A EQI Research atualizou nesta segunda-feira (1º) sua Carteira Recomendada de Renda Fixa para dezembro, promovendo uma redução marginal de risco após dois meses consecutivos de desempenho acima do CDI e do IMA-Geral.
O movimento reflete, segundo o analista João Neves, o descompasso entre a forte valorização recente dos títulos — sobretudo os indexados à inflação — e a ausência de melhora proporcional nos fundamentos macroeconômicos.
“Os títulos indexados ao IPCA+ foram o destaque do mês, apresentando a melhor performance e conseguindo mais do que compensar o carrego negativo em relação ao CDI”, afirma Neves.
“Diante desse bom resultado, estamos realizando ajustes marginais nas alocações”, acrescenta o analista.
Títulos longos dispararam, mas fundamentos não acompanharam
Segundo Neves, o recuo da curva de juros ao longo dos últimos meses beneficiou principalmente papéis intermediários e longos, gerando ganhos relevantes de marcação a mercado. O problema, diz ele, é que a intensidade dessa valorização não veio acompanhada pela mesma melhora dos indicadores econômicos.
“Os ganhos acumulados nos últimos meses não foram acompanhados, na mesma magnitude, por uma melhora dos fundamentos. Esse descompasso acabou comprimindo o prêmio de risco desses ativos”, explica o analista da EQI Research.
Na prática, isso significa que:
- parte relevante do retorno recente veio da marcação a mercado e não do carrego;
- títulos longos passaram a oferecer menor relação risco-retorno;
- ampliar a parcela pós-fixada ajuda a suavizar a volatilidade e manter retorno competitivo.
O que mudou nas carteiras: foco em proteção, sem abrir mão de oportunidades
A EQI Research não realizou um rebalanceamento profundo — mas fez ajustes cirúrgicos, refletindo a leitura de que é hora de proteger parte dos ganhos, não de desmontar posições.
1. Pré-fixados: redução do peso, mas pilares mantidos
Os pré-fixados foram os ativos mais ajustados no mês:
- corte de 2,5 p.p. nos três perfis (conservador, moderado e agressivo);
- manutenção dos títulos de médio prazo como preferência da casa.
Neves enfatiza que os vértices intermediários continuam sendo o ponto de eficiência da curva:
“Os títulos curtos tendem a oferecer ganhos de capital limitados, enquanto os vértices longos carregam riscos mais elevados que, no momento, não são adequadamente remunerados”, afirma o analista.
2. IPCA+: manutenção das posições e predominância dos vencimentos intermediários
Diferentemente dos pré-fixados, os títulos indexados à inflação não sofreram cortes, mas continuarão concentrados nos prazos intermediários.
A estratégia reflete dois pontos:
- os vencimentos médios têm sido o núcleo da performance recente;
- os títulos muito longos foram os que mais ganharam — e, portanto, também são os que carregam maior risco de devolução.
Nas palavras de Neves:
“Nos títulos indexados ao IPCA+, mantemos a preferência pelos vencimentos intermediários, pois é nesse horizonte que se encontra o ponto mais eficiente entre retorno esperado e risco assumido.”
3. Pós-fixados: o amortecedor de risco cresce de importância
A classe que ganhou mais espaço foi a pós-fixada, aumentando 2,5 p.p. em todos os perfis.
A mensagem é:
- garantir estabilidade em um momento em que a volatilidade dos prefixados e IPCA+ aumenta;
- capturar o carrego elevado da Selic, que segue em patamar alto;
- reduzir a probabilidade de quedas bruscas caso haja correção na curva.
Neves resume a lógica:
“A alocação relevante em títulos pós-fixados reduz a volatilidade da carteira e permite aproveitar o patamar ainda elevado das taxas de juros.”
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Como ficou cada perfil — mais detalhado
Perfil Conservador
- Pré-fixados caem de 15% para 12,5%
- IPCA+ permanece em 22,5%
- Pós-fixados sobem para 65%
É a carteira mais beneficiada por estabilidade e carrego elevado.
Perfil Moderado
- Pré-fixados recuam de 25% para 20%
- IPCA+ segue em 30%
- Pós-fixados sobem para 50%
Mantém sensibilidade à queda de juros, mas com amortecedor maior.
Perfil Agressivo
- Pré-fixados caem de 27,5% para 25%
- IPCA+ permanece em 35%
- Pós-fixados vão a 40%
Ainda é a que mais se beneficia de rally de curva, mas com risco calibrado.
Desempenho de novembro: carteiras dispararam — e por isso o ajuste é prudente
As altas no mês foram expressivas:
- 1,37% (130% do CDI) no conservador;
- 1,61% (153% do CDI) no moderado;
- 1,73% (164% do CDI) no agressivo.
Segundo Neves, esse movimento reforça a necessidade de cautela:
“Foi uma performance forte, impulsionada pela queda de juros, mas que não pode ser tomada como garantia de trajetória contínua. Ajustamos para preservar parte dos ganhos.”





