponto de vista de crédito. “Uma usina de geração ou uma linha de transmissão, por exemplo, já tem receita contratada. Isso reduz muito o risco de calote”, explica.
Mesmo em setores mais voláteis, como rodovias, há mecanismos que preservam a saúde financeira do projeto. Quando necessário, a concessionária pode solicitar reequilíbrio econômico-financeiro, o que reduz a probabilidade de inadimplência prolongada.
Transparência da gestão faz diferença
Um dos pontos destacados por Zanott é a postura transparente de algumas gestoras, que vêm relatando abertamente os riscos em suas carteiras.
“É positivo ver fundos que avisam com antecedência sobre emissores estressados. Isso evita surpresas para o investidor e ajuda a manter a confiança”, diz.
Na prática, a EQI Research observa que fundos com maior transparência tendem a ter desempenho mais estável, justamente por manterem seus cotistas bem informados sobre a real situação dos ativos.
Deságio e isenção criam janela atrativa
Mesmo com as incertezas, a EQI Resarch acredita que os FI-Infras seguem atrativos para compor parte da carteira. Muitos desses fundos estão sendo negociados com desconto em relação ao valor patrimonial — entre 5% e 10%, segundo o relatório de julho. Além disso, essa precificação já considera os riscos de inadimplência dos ativos na carteira.
Outro ponto importante é a possibilidade de garantir isenção fiscal. A Medida Provisória 1303, em tramitação, prevê que apenas fundos emitidos a partir de 2026 passem a pagar imposto de renda. Ou seja, quem investir até 2025 preserva o benefício.
Para Zanott, isso pode estimular uma alta na demanda por FI-Infras até o fim do ano. “É uma janela interessante para quem busca isenção e retorno real acima da inflação”, observa.
Para a EQI Research, a inadimplência nos FI-Infras deve ser vista com atenção, mas não como um sinal de pânico. O investidor não está pagando caro por ativos com risco elevado — pelo contrário. “Quando você compra abaixo do valor patrimonial, com inadimplência já precificada e isenção fiscal garantida, o custo-benefício ainda é muito bom”, resume Zanott.
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Um fundo Fi-Infra (Fundo de Investimento em Infraestrutura) é um tipo de fundo de renda fixa que aplica recursos principalmente em debêntures incentivadas emitidas por empresas do setor de infraestrutura. Esses ativos oferecem isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas e financiam projetos como rodovias, usinas de energia, telecomunicações, entre outros.
Os principais riscos incluem a inadimplência dos emissores das debêntures, oscilações no valor da cota de mercado e mudanças na legislação fiscal. Ainda assim, por serem ligados a setores regulados e projetos com receitas contratadas, esses fundos tendem a apresentar risco menor do que fundos com exposição a crédito imobiliário.
Não necessariamente. Especialistas apontam que a inadimplência atual é pontual e já está precificada no valor patrimonial das cotas. Além disso, fundos com boa gestão e transparência continuam sendo boas opções, especialmente quando negociados com deságio e mantendo isenção de IR.
Sim, os fundos emitidos até o fim de 2025 continuam oferecendo isenção de IR para pessoas físicas, conforme a proposta da MP 1303. A partir de 2026, a isenção valerá apenas para cotistas que já estavam nos fundos antigos, o que pode aumentar a demanda ainda neste ano.
Para quem busca diversificação, retorno real acima da inflação e isenção de IR, os FI-Infras ainda fazem sentido. Especialmente agora, com muitos fundos sendo negociados abaixo do valor patrimonial, o investidor pode acessar esses ativos com desconto e perspectiva de valorização futura.