A inflação pode ser conceituada como o aumento do preço de produtos e serviços. Quando ela chega, pode ser notada de pronto por todas as pessoas. Mas, é claro, o simples passear pelas prateleiras de um mercado, por exemplo, não deve ser o parâmetro de um bom investidor. Para entender melhor a economia, é preciso contar com elementos mais sólidos.
Por isso, neste texto, vamos entender o que é o IPCA. Assim, vamos perceber como o índice oficial da inflação no Brasil impacta a vida de todos nós. E, é claro, ao final do texto, você saberá como usar esse índice ao seu favor na hora de construir a sua carteira de investimentos. Então, vamos lá?
IPCA: o que é
IPCA é a sigla para Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. Ou seja, trata-se de um dado gerado pelo IBGE que serve para medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo. A escolha desses itens tem como objetivo oferecer o “raio-X do consumo” a partir da coleta de informações junto a 90% das famílias pertencentes às áreas urbanas de cobertura da pesquisa.
Perceba, o IPCA não objetiva identificar o aumento de todos os preços, mas fazer um recorte a partir da população-objetivo, que abrange as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários-mínimos. Desse modo, o IPCA se torna uma fotografia muito capaz de demonstrar a realidade econômica encarada pelas pessoas no dia a dia. E, por isso, influencia as decisões de todos os agentes econômicos do país, começando pelo governo.
Quais são os índices de inflação?
Antes de entender como esse índice impacta diretamente a política econômica do governo, a postura das empresas e, por consequência, as ações da bolsa de valores, é importante colocar o IPCA em perspectiva. Isto porque ele se soma a outros índices, como o INPC e o IGP-M, que também são muito importantes e, apesar de menos comentados, precisam ser conhecidos pelo investidor.
Por outro lado, vale dizer que nenhum desses índices é a inflação em si. A inflação é um conceito mais abrangente, que precisa ser estudado com atenção pelos investidores. Se você quer saber mais sobre o tema, acesse nosso conteúdo que fala sobre o que causa a inflação.
IPCA x INPC x IGP-M
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC, como o nome sugere, é parecido com o IPCA. A diferença na sigla ajuda a explicar a distinção entre um e outro: neste caso, o INPC não conta com a palavra “amplo”, pois tem por objetivo a correção do poder de compra dos salários por meio da mensuração das variações de preços da cesta de consumo da população assalariada com mais baixo rendimento.
Ou seja, o INPC é um recorte ainda mais fechado, configurando-se numa faixa de renda que foi criada com o objetivo de garantir uma cobertura populacional de 50% das famílias, cuja pessoa de referência é assalariada e pertencente às áreas urbanas de cobertura do SNIPC – Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor.
Já o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) é levantado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e, mais precisamente, pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE). Criado nos anos de 1940, o índice percebe o movimento dos preços a partir de gastos relacionados à educação, imóveis, energia, seguros e saúde.
Como o IPCA e os índices de inflação impactam a economia?
Quando o IPCA indica que a inflação anual superará a meta definida, identifica-se um crescimento acima do que se espera para a inflação. E o remédio mais comum para combater esse problema é amargo. O governo tende a aumentar os juros, alterando a taxa Selic, que é a taxa básica de juros do país — o Brasil, aliás, é líder em taxa de juros real no mundo. A taxa Selic também influencia diretamente os investimentos, então, vale a pena entendê-la melhor.
Taxa de juros alta visa dificultar o acesso ao crédito e ataca de frente o consumo. Com menos demanda, espera-se, os preços aumentam em menor velocidade, ou até caem.
Além disso, com a alta na taxa de juros elevada no comparativo com outros países, há a tendência da entrada de capital do exterior (que vem ao país aproveitando essa oportunidade). Assim, com a entrada de moeda externa no nosso mercado, há sempre a expectativa da valorização da nossa própria moeda, o que é mais um ponto para combater a inflação.
O INPC vai em uma linha parecida, ainda que seja menos conhecido e relevante. Neste caso, como é um índice que verifica o aumento do preço de itens que impactam o dia a dia das famílias que ganham até 5 salários-mínimos, ele é muito importante para analisar como o aumento do nível de preço afeta as finanças de mais da metade da população brasileira.
E, é claro, também é importante para a elaboração de desonerações e políticas de auxílio social que podem ser demandadas por esse dado em específico.
Por outro lado, o IGP-M influencia gastos, como mensalidade de escolas e universidades, tarifa de energia elétrica, algumas modalidades de seguros veiculares e de vida, determinados planos de saúde e convênios médicos e, por fim, aluguéis de imóveis comerciais e residenciais, sendo esse o mais relevante dos casos. Isto porque o IGP-M é a base mais usada para o reajuste anual dos contratos de aluguel. Assim, passou a ser popularmente chamado de “inflação do aluguel”.
O IPCA e as finanças
Se nós vimos que os índices que medem a inflação impactam a economia como um todo, é claro que eles impactam as finanças. Em primeiro lugar, há muitos investimentos que são atrelados a esses índices, ou seja, remuneram de acordo com os seus resultados. Nesse caso, o impacto é direto, como veremos a seguir.
Mas, antes, vamos pensar sobre o impacto indireto. Quando a inflação aumenta, o hábito de consumo das pessoas muda. Assim, as empresas são afetadas nas suas vendas. Algumas áreas tendem a sofrer mais nesses cenários, enquanto outras sofrem menos.
Além disso, o resultado positivo das organizações em momentos de alta dos preços pode estar na capacidade de lidar com isso sem perder competitividade. Então, se você quer valorizar as suas ações, precisa reconhecer o comportamento dessas empresas frente aos efeitos da inflação.
Investimentos ligados aos índices de inflação
Como foi dito, vários investimentos estão atrelados aos indicadores de inflação. As opções diferem entre si, mas a lógica costuma ser a seguinte: o investidor compra um título que assegura a correção dos ganhos, de modo a sempre garantir que eles fiquem acima da deterioração do dinheiro naquele período. Assim, ocorre a garantia de um ganho real. Mas, vamos entender, na prática, de que investimentos estamos tratando.
Existem distintas opções diretamente atreladas ao IPCA, por exemplo. Nesse caso, ficam à disposição do investidor o Tesouro IPCA+ e o Tesouro IPCA com juros semestrais, além de LCIs, LCAs, fundos de investimento, CRI e CRA e debêntures.
Carteira defensiva para momentos de crise
Quando a inflação sobe, deixar valores na poupança, mais do que nunca, significa perder dinheiro. E o motivo é bastante simples. Se o preço das coisas sobe, mas o seu dinheiro fica guardado valendo nominalmente o mesmo, ele, na verdade, está valendo menos na vida real. Por isso, momentos em que a economia convive com a inflação demandam ainda mais que as pessoas entendam esses índices e façam investimentos, para que seu dinheiro não evapore.
Porém, inflação alta significa instabilidade. Períodos assim requerem cuidado. E, nesses casos, ter uma carteira defensiva pode ser a melhor opção. Mas, o que isso significa? Bom, uma carteira defensiva é aquela montada justamente para fazer do período de turbulência uma oportunidade, assumindo a perspectiva de defender o seu dinheiro da deterioração imposta pela alta dos juros.
Isso se dá com a opção sendo feita pelos investimentos ligados aos índices de inflação, que são aqueles explicados anteriormente. Mas, essa estratégia tem alguns riscos. Vejamos os três principais: risco de mercado, risco de crédito e risco de liquidez.
Risco de mercado
O risco de mercado está relacionado ao risco de que ocorram variações no preço dos títulos com o passar do tempo. Por exemplo, se você compra um título de longo prazo com rendimento de 5% e, no ano seguinte, o mesmo título está sendo vendido com rendimento de 6%. Logo, você deixou de fazer um investimento melhor. Até porque, vale lembrar: em investimentos desse tipo, o rendimento prometido só é entregue mediante cumprimento do prazo.
Claro que esse risco é maior quando se trata de renda variável, mas ainda pode afetar a renda fixa quando os títulos são vendidos antecipadamente. Afinal, o lucro só é garantido se a data de vencimento também for respeitada — quando isso não ocorre, o risco de perder dinheiro na transação deve ser considerado. Por motivos óbvios, quanto maior a duração do título, maior o risco de mercado do Tesouro Direto.
Risco de crédito
Quem compra um título do Tesouro Direto está, de certa forma, emprestando esse valor ao governo federal. Nessa relação, o governo é o devedor e o investidor é o credor. E, como em qualquer relação de empréstimo, quem se torna o credor corre o risco de que o empréstimo não seja pago. A isso chamamos risco de crédito, que no caso do Tesouro Nacional se apresenta no menor risco do mercado.
Conceitualmente, esse risco existe, sim, no caso do Tesouro Direto também pela relação exposta no parágrafo anterior. Mas, na prática, as chances de um governo quebrar são bastante pequenas. E, no caso do Brasil, que imprime a sua própria moeda, as chances são menores ainda. Além da emissão monetária, vale ressaltar, medidas como o aumento de impostos também dão margem de manobra ao governo, que pode gerar receita.
A mesma lógica se aplica aos demais papéis atrelados ao IPCA. No caso de investir em LCAs e LCIs, CDBs, CRIs e CRAs, o principal risco é a instituição financeira que emitiu o título entrar em processo de falência e, por conta disso, não ter capacidade de pagar o empréstimo. Em comparação com o Tesouro Direto, é claro que o risco de crédito desses investimentos é maior, uma vez que um banco tem muito mais chance de quebrar do que um país, mas ainda se trata de um risco baixo.
Risco de liquidez
Alguns ativos podem ser transformados em dinheiro e sacados a qualquer momento. Esses são aqueles com altíssima liquidez. Outros, porém, não representam a mesma simplicidade. Nesses casos, há risco de liquidez. É a situação em que está o Tesouro Direto, uma vez que, como já foi dito, trata-se de um título com uma data de vencimento.
Então, para poder acessar qualquer tipo de valor sobre ele, é necessário fazer a venda do título, o que impõe encontrar um comprador disposto. Mais uma vez, porém, o conceito visto na prática apresenta um baixo risco. Nesse caso, o risco do Tesouro Direto é muito baixo porque o próprio Governo Federal garante a recompra desses títulos em qualquer dia útil.
Aqui, mais uma vez, a lógica se repete quando tratamos de LCAs e LCIs, CDBs, CRIs e CRAs. Por mais que haja especificidades a depender do título e da instituição emissora, em geral, a retirada do valor antes do prazo tende a implicar um resgate menor do que o inicialmente objetificado.
IPCA: Qual é o cenário atual?
O IPCA ficou em 0,71% em março, abaixo do consenso projetado de 0,77%, e com desaceleração em relação à alta de 0,84% apresentada em fevereiro.
Ainda assim, o momento segue favorável aos investimentos atrelados às taxas de juros, especialmente os títulos com vencimento curto. Mas, é claro, o cenário econômico segue volátil e o investidor deve sempre estar atento aos movimentos e ser bem assessorado.
Então, para conseguir montar uma carteira de investimentos adequada à atual realidade econômica do Brasil, aproveite para simular seus investimentos com um especialista EQI.