Os principais bancos centrais do mundo têm trabalhado para viabilizar as próprias moedas digitais e, com o Brasil, isso não é diferente. Nesta segunda-feira (6), serão divulgadas pelo Banco Central (BC) as novidades sobre a criação do real digital, a moeda virtual da economia brasileira.
Segundo o próprio BC, a previsão é de que a moeda entre em circulação somente em 2024. Mas o mercado já se mostra otimista com o novo meio de pagamento. Nesse sentido, o principal motivo é a rápida popularização do PIX. O BC acredita que a implantação do real virtual traria ainda mais vantagens para os meios de pagamentos eletrônicos.
No entanto, ainda existem muitas dúvidas em relação à moeda virtual. Muitos a confundem com as criptomoedas atualmente em circulação. Outros chegam a falar sobre a substituição do dinheiro físico pelo real digital. Continue a leitura e entenda o que é e como funcionará a nova moeda.
O que é o real digital
Basicamente, o real digital é a versão virtual da moeda brasileira. As moedas virtuais dos países são conhecidas pela sigla CBDC (central bank digital currency, ou moeda digital de banco central). Esse meio de pagamento funciona da mesma forma que o dinheiro físico, pois serve para realizar pagamentos, transferências e, também, pode ser guardado em carteiras digitais.
Como vimos, outros países já estão trabalhando nesse novo meio de pagamento. Nesse sentido, a China foi a primeira grande economia a desenvolver a sua moeda digital.
O yuan digital pode ser operado por meio de um aplicativo criado pelo Banco Central de Pequim. A nova moeda vai conviver com o dinheiro em circulação, e, já na primeira fase de utilização, 100 mil chineses foram convidados a testá-la.
Outro país que está avançado no desenvolvimento do dinheiro digital é a Suécia. No entanto, por lá as coisas irão demorar mais do que o esperado. É o que afirmou o Riskbank, o banco central sueco, logo após a conclusão dos primeiros testes da “e-krona” (ou coroa digital sueca) no início de abril. Segundo o banco central sueco, a estreia do e-krona na economia está prevista somente para 2026.
Como funcionam e qual a importância das CBDCs
Como vimos, as central bank digital currency são moedas virtuais emitidas pelos bancos centrais. Isso significa que elas são reguladas pelos bancos centrais e, por isso, têm conversibilidade garantida com as respectivas moedas dos países.
Basicamente, as CBDCs ampliarão as formas de movimentação de recursos do sistema financeiro. Isso inclui também transações internacionais, que se tornarão mais rápidas e baratas. Com isso, aumentará a inclusão financeira e a segurança das transações financeiras digitais.
Um dos aspectos importantes sobre a utilização das CBDCs está relacionado à queda da utilização do dinheiro físico que já acontece em muitos países. Embora o dinheiro físico ainda tenha muita representatividade (principalmente em países como o Brasil, em especial entre as classes D e E), a importância da moeda digital vem crescendo nos últimos tempos.
Um exemplo disso foram as transferências de recursos realizadas durante a pandemia. Nesse sentido, diversos países enfrentaram o desafio de transferir dinheiro para a população de forma rápida e, principalmente, segura, para que não precisassem sair de casa.
O real digital funcionará da mesma forma que as criptomoedas?
Essa é uma das confusões que, muitas vezes, é feita quando falamos das CBDCs. Apesar de o real digital e das criptomoedas pertencerem ao mundo virtual, existem importantes diferenças entre eles.
A primeira delas está na emissão e na regulamentação. Como vimos, uma CBDC é emitida por um banco central. Por isso, estarão sujeitas às normas dessas instituições. Além de serem programadas, outras vantagens desses ativos para o país são permitir um maior controle sobre os fluxos financeiros e auxiliar a reduzir os custos na emissão de papel-moeda.
Por outro lado, as criptomoedas são emitidas e distribuídas de forma descentralizada. No caso de criptomoedas, como bitcoin e ethereum, a tecnologia utilizada é o blockchain.
Basicamente, o blockchain funciona como um banco de dados. Da mesma forma que o computador, ele armazena todas as informações dos usuários que ficam conectadas por blocos (daí o nome da tecnologia). No entanto, o blockchain funciona diferente de um banco de dados de um computador, que armazena as informações no hardware,. Isso porque os dados do blockchain ficam espalhados pela internet e não podem ser modificados.
No artigo abaixo, saiba mais sobre as criptomoedas e a tecnologia blockchain.
E como funcionará o real digital?
Os detalhes sobre o funcionamento da moeda digital brasileira ainda estão sendo definidos pelo Banco Central. A seguir, veremos alguns pontos de destaque das diretrizes divulgadas em maio.
Pagamentos no mercado nacional e no exterior
A previsão de integração do real digital com os sistemas digitais de pagamento reforça a tendência da utilização da moeda digital que já ocorre em outros países. Nesse sentido, o BC informou que a moeda digital será utilizada tanto em transações online quando offline no varejo.
Além disso, o real digital será desenvolvido de forma que possa ser utilizado também em transações internacionais.
Forma de distribuição da moeda digital
A distribuição do real digital será feita em dois níveis. Isso significa que o BC emitirá a moeda, e ela será distribuída ao público por meio dos bancos, fintechs e todas as instituições participantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro.
Outro detalhe é que a conta em real digital não terá remuneração.
Inovações digitais
Outro ponto importante da moeda virtual é a sua contribuição para as inovações tecnológicas. Nesse sentido, o BC destaca a possibilidade de o real digital ser utilizado em contratos inteligentes (smart contracts) e na internet das coisas (IoT).
Fabio Araujo, coordenador dos trabalhos sobre a moeda digital no BC, dá um exemplo sobre a internet das coisas. Segundo ele, uma possibilidade seria uma geladeira inteligente, que, ao detectar a falta de algum item, encomende a compra desse produto, que seria automaticamente paga com o real digital.
Segurança e privacidade
Sobre a segurança e privacidade, o BC determinou que serão seguidas as regras de sigilo bancário e da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Outras questões legais dizem respeito ao atendimento das normas de compliance internacional em relação à lavagem de dinheiro e a outras recomendações internacionais.
Com isso, diferentemente do que ocorre com as criptomoedas, fica descartada a possibilidade de anonimato para utilizar o real digital.
O dinheiro físico conviverá com o real digital?
Segundo o Banco Central, a ideia é fazer com que a moeda virtual seja um complemento ao real em espécie. Nesse sentido, é importante considerar que, no Brasil, ainda há grande parte da população sem acesso a serviços financeiros.
Mesmo com a expansão dos bancos digitais e da utilização de novos meios de pagamentos eletrônicos, ainda não é possível eliminar o dinheiro físico por aqui. Dessa forma, a intenção do governo é manter por bastante tempo ainda o real digital e o dinheiro físico na economia.
Quanto ao valor, ainda não se sabe qual será a cotação do real digital em relação a outras moedas. De acordo com Fábio Araújo, os bancos centrais ao redor do mundo tentarão fazer com que sejam equivalentes as cotações das moedas digitais. Porém, não está descartada a hipótese de haver algum descolamento de valores entre o real digital e o físico. Sobre isso, Fábio afirma existirem “forças de mercado” que poderão atuar e, por isso, o assunto ainda permanece em discussão.
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