O investidor brasileiro ainda pensa muito se vale a pena ter um plano de previdência privada contratada ou não.
Para falar melhor sobre o assunto e poder chegar a conclusões assertivas, Fernando Lovisotto, chefe de investimentos líquidos da Vinci Partners, e Carlo Cauti, editor da Exame Invest, falaram sobre o tema na quinta edição da Money Week, evento online e gratuito da EQI Investimentos, que acontece até dia 29 de outubro. Confira.
Vale a pena investir em previdência privada?
Para Carlo Cauti, editor da Exame Invest, a resposta é: depende!
Ele diz que este é um tema importante para Itália e Japão, que tem uma população bem mais idosa que a do Brasil. Eles têm problemas de previdência pública e isso também acontecerá no Brasil. Para Cauti, “o Brasil se baseia no INSS, com sistema de retribuição, onde as pessoas economicamente ativas pagam uma porcentagem daquilo que ganham para o INSS e o órgão paga para quem já parou de trabalhar. Isso não se sustenta ao longo do tempo”.

Carlos Cauti. Crédito: Reprodução/Money Week
Para se ter ideia do problema, em 2013 o Brasil possuía uma pirâmide demográfica com base larga e topo estreito e a previsão é que isso se inverta, pois as pessoas estão vivendo mais e os jovens não têm mais tantos filhos. A previsão é que 1 a cada 4 brasileiros tenham mais de 65 anos em 2060, segundo projeção do IBGE.
Cauti é enfático: “Os jovens não terão aposentadoria pública, por isso é necessário pensar em previdência particular. Um fundo de previdência privada vale a pena dependendo de sua rentabilidade. E existem muitos produtos que não valem a pena, por seus custos elevados e baixas rentabilidades. Muitos gestores não fazem um bom trabalho”, afirma.
E complementa: “Os custos também impactam fortemente, fazendo com que o rendimento real seja negativo, ou seja, abaixo da inflação. Principalmente a taxa de administração e taxa de carregamento, que é a cobrança de pagamento no saque e no resgate. Muitos fundos ainda cobram essa taxa considerada descabida”.
Outra opção, segundo Cauti, é montar a carteira previdenciária por conta própria, com Fundos de Investimentos Imobiliários, ações que pagam bons dividendos e títulos públicos atrelados à inflação.
Previdência: importância do ganho real
Fernando Lovisotto, da Vinci Partners, aponta que a maior parte dos recursos em previdência privada está investida em fundos de renda fixa que são ligados ao CDI, e essa é uma taxa de curto prazo. Esse pode ser um erro conceitual importante para quem pensa no longo prazo – 15, 20 ou 25 anos. Por conta disso, três fatores precisam ser analisados.
O primeiro é o período de contribuição durante o qual serão feitos os aportes em previdência. Já o segundo é o período de benefício. A somatória desses dois culmina no terceiro fator que é a rentabilidade necessária para atender aos dois períodos citados acima.
Lovisotto acrescenta: “Por isso é importante avaliar o fundo no qual o recurso será investido, pois é preciso saber qual o ganho real (acima da inflação) que se deve ter no período estipulado. Assim é possível preservar o poder de compra do dinheiro ao longo do tempo”.
Um exemplo básico para ilustrar a afirmação acima é dado por ele. “Em dezembro de 2000, era possível comprar 67 pães com R$ 10. Hoje, compra-se apenas 14 com o mesmo dinheiro. Como exemplo prático, temos a situação atual na qual um fundo de renda fixa que rende 110% do CDI ficou de 3% a 4% abaixo da inflação nos últimos 2 anos”, diz.
Previdência: necessidade de diversificação
Lovisotto aponta o fundo previdenciário da gestora em que trabalha. O veículo busca uma taxa de ganho real de 6% a 7% ao ano e usa uma diversificação grande, aplicando em ações no Brasil que pagam bons dividendos, juros, moedas, uma parte no exterior.
Sua composição considera fundos internacionais para ter acesso a mercados desenvolvidos e estratégias globais. Além de juros e câmbio, aproveitando a alta taxa de juros hoje no mercado nacional e renda variável doméstica. Ele diz ser importante ter esta diversificação por conta de empresas boas pagadoras de dividendos e uma boa taxa de retorno, com 8% a 9% acima da inflação.
Além disso, usa fundos imobiliários listados e com bom desconto atualmente por conta da pandemia, com metro quadrado negociado com mais vantagem que comprar fisicamente.
Também são foco os fundos de infraestrutura. “São mercados líquidos com negociação diária, o que facilita a mudança na estratégia quando necessário, rebalanceamento com diversificação e muito prêmio”, explica.
Rendimento das aplicações
Lovisotto pondera: “Existe uma mudança no investimento de maior retorno ao longo do tempo. Ele varia entre bolsa EUA, bolsa Brasil, ouro, dólar, inflação etc. Não existe alocação mágica que sempre dê o retorno perfeito. O ideal é diversificar e rebalancear ao longo do tempo. Isso chama-se alocação dinâmica”, ensina.
Dessa forma, seu fundo busca manter o patrimônio alocado 40% no exterior e 60% no Brasil. Na alocação externa, usa principalmente fundos de investimentos internacionais com gestores nichados, pois permite acessar setores que não existem na bolsa brasileira e grandes empresas de tecnologia. Busca-se um retorno de 6% a 8% ao ano sobre o dólar.
Já na estratégia nacional, ele diz, há aplicação em fundos imobiliários. “Houve uma redução na participação, com a migração dos investidores para outras aplicações. Assim, temos o maior desconto da série histórica e a vacância reduziu o pagamento de dividendos. Isso traz um preço de desconto muito grande com dividend yield em torno de 8 a 9% ao ano”.