Menos de uma semana depois que a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou o registro de temperatura recorde no continente antártico, de 18,3ºC, a marca foi batida. Agora, são 20,7ºC a mais alta temperatura na Antártica. Pela primeira vez na história, o continente afere uma temperatura acima de 20ºC.
O recorde anterior havia sido medido ao meio-dia de 7 de fevereiro de 2020, na estação Esperanza, da Argentina. Ela fica a 100 quilômetros da estação brasileira. O anterior a esse era de 25 de março de 2015, 17,5 graus.
Os 20,7ºC foram alcançados dia 9 de fevereiro, na na ilha Seymour, por cientistas brasileiros do Terrantar, projeto nacional que é responsável por monitorar as consequências da mudança climática global em 23 locais do continente. Estima-se que a Península Antártica aqueceu três graus nos últimos 50 anos.
O recorde ainda precisa ser confirmado pela OMM.
Temor
Essa contínua quebra de recordes de altas temperaturas no continente gelado, aumenta o temor sobre as mudanças climáticas no maior repositório de gelo do mundo.
O pesquisador e professor da Universidade Federal de Viçosa, Carlos Schaefer, um dos responsáveis pelo Terrantar, disse ao jornal britânico The Guardian que, por mais que o aquecimento local seja preocupante por si só, “essa temperatura assusta por ser algo nunca visto antes em uma região gelada”. “Anormal” foi um dos adjetivos utilizados para classificar o registro.
De acordo com Schaefer, a temperatura na península, nas Ilhas Shetland do Sul e no arquipélago de James Ross, do qual Seymour faz parte, tem estado irregular nos últimos 20 anos. Após o resfriamento na primeira década deste século, vem aquecendo rapidamente.
Os cientistas apontam como as correntes marítimas mais quentes um dos motivos para essa anormalidade. O estudo deles diz que “temos mudanças climáticas na atmosfera, que estão intimamente relacionadas às mudanças no permafrost e no oceano. A coisa toda está muito inter-relacionada”.
Àqueles que acham que isso é natural no verão, os cientistas afirmam que as temperaturas no inverno também estão aumentando e com rapidez.
Exemplos práticos
Com altura equivalente a um prédio de 40 andares e área equivalente à do Distrito Federal, o iceberg chamado de A68 se desprendeu da Antártica em 2017 e está prestes a chegar em mar aberto, próximo ao limite do Círculo Polar Antártico, e chegar ao Oceano Austral. Ele pesa 1 trilhão de toneladas, 150 quilômetros de comprimento e com 5,8 mil km².
O A68 surpreendeu a comunidade científica pelo tamanho e pela velocidade com que se desprendeu da plataforma Larsen C, na Península Antártica, o que fez pesquisadores levantarem a hipótese de que as mudanças climáticas globais teriam acelerado o processo.
A Península Antártica é a mais próxima do sul da América do Sul, à Terra do Fogo.
Em agosto de 2019, uma plataforma de gelo chamada Amery, a terceira maior da Antártica, desprendeu um iceberg um pouco maior do que a cidade de São Paulo, com uma área de 1.636 km².
O bloco de gelo foi chamado de D28 e é o maior produzido pela plataforma nas últimas cinco décadas. Ele está vagando ao sabor das correntes e derretendo – embora vá levar anos para derreter totalmente. Nesse caso, os cientistas divergem sobre se a causa é de fato o aquecimento global ou se é um acontecimento natural.
Outro dado alarmante é que a temperatura média dos oceanos subiu pelo terceiro ano seguido, e bateu novo recorde em 2019. As águas estão 0,075ºC mais quentes. Com isso, a temperatura subiu 450% nos últimos 60 anos, levando a uma elevação de 46 milímetros no nível do mar.
O COP25, Conferência do Clima da ONU, realizada recentemente em Madri, foi praticamente toda voltada a se aprofundar nas mudanças climáticas, mas sem efeitos práticos ainda, em termos de negociações, o que o Greenpeace chamou de “resultado totalmente inaceitável”.
Em seu Relatório Global de Riscos, publicado logo após Davos, o Fórum Econômico Mundial de 2020 afirma que pela primeira vez, desde que se começou a publicar o documento, todos os “principais riscos de longo prazo” para a economia são ambientais.
“As mudanças climáticas são uma ameaça muito real e séria para a sociedade”, afirma Alison Martin, membro do grupo de serviços financeiros Zurich Insurance Group, que ajudou a compilar a publicação, em colaboração com a empresa de consultoria Marsh & McLennan e várias universidades de renome de todo o mundo.
“Os impactos de curto prazo das mudanças climáticas acarretam uma emergência planetária que incluirá perda de vidas, tensões sociais e geopolíticas, assim como impactos econômicos negativos”, diz o relatório.
A cada revés do clima, causado pelo desequilíbrio climático, o custo é cada vez mais alto: são vidas, trabalhadores, recursos materiais que precisam ser repostos e consequente impacto nas contas públicas de cada país.
As informações são de O Globo e da Exame.






